SINOPSE: Há dez anos, o “Grande Esfacelamento” causou estragos no mundo e levou ao misterioso surgimento de híbridos: bebês nascidos parte humanos, parte animais. Sem saber se os híbridos são a causa ou o resultado do vírus, muitos humanos os temem e caçam. Após uma década vivendo com segurança em sua casa isolada na floresta, Gus (Christian Convery), um menino-cervo, inesperadamente faz amizade com um viajante solitário chamado Jepperd (Nonso Anozie). Juntos, eles partem em uma aventura extraordinária pelas ruínas da América em busca de respostas: sobre as origens de Gus, o passado de Jepperd e o verdadeiro significado de um lar.
Desde que comecei a ler os quadrinhos de Jeff Lemire, me tornei fã. Sua forma de escrever histórias cheias de mistério e como ele nos envolve em sua narrativa o tornam um dos melhores autores da Nona Arte da atualidade.
Quando fiquei sabendo que “Sweeth Tooth” viraria série, fiquei bastante empolgado em assisti-la, mesmo não tendo lido ainda a HQ homônima. Mas minhas altas expectativas se dão por já ter lido “Black Hammer” e “Gideon Falls” (ainda restando um volume para terminar), que mostram bem o talento de Jeff Lemire. Não à toa esses dois quadrinhos já ganharam o prêmio Eisner, considerado o mais prestigiado do mundo.
E por não ter lido “Sweeth Tooth”, minha análise será somente em cima da série, sem comparações com a HQ, já que não a li ainda.
“Sweeth Tooth” mostra uma mescla entre drama, ficção científica e fantasia, sendo esse último gênero o que mais influencia a narrativa da série. Existe um ar lúdico na forma como a série é conduzida e são vários os elementos que reforçam essa sensação.
Acho que o primeiro aspecto que me deu essa sensação de uma história que relembra os clássicos contos de fadas é a fotografia, com cores vivas e uma iluminação que remete a estarmos vendo um sonho ou criando uma fantasia na nossa mente. Aliado a isso, os cenários, principalmente os que envolvem Gus ou outros híbridos são propositalmente feitos para passarem a sensação de algo feito por e para crianças.
“Sweeth Tooth” não explicita a violência que a história contém. Os Último Homens, um grupo que acredita que os híbridos são responsáveis pelo flagelo, vírus que dizimou 90% da população mundial, caçam, matam e praticam atos hediondos com os mestiços. Um golpe que visa decepar ou causar um ferimento grave não tem sua conclusão mostrada. O sangue é algo visto muito pouco. Ou seja: a violência é sugerida, mas nunca evidenciada de fato.
Mas mesmo sem a violência explícita, “Sweeth Tooth” não é uma história leve. Por mais sugerir que evidenciar, a série deixa que o espectador imagine e crie o senso e a intensidade do senso de perigo e tensão. Exemplos como o que é feito com os híbridos que não são mortos pelo “Últimos Homens” comprovam isso.
Mesmo não lendo a HQ, sei que a série conseguiu captar alguns elementos comuns da escrita de Jeff Lemire. A primeira característica fica por sua capacidade de misturar os gêneros. Em “Sweeth Tooth” temos a fantasia como gênero principal, mas a ficção científica está presente desde o primeiro episódio e no final da primeira temporada, assume os rumos da história.
Outra característica comum aos roteiros de Jeff Lemire é a de revelar os segredos antes do final da história. Em “Sweeth Tooth” o mistério que envolve os pais e a origem de Gus é mostrado no sétimo episódio, mas isso não quer dizer que a trama perca força. Pelo contrário, Lemire consegue manter a atenção do espectador presa, pois ele passa a explorar as consequências dessas revelações.
Mas “Sweeth Tooth” tem alguns problemas como a falta de carisma dos personagens em alguns momentos. Gus, é um garoto-cervo que do nascimento ao seu décimo aniversário só conhecia as redondezas do local isolado onde vivia. Ao se deparar com o mundo fora das cercas, sua ingenuidade se mostra latente. Mas essa ingenuidade, essa pureza do Bico Doce às vezes não convence e parece uma tentativa forçada de mostrar uma pessoa inocente às mazelas da vida.
Esse problema também está presente em Jepperd, mas nesse caso, acredito que é mais culpa do ator. Não quero dizer que Nonso Anozie tenha interpretado mal seu papel, porém sua fisionomia e seu movimento corporal não me passaram a impressão de uma pessoa solitária e que após o “Grande Esfacelamento” cometeu atos hediondos. O Big Man só convence mesmo quando ele mostra seu lado amistoso e carinhoso.
Mas se os protagonistas às vezes forçam a barra, o doutor Aditya Singh (Adeel Akhtar) e Rani Singh (Aliza Vellani) são o ponto alto de “Sweeth Tooth”. O dilema que o médico enfrenta para curar sua esposa do flagelo é muito bem mostrado. Para se criar uma vacina eficaz contra a doença ele precisara cometer atos contra a vida de determinadas pessoas. E nesse ponto reforço a questão de que a violência e o lado sombrio estão presentes, mas sempre sugerido, nunca mostrado de fato.
Outro personagem que me chamou bastante atenção foi o General Abbot (Neil Sandilands), o vilão de “Sweeth Tooth”. Determinado a salvar a humanidade de uma nova onda do flagelo, ele está disposto a fazer o que for preciso para eliminar os responsáveis, segundo ele, pela doença: os híbridos.
A narrativa da série conseguiu prender minha atenção e me deixou curioso para saber o que vem por aí, Porém, espero que o problema do carisma dos protagonistas seja resolvido. Mesmo assim, digo que vale a pena assistir “Sweeth Tooth”
“Sweeth Tooth” termina revelando as origens de Gus e as intenções do General Abbot, mas deixa várias pontas soltas, que devem ser exploradas em uma quase certa segunda temporada: a origem do flagelo, se existe relação entre o vírus e os híbridos, como os híbridos proliferaram pelo planeta, entre outras questões.
“Sweeth Tooth” é uma série de fantasia mas que possui contornos escuros em sua narrativa. Essa escuridão está no medo e ódio dos homens pelos híbridos e de tudo que advém desses sentimentos. Tendo isso em mente, tenho minhas dúvidas se a história terá um final feliz, pois até agora as revelações feitas não trouxeram felicidades para ninguém.
A narrativa da série conseguiu prender minha atenção e me deixou curioso para saber o que vem por aí, Porém, espero que o problema do carisma dos protagonistas seja resolvido. Mesmo assim, digo que vale a pena assistir “Sweeth Tooth”.
Ficha Técnica:
Título Original: Sweet Tooth
Título no Brasil: Sweet Tooth
Gênero: Fantasia, Drama
Temporada: 1ª
Episódios: 8
Criador: Jim Mickle
Produtores: Jim Mickle, Susan Downey, Robert Downey Jr., Amanda Burrell, Linda Moran, Beth Schwartz, Evan Moore, Mel Turner, Christina Ham
Diretor: Jim Mickle, Alexis Ostrander, Toa Fraser, Robyn Grace
Roteiro: Jim Mickle, Beth Schwartz, Michael R. Perry, Justin Boyd, Haley Harris, Christina Ham, Noah Griffith, Daniel Stewart
Elenco: Nonso Anozie, Christian Convery, Adeel Akhtar, Stefania LaVie Owen, Dania Ramirez, Aliza Vellani, James Brolin, Will Forte, Sarah Peirse, Neil Sandilands, Naledi Murray, Amy Seimetz
Companhias Produtoras: Nightshade, Team Downey, DC Entertainment, Warner Bros. Television
Transmissão: Netflix