SINOPSE: Na Alemanha do século XIX, o rico e misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgård) busca por um novo lar. O vendedor de imóveis Thomas Hutter (Nicholas Hoult) fica responsável por conduzir os negócios de Orlok e, então, viaja para as montanhas da Transilvânia para prosseguir com as burocracias da nova propriedade do nobre. O que Thomas não esperava era encontrar o mal encarnado. Longe dali, Ellen (Lily-Rose Depp) é continuamente perturbada por sonhos assustadores que se conectam com o suposto homem que Thomas encontrará e que vive sozinho num castelo em ruínas nos Cárpatos. A estranha relação entre Ellen e a criatura a fará sucumbir a algo sombrio e tenebroso?
Robert Eggers surgiu para o cinema mundial em 2015, com “A Bruxa”. O filme foi uma aposta para o diretor e para a A24, que resolveu distribuí-lo mundialmente. A produção recebeu muitas críticas negativas por parte dos aficionados de terror, pois esperavam uma história mais assustadora e o que assistiram foi algo novo dentro do gênero.
A história segue uma família puritana que resolve cortar os laços com a comunidade e viver em uma casa no meio da floresta. Chegando lá, eles são assolados por uma maligna que quer acabar com a fé, a sanidade e a vida deles.
“A Bruxa” se mostrou como algo novo no cinema de terror ao fugir das trivialidades do gênero, como jump scares e criaturas grotescas, e criar desconforto nos espectadores ao trazer um desolado e um tom opressor. Essa novidade foi algo tão positivo para mim, que lembro ter escolhido o filme como o melhor de terror de 2015.
Após isso, Robert Eggers trouxe outros filmes, sempre subvertendo os gêneros que resolveu explorar nos cinemas, Foi assim com “O Farol” e “O Homem do Norte”. Muitos outros diretores e roteiristas exploraram essa vertente originada à partir “A Bruxa”, mas acho Robert Eggers o nome mais proeminente desse movimento e do terror como um todo.
Infelizmente, ainda não temos uma resenha sobre “A Bruxa”, mas se você ficou curioso em conhecer os outros trabalhos do diretor Robert Eggers, só clicar nos links abaixo.
No início desse ano, estreou “Nosferatu”, novo trabalho do diretor Robert Eggers. O filme já nasceu cheio de expectativas por ser uma reimaginação do clássico de 1922. Mas antes de falarmos do filme de Robert Eggers, você conhece a história de “Nosferatu” de 1922?
Friedrich Wilhelm Murnau queria levar para os cinemas “Drácula” de Bram Stoker, mas por problemas autorais, o diretor mudou o nome do vampiro para Conde Orlok, bem como os de outros personagens do livro. E tirando o fato de mudar a Inglaterra pela Alemanha, Friedrich Wilhelm Murnau manteve grande parte do enredo do livro e muitas das ideias originais, como o castelo antigo e em ruínas nos Cárpatos e um vampiro viajando de navio para uma nova casa.
Mas nem tudo é “copia, mas não faz igual” na história de “Nosferatu” de 1922, e as diferenças estão justamente em relação aos monstros. Enquanto Conde Drácula costuma ser representado por um homem de boa aparência e educado, Conde Orlok é uma criatura repulsiva. Na obra original de Stoker, o vampiro pode ser exposto ao Sol, embora isso enfraqueça seus poderes, e no caso de Orlok, ele morre se receber os raios solares. E quanto à sede de sangue, Drácula costuma transformar suas vítimas, e Orlok mata a maioria das suas presas.
Depois desse resumo necessário, podemos dizer que “Nosferatu” de Robert Eggers mantém a ambientação do terror gótico que o material original possui, mas transforma essa história em algo mais autoral.
Quando digo que esse “Nosferatu” tem seu quê de autoral em relação ao diretor, é porque apesar de ter todas as características de um terror gótico, o filme é conduzido de forma que é difícil classifica-lo com terror, como em “A Bruxa” e “O Farol”.
Algo que me chama bastante a atenção nos trabalhos do diretor é que quando analisamos os filmes dele, percebo que os tons narrativos diferem. Em “A Bruxa” somos arremetidos pelo inóspito e opressivo. Em “O Farol”, ele acrescenta além do que falei anteriormente, sensações claustrofóbicas e horror cósmico. “O Homem do Norte” é um épico com toques de fantástico bem interessante.
