SINOPSE: Cinco anos após os eventos da primeira temporada, Joel e Ellie vivem em relativa tranquilidade. Porém, quando um evento trágico interrompe a tranquilidade de sua vida, uma Ellie cheia de ódio embarca em uma jornada para Seattle em busca de vingança para fazer justiça. Enquanto ela caça os responsáveis, um por um, ela é confrontada com as consequências físicas e emocionais traumatizantes de suas ações.

Uma observação: quando mencionar “The Last of Us 2”, estarei falando do jogo eletrônico e quando falar “The Last of Us”, estarei mencionando a série.

Após nosso episódio a episódio da segunda temporada de “The Last of Us”, onde falamos do que aconteceu em cada capítulo, chegou a hora de fazermos uma análise desse ano como um todo e falarmos das nossas expectativas para o que pode vir na série.

A expectativa para a segunda temporada de “The Last of Us” era gigantesca, tanto pelo excelente trabalho realizado no primeiro ano como pela história do segundo game da franquia. “The Last of Us 2” trazia uma série de desafios, tanto pela escala maior quanto pela miríade de sentimentos e complexidade que isso produz.

O ponto mais positivo da segunda temporada de “The Last of Us” foi a capacidade de trazer, de forma perfeita, locações, cenários e principalmente, momentos-chaves da narrativa do jogo eletrônico. Locais como partes da cidade Jackson, o metrô, o teatro e a estação e televisão de Seattle, foram construídos em escala real trazendo um sentimento de realidade muito forte.

Mas são os momentos-chaves, que dão todo o sentido para a jornada dos personagens em “The Last of Us 2”, que chamam a atenção na série. O passeio pelo museu, a “viagem” de Ellie à bordo da cápsula espacial, a morte de Joel e a conversa entre ele e Ellie na varanda, foram transportados, às vezes, como algumas mudanças, à perfeição. E isso, além de mostrar um respeito com as pessoas que conhecem a história do game, traduz o compromisso dos responsáveis pela série em adaptar fielmente essa narrativa tão poderosa.

E quando falo de narrativa poderosa, é preciso falar do roteiro da série, que transporta de forma fidedigna o que acontece no jogo eletrônico. E nem poderia ser diferente, já que a história escrita por Neil Druckmann para “The Last of Us 2” é tão boa, que careceu de pouquíssimos acréscimos e ajustes, alguns bons, outros nem tanto; mas já volto a falar disso. Então, situações e principalmente as falas dos personagens são trazidas com todos os acentos, pontos e vírgulas, tamanha é qualidade do roteiro do game.

Uma das principais críticas da primeira temporada, assim como do primeiro jogo, foi a quantidade de confrontos com os infectados pelo Cordyceps. Mas nesse ponto, seus problemas acabaram, pois esses encontros são variados e geram momentos incríveis, como a invasão à Jackson; situações claustrofóbicas, como Abby embaixo da grade e centenas de infectados tentando pegá-la e partes desesperadoras, como Ellie e Dina dentro dos vagões do metrô e uma turba de criaturas entrando por portas, janelas e respiradouros.

Porém, “The Last of Us” não são só elogios e infelizmente é preciso falar dos pontos que na minha opinião, fazem a série não ganhar a nota máxima. Vou começar pelo que talvez incomodou bastante gente, em níveis de incômodos diferentes, que é Ellie, interpretada por Bella Ramsey.

Bella Ramsey já demonstrou que tem talento, desde antes de “The Last of Us”, mas na segunda temporada me pareceu que nos momentos dramáticos, engraçados e até displicentes, a atriz manda muito bem. Mas é justamente em mostrar a sede por sangue, o desejo de vingança desenfreada que Ellie possui, que o bicho pega, ou nesse caso, não pega.

Ellie, quando junto de Joel, engrandece, pois um puxa o outro para cima, pois essa é a dinâmica do jogo eletrônico até a morte dele, acontecendo também na série. Mas em “The Last of Us 2” a ausência de Joel é minimizada pela complexidade de sentimentos que Ellie está sentindo, principalmente dor e raiva. Na segunda temporada, isso não é bem passado e a atriz não transmite com clareza uma pessoa que precisa fazer justiça pela morte daquele que ela adotou como pai.

Mas a culpa não é totalmente de Bella Ramsey, mas do roteiro, que teve a oportunidade de aprofundar esses sentimentos de Ellie, mas ao invés disso, meio que humanizou a personagem, principalmente no último episódio, mostrando que a morte de Owen (Spencer Lord) e Mel (Ariela Berer) foi mais acidental que proposital como no jogo eletrônico.

Para ficar mais claro o que estou dizendo, basta ver quando Abby (Kaitlyn Dever) aparece, na morte de Joel e no encontro com Ellie no teatro. Em ambas as situações, fica muito fácil ver a raiva e sofrimento da personagem em vingar aqueles que foram assassinados.

Outro personagem que me desagradou no começo, mas foi melhorando com o passar dos episódios, foi Dina (Isabela Merced). O amadurecimento de Dina, amenizou os maneirismos e trejeitos forçados do começo da segunda temporada.

E algo que realmente não deu certo é o casal Ellie e Dina. Não existe química entre as personagens na série, o que é um problema, pois mais para frente na história, algumas decisões de Ellie serão impactantes para a vida delas juntas, mas sem essa sintonia entre as personagens, tenho minhas dúvidas desse impacto em “The Last of Us”.

