A primeira forma de escrita sistematizada da humanidade foi a cuneiforme, desenvolvida pelos sumérios na Mesopotâmia por volta de 3500 a.C. Essa escrita utilizava cunhas (ferramentas em forma de prisma) para gravar símbolos em placas de argila. E com primeira escrita, acredito que houve a primeira leitura, afinal, escrevemos para que outros leiam.
O objetivo dessa primeira escrita e consequentemente, da primeira leitura, pode ter sido muitos, mas gosto de pensar que um deles, era o de trazer felicidade.
E com isso chegamos a título desse artigo informal: Ler…
A reticência é proposital para deixar que você que está lendo complete a frase. Para mim, ler… é felicidade.
Mas essa felicidade demorou um pouco a aflorar, mesmo sendo criado em uma casa de um leitor voraz e colecionador de livros. Esse era meu pai. O senhor Carlos Alberto Moreira dos Santos tinha estantes com enciclopédias Barsa e Mirador, coleções com vários volumes sobre a Segunda Guerra Mundial (que achava espetacular) e outros livros com aquela encadernação antiga, que dava aos livros um ar imponente.
E quando digo que meu pai era um leitor voraz, é porque TODOS os livros que ele possuía (que facilmente passava da centena) foram lidos, mais de uma vez, inclusive as enciclopédias. Algumas vezes, ele passava o dia inteiro, do alvorecer ao anoitecer, lendo.
Dizem que ter pais ou figuras dentro de sua casa que leem, estimula as crianças ao hábito da leitura, porém, não foi o que aconteceu comigo. Mesmo tendo centenas de obras à minha disposição (que eu podia ler, desde que tomasse muito cuidado ao manuseá-las), não me interessava pelos títulos na estante, com exceção da belíssima coleção sobre a Segunda Guerra Mundial.
Essa mudança de uma pessoa que não gostava de ler para um leitor assíduo e colecionador de livros, ocorreu, quando meu pai e eu, esperando para ver o “Programa do Jô” na televisão, acabamos vendo a discussão de algumas pessoas e o apresentador do “Fala Que Eu Te Escuto”, que passava (ou passa) na Record sobre um livro que deturpava todas as crenças estabelecidas sobre Jesus Cristo. A obra em questão era “O Código Da Vinci”, do escritor Dan Brown.
O interesse pelo livro foi mútuo, a princípio para saber se a obra era tão polêmica quanto diziam. Dessa forma, meu pai comprou dois volumes de “O Código Da Vinci” para depois de ler, falássemos sobre. E por algum motivo, a escrita de Dan Brown me pegou de jeito, e me via devorando as páginas, querendo saber o que aconteceria. Lembro-me que terminei o livro em dois dias e durante esse período de tempo, me senti feliz.
Então, comecei a buscar outras obras desse e de outros autores para buscar essa felicidade e quando vi, não conseguia mais parar de ler e com o passar do tempo meu tornei o que meu pai era: um leitor assíduo e um colecionador de livros feliz.
Mas para se tornar um leitor feliz, cujo hábito traz satisfação e o sentimento de tempo bem aproveitado, tenho duas regras: leia o que gosta e leia no seu ritmo.
O Brasil não é um país de leitores, com uma média de um a dois livros por ano, enquanto que em outros países são de sete leituras anuais (França, Estados Unidos e Inglaterra) e podendo chegar a doze obras consumidas por ano em outras nações (Finlândia, Canadá e Coréia do Sul).
Um dos motivos para esse baixo interesse dos brasileiros por leitura passa um pouco por causa da nossa educação escolar, que nos pedem para ler Machado de Assis e outros autores incríveis. O problema, é que boa parte da parcela desses estudantes, e eu me incluo aqui, não tinha idade suficiente para absorver tudo que contém nas páginas complexas e rebuscadas de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”.
Mas culpar somente a escola ou o governo seria simplista demais, pois o brasileiro não gosta de ler, mesmo tendo disponíveis obras que podem lhe interessar. Ler é um hábito, que para se tornar prazeroso precisa de constância e de consumo de algo que nos faça passar um tempo feliz.
Por isso, LEIA O QUE GOSTA, não importa se é um livro de Jack Reacher, “Guerra e Paz”, quadrinho ou mangá. Várias vezes, lendo em algum local público, fui abordado por pessoas que perguntaram se estava estudando ou com algum livro religioso nas mãos. E quando mostrava a capa da obra e permitia que lessem a sinopse, ficavam com cara de “nossa, que perda de tempo”.
Não leia também livros que estão hypando somente para fazer parte das pessoas que estão bombando por terem consumido tal obra. Nada contra ler para estudar ou reforçar sua fé, ler livros de autoajuda (que junto com a romantasia, são os nichos literários que mais crescem no Brasil, ano a ano), ou consumir obras para lhe ensinar a serem bons líderes e estrategistas, desde que seja para que você possa passar alguns minutos ou horas de felicidade.
Então se você estiver lendo um manhwa do “Solo Leveling” e alguém lhe dizer para ler algo que acrescente nos seus estudos ou ler um livro de verdade, simplesmente ignore, pois se você está feliz lendo o protagonista apelão surrando geral os oponentes, então é isso que importa.
A minha segunda regra é leia no seu tempo. Não importa se você ler em um dia ou em um mês, se o resultado for a satisfação de um tempo bem aproveitado, pois é isso que importa na leitura. Recentemente fiquei três meses para ler três volumes de “O Livro Malazano dos Caídos” e passaria mais três meses lendo os demais volumes, pois fiquei imensamente feliz com essas obras nas mãos.
Esse aumento no meu tempo para terminar uma leitura me preocupa às vezes, porque hoje tenho mais livros do que tempo para ler. Mas essa preocupação passa rápido quando penso que além da leitura, adoro ver filmes e séries, ter momentos de jogatina no PC e videogame, e preciso arrumar tempo para todos esses hobbies. Além disso, às vezes, não estou no clima para ler e passo alguns dias sem pegar um livro. E se não for para me divertir, para ficar feliz lendo um livro, melhor esperar e deixar essa vontade avassaladora voltar.
Hoje olho minha linda estante lotada de livros e fico feliz com tudo que já li e com tudo que ainda vou ler. Os autores, os temas e os gêneros são diversos. Como todo leitor, temos nossos preferitis. Um dos meus escritores preferidos é Stephen King, com um espaço especial reservado na minha estante.
Gostar do que temos ou fazemos e paciência são as palavras chaves para se tornar um ótimo leitor. O primeiro motivo é válido para tudo em nossas vidas. O segundo é porque ao estar com um livro em mãos, você passará algumas horas no mundo contido nas páginas da obra, convivendo com as pessoas desse mundo fictício. Em um mundo onde o 5G e mensagens em 2x ou mais, ficar entretido por um período mais longo de tempo pode ser um desafio.
Mas lhe garanto, que esse tempo valerá a pena, pois como diz o filósofo André William Segalla: “Ler é viver mil vidas diferentes em uma única existência”.
Nesse Dia Mundial da Leitura escrevo esse texto, para deixar minha admiração por termos à disposição, milhares de histórias nas páginas dos livros, que podem nos proporcionar o sentimento que o ser humano busca do nascimento até seus últimos dias de vida: felicidade!