Em “Nosferatu”, temos por incrível que pareça, uma leveza maior que nos outros filmes de Robert Eggers. Falo isso, pois nas produções citadas anteriormente existe uma narrativa densa e cadenciada, que por mais que seja instigante, pode ser cansativa em alguns momentos, principalmente em “o Farol”.
“Nosferatu” continua sendo uma história densa, como um terror gótico costuma ser, mas seu ritmo narrativo bem cadenciado faz com que as duas horas de exibição sejam prazerosas.
Falando um pouco da parte técnica, “Nosferatu” surpreende pela sua qualidade, com destaque para sua estética única e o jogo bem conduzido de luz e sombra. Além disso, as locações e cenários, maquiagem e figurino, fazem da fotografia desse filme algo espetacular, lhe rendendo o prêmio de Melhor Fotografia no Critics Choice Awards 2025, e quatro indicações ao Oscar desse ano: Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Penteado, Melhor Design de Produção, .
Esse prêmio e essas indicações são uma resposta ao trabalho que Eggers já vem fazendo desde “O Homem do Norte” que possui uma fotografia tão espetacular quanto a de “Nosferatu”.
Além dos aspectos técnicos incríveis que mencionei, “Nosferatu” surpreende pela forma como aborda a história de Conde Orlok.
A origem do Conde Orlok é bem interessante e se distancia muito do Conde Drácula. Não vou dizer como surgiu essa criatura imortal, mas reforça minha sensação de que a fantasia inspirou muito nesse ponto.
Já a aparência de Orlok, é na minha opinião, cem por cento uma releitura quando comparamos com o filme de 1922. Apesar de ver alguns especialistas de cinema dizendo que é uma homenagem ao vampiro de orelhas pontudas, não consegui em nenhum momento associá-lo ao visual clássico. Pelo contrário, sua aparência faz jus ao que o Conde realmente é e se distancia novamente de Drácula e o Nosferatu vivido pelo ator Max Schreck.
E para dar vida ao Conde Orlok de “Nosferatu”, um especialista em interpretar personagens estranhos: Bill Skarsgård. Seu trabalho de interpretação que envolve sua forma de se mover e falar, juntamente com a fantástica maquiagem utilizada, criam uma criatura única e aterrorizante e que entra no hall grande monstros do cinema. Me atrevo a dizer que esse Conde Orlok é melhor que o do filme de 1922.
Não me surpreende “Nosferatu” ter sido indicado somente à prêmios técnicos, todas merecidas, diga-se de passagem, porém Bill Skarsgård não concorrer a Melhor Ator, e o filme não estar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor, só reforça algo que já sabemos: o preconceito da Academia com os longas-metragens de terror.
Bom, falando das demais atuações, todos os atores e atrizes estão muito bem em seus papéis, destacando-se a atriz Lily-Rose Depp, que interpreta Ellen Hutter, a prometida de Conde Orlok. Sua interpretação, revela uma pessoa atormentada por uma força insidiosa e maligna, que mina todas as suas forças físicas e mentais.
Nicholas Hoult e o favorito de Eggers: Willem Dafoe, completam esse elenco fantástico, entregando atuações convincentes que só engrandecem ainda mais o filme.
“Nosferatu” já vinha sendo indicado como um dos melhores filmes de 2025, desde o seu anúncio, em 2024. E essa expectativa se mostrou uma certeza, mostrando que o sarrafo para melhores desse ano está bem alto. E como “O Homem do Norte”, deve figurar no Top 3 do Cinemaníacos, a não ser que venham produções tão ou mais espetaculares que ele.
Para finalizar essa resenha, vou escrever o que minha esposa e eu dissemos ao terminarmos de ver esse filme: isso é cinema! Logo, só posso dizer que vale muito, mais muito a pena assistir “Noasferatu”!
Ficha Técnica:
Título Original: Nosferatu
Título no Brasil: Nosferatu
Gênero: Terror Gótico
Duração: 132 minutos
Diretor: Robert Eggers
Produção: Jeff Robinov, John Graham, Chris Columbus, Eleanor Columbus, Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers
Elenco: Bill Skarsgård, Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult, Emma Corrin, Aaron Taylor-Johnson, Simon McBurney, Ralph Ineson, Willem Dafoe
Companhias Produtoras: Regency Enterprises, Studio 8, Square Peg, 1492 Pictures
Distribuição: Universal Pictures