SINOPSE: China, Revolução Cultural, final dos anos de 1960: um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros decidem realizar um projeto para se comunicar com possíveis vidas fora da Terra. A decisão tomada por um deles repercute na humanidade após cinquenta anos, ameaçando-a por forças desconhecidas. Agora, eles terão que sobreviver a uma visita inesperada enquanto cientistas do tempo presente tentam desvendar os segredos e mistérios do projeto realizado anos atrás.

Antes de iniciarmos nossa resenha sobre a série é válido falarmos um pouco sobre o escritor chinês Cixin Liu, que acredito não ser tão conhecido do público brasileiro.

Cixin Liu nasceu em 1963 na China, e é o mais prolífico autor de ficção científica do país (segundo a editora Suma). Formado em engenharia pela Universidade do Norte da China, foi engenheiro em uma usina elétrica antes de se tornar escritor. Venceu nove vezes o Prêmio Galaxy, que é o mais importante prêmio chinês de ficção científica. Em 2015 ganhou o prêmio Hugo de Melhor Romance com “O Problema dos Três Corpos”, sendo o primeiro autor asiático a ganhar este prêmio.

Sua bibliografia conta com mais de 20 livros escritos, sendo lançadas aqui no Brasil, a trilogia da Lembrança da Terra do Passado (que consiste nos livros “O Problema dos Três Corpos”, A Floresta Escura” e “O Fim da Morte”), e se depender da editora Suma e do público brasileiro, a última.

Cixin Liu pode ser considerado um escritor de Ficção Científica Hard, que se caracteriza pelo interesse no detalhe ou na precisão científica, tentando criar histórias consistentes ao utilizar a ciência conhecida na época da publicação.

“O Problema dos Três Corpos” teve sua cota de polêmicas em sua estreia por causa do elenco e do ritmo narrativo da série. Por ser uma obra de autoria chinesa, muitas pessoas reclamaram por causa da escalação de um elenco mais multiétnico e não predominantemente ou totalmente chinês ou asiático.

Essa decisão acredito que foi muito mais comercial, como forma de trazer engajamento de outros públicos que não somente os de descendência asiática. Minha opinião nesse ponto é que a mudança por um casting mais variado não afetou a essência da obra original.

Já quanto ao ritmo narrativo, os livros são mais lentos do que o que vimos na série. Como se para mostrar a passagem dos séculos que a trilogia de Cixin Liu se desenrola, temos uma leitura mais cadenciada. Já a produção da Netflix, até pela quantidade de episódios, precisou acelerar a trama.

Resumindo, se esses dois aspectos lhe incomodaram na série da Netflix: o elenco e o ritmo narrativo, aconselho a ficar com a leitura da trilogia ou assistir a adaptação chinesa.

Até um pouco antes de gravar esse episódio, ia dizer que achava que “O Problema dos Três Corpos” não trabalhou os dramas pessoais dos personagens. Mas analisando com mais cuidado, lembro que tais dramas pessoais existem sim, mas não são tão bem desenvolvidos como outras séries. O que quero dizer, é que tal elemento narrativo não é o pilar principal da história, servindo mais como um suporte.

A revolta da dra. Auggie Salazar (Elza González) ao não compactuar com os fins justificarem os meios para salvar a humanidade, a determinação e curiosidade da dra. Jess Hong (Jin Cheng) que parecem extrapolar a ética, são alguns exemplos de dramas pessoais que estão ali, mas não acrescentam muita coisa à narrativa.

Mas existem dois dramas pessoais que a meu ver impactam diretamente a trama. O primeiro é o estopim de toda a história de “O Problema dos Três Corpos”, que é a decisão da jovem Ye Wenjie (Zine Tseng) ao responder uma mensagem dos San-Ti, mesmo eles dizendo para não fazerem isso, para eles virem à Terra pois precisamos ser salvos. Nesse momento, prevalece toda a revolta e tristeza existentes nela, devido a testemunhar a morte do pai durante um evento da Revolução Cultural Chinesa nos anos 1960, por pessoas que o conheciam; e que anos mais tarde ao encontrar um dos carrascos do patriarca Wenjie, perceber que não existe um pingo de remorso por tal ato.