Para encerrar essa resenha quero comentar sobre algumas decisões criativas na série, no que diz respeito a alguns eventos existentes no jogo eletrônico. O primeiro ponto que quero falar é a forma como Ellie descobre que Joel mentiu sobre os Vagalumes não serem capazes de fazer uma cura.

Esse momento é condensado em outros com objetivo de criar uma sucessão de flashbacks entre Ellie e Joel, mostrando como toda a felicidade entre eles virou desconfiança e mágoa. E aqui é onde quero chegar: analisando mais calmamente, acredito que alguns eventos poderiam ter sido mostrados na ordem de revelação do jogo eletrônico.

Assistindo as reações dos momentos-chaves de alguns streamers, gostei de uma expressão para traduzir “The Last of Us 2”: gangorra emocional. A narrativa do game é feita para quebrar suas expectativas e derrubar suas convicções.

Um exemplo disso é quando realmente entendemos porque Ellie não conseguia desistir de sua vingança, quando depois de vinte, trinta horas de jogatina, somos apresentados a cena da varanda, onde Ellie discute sobre a decisão de Joel em salvá-la dos Vagalumes, e ele diz que “se Deus me desse uma segunda chance, eu faria tudo igual”, e ao que Ellie responde que está disposta a tentar perdoar Joel. Esse diálogo acontece na noite anterior à morte de joel. A sequência é claramente uma mensagem: não deixe para perdoar quem ama para depois, pois você pode não ter esse depois. E isso é um verdadeiro soco emocional.

Aliás, o silêncio que fica entre Joel e Ellie depois dele dizer que faria tudo de novo se tivesse uma nova chance, é muito melhor que a explanação que se sucede na cena da série.

Outra situação é a revelação de Abby, logo no segundo episódio, de que Joel matou seu pai. Os criadores disseram que não fariam sentido deixar essa informação mais para frente ou para a próxima temporada, pois os espectadores poderiam ficar boiando. Eu já acho que manter esse segredo, bem como a conversa de Joel e Ellie na varanda para o final, tornaria a série uma verdadeira gangorra emocional.

No game, não entendemos toda a raiva de Abby por Joel, levando-a a matá-lo com requintes de crueldade. Quando ela encontra Ellie no teatro, muitas horas de jogo depois, a tela fica preta, e quando volta, passamos a jogar com Abby. O sentimento de revolta é quase que unânime para quem jogou, pois você não quer jogar com essa “f* da p*” (como eu pensei e provavelmente falei na hora) ao ser obrigado a experimentar a história pela perspectiva dela. Mas ao longo da gameplay com Abby, descobrimos a razão de tanta dor e ódio e novamente somos jogados para o outro espectro emocional.

O que quero dizer com essa longa descrição é que se os responsáveis pela série mantivessem esses dois momentos na ordem cronológica original, criaria essa gangorra emocional que o jogo faz também, manipulando nossos sentimentos e nos cativando tanto. 

Opinião sincera: essas decisões criativas, são para atender uma geração que reclama de séries que liberam episódios por semana e não conseguem esperar e saborear um bom mistério. E se você acha que mistério e episódios semanais não funcionam, “Lost” prova o contrário.

Enfim, depois de tudo isso que disse, eu daria uma nota nove de dez ou quatro estrelas de cinco para essa segunda temporada, por decisões que diminuem personagens importantes, no caso aqui, a Ellie, e enfraquecem um pouco a narrativa, ao revelar situações antecipadamente. Fora isso, “The Last of Us” continua sendo a melhor adaptação de um game para live-action, pela sua qualidade técnica e fidelidade ao material original na maior parte do tempo.

Dessa forma, só posso dizer que vale muito a pena assistir a segunda temporada de “The Last of Us” e por enquanto é a melhor série de 2025!

Ficha Técnica:

Título Original: The Last of Us

Título no Brasil: The Last of Us

Gênero: Drama Pós-Apocalíptico

Temporada:

Episódios: 7

Criadores: Craig Mazin, Neil Druckmann

Produtores: Craig Mazin, Neil Druckmann, Carolyn Strauss, Rose Lam, Evan Wells, Asad Qizilbash, Carter Swan

Diretores: Craig Mazin, Neil Druckmann, Peter Hoar, Jeremy Webb, Liza Johnson, Ali Abbasi

Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann

Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Kaitlyn Dever, Isabela Merced, Jeffrey Wright, Danny Ramirez, Ariela Barer, Tati Gabrielle, Spencer Lord, Catherine O’Hara, Nico Parker, John Hannah, Merle Dandridge, Christopher Heyerdahl, Brendan Fletcher, Anna Torv, Gabriel Luna, Christine Hakim, Nick Offerman, Murray Bartlett, Lamar Johnson, Melanie Lynskey, Keivonn Montreal Woodard, Jeffrey Pierce, John Getz, Rutina Wesley, Graham Greene, Elaine Miles, Storm Reid, Scott Shepherd, Troy Baker, Ashley Johnson, Young Mazino

Companhias Produtoras: The Mighty Mint, Word Games, PlayStation Productions, Naughty Dog, Sony Pictures Television

Transmissão: HBO, Max

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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