O segundo drama pessoal que posso destacar envolve Will Downing (Alex Sharp) que ao descobrir um câncer incurável, resolve com último ato de amor pela dra. Hong, resolve se encontrar com San-Ti. Essa decisão tem repercussões importantes nos outros dois livros da trilogia de Cixin Liu.

Mas se os dramas pessoais e consequentemente os personagens não são tão interessantes, então, o que sustenta “O Problema dos Três Corpos”? A parte visual, a utilização de forma simples de termos técnicos e físico, e a inevitabilidade do encontro entre os San-Ti e a humanidade.

“O Problema dos Três Corpos” é visualmente incrível, com locações bem escolhidas, figurinos detalhados e um CGI impressionante. Assistindo à série, relembrei de imediato dos eventos mostrados na série e pensei: “foi assim mesmo que imaginei quando li o livro.” Acho que dois momentos mostram o cuidado dos responsáveis com o aspecto visual seriam a sequência onde temos sessenta milhões de soldados mongóis transformados em supercomputador humano, em uma combinação perfeita de pessoas reais, efeitos práticos e especiais; e o outro evento é o sófon se desdobrando para nosso espectro dimensional e ocupando o céu inteiro do planeta.

A parte visual ganha peso quando vem embasada por teorias da ciência. E a forma simples como Cixin Liu as apresenta torna toda a situação da série mais interessante. A forma como é explicado a questão do nosso espectro dimensional através do sófon é de fácil entendimento e demonstra ao mesmo tempo a superioridade tecnológica dos San-Ti.

Outra demonstração prática desse ponto é quando a dra. Jess Hong explica como dentro das nossas limitações tecnológicas é possível lançar um objeto no espaço a uma parte da velocidade da luz.

Você ouviu o termo San-Ti, mas quem ou o que é isso? San-Ti ou Trissolarianos (como chamados nos livros, é a raça alienígena que entra em contato com Ye Wenjie e que resolve vir à Terra e propõe o problema dos Três Corpos para vários cientistas e estudiosos. O problema da vinda deles, é que além deles saberem como os humanos são, é o resultado quando uma espécie ou raça mais evoluída encontra uma menos evoluída.

E a maior demonstração de força tecnológica dos San-Ti é a revelação dos sófons, estruturas menores que um próton, enviadas a velocidade da luz, para barrarem nosso desenvolvimento tecnológico quântico. Os sófons são supercomputadores mais avançados que os San-Ti já criaram, que são decadimensionais, que quando desdobrados para nosso espectro tridimensional, são maiores que nosso planeta.

“O Problema dos Três Corpos” foi renovada, apesar do alto custo: US$ 160 milhões, para mais duas temporadas, sendo que cada uma deve adaptar os dois outros livros da trilogia de Cixin Liu: “A Floresta Sombria” e “O Fim da Morte”. O problema é que os custos devem aumentar, principalmente para retratar os eventos desses livros, já que a história do autor chinês cresce em escala. Se o nível se manter, será interessante ver a explosão de uma bomba bidimensional.

Vi muitas críticas dizendo que “O Problema dos Três Corpos” não adapta fielmente a obra de Cixin Liu, mas na minha opinião, todos os eventos importantes do primeiro livro são retratados de forma bem fidedigna.

Gostei do que vi e estou ansioso pelas demais temporadas dessa série. e pela diversão que me proporcionou, digo que vale muito a pena assistir “O Problema dos Três Corpos”!

Ficha Técnica:

Título Original: 3 Body Problem

Título no Brasil: O Problema dos Três Corpos

Gênero: Ficção Científica

Temporada:

Episódios: 8

Criadores: David Benioff, DB Branco, Alexandre Woo

Produtores: Steve Kullback, Hameed Shaukat

Diretores: Derek Tsang, André Stanton, Minkie Spiro, Jeremy Podeswa

Roteiro: David Benioff, DB Branco, Alexandre Woo, Rosa Cartwright, Madhuri Shekar

Elenco:                 Jovan Adepo, João Bradley, Rosalind Chao, Liam Cunningham, Eiza Gonzalez, Jess Hong, Marlo Kelly, Alex Afiado, Shimooka do mar, Zine Tseng, Saamer Usmani, Bento Wong, Jonathan Pryce

Companhias Produtoras: BLB, The Three Body Universe, T-Street, Plan B Entertainment, Primitive Streak

Transmissão: Netflix

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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