SINOPSE: A história da família Turner atinge uma conclusão épica e emocional nesta última temporada da série. A guerra entre Leanne (Nell Tiger Free) e a Igreja dos Santos Menores intensifica-se, ameaçando tudo em seu redor, incluindo a cidade de Filadélfia e mais além. Entretanto, a despedaçada família Turner tem de lidar com essa ameaça, entre outros problemas. A casa dos Turner continua a desmoronar e duas questões terão, finalmente, uma resposta: quem é Leanne Grayson e quem é a criança na casa deles?
Não é segredo que sou fã de M. Night Shyamalan, considerando-o um dos melhores diretores e contadores de história da indústria cinematográfica. Quando analiso seus trabalhos, vejo mais acertos do que erros. E mesmo nas produções que deram errado, visualizo pontos positivos.
“Servant” é a primeira produção seriada de Shyamalan. E mesmo que ele não esteja no papel de diretor, mas de produtor, é visível a sua influência nos mais variados aspectos técnicos da série.
Desde seu início, “Servant” apresenta um clima de mistério que é a cara de outros trabalhos de Shyamalan. Na série, temos duas grandes perguntas que precisam ser respondidas: quem ou o que é Leanne Grayson e a criança na casa deles? Mistérios esses, que se arrastam por quatro temporadas.
Quando digo “arrastam”, entenda essa palavra no sentido literal, pois os responsáveis pela série prolongaram ao máximo a resolução dos mistérios de “Servant”. E ao contrário do que estou acostumado a ver, essa decisão partiu do próprio Shyamalan e do criador Tony Basgallop, que queriam cinco temporadas. Coube então a Apple TV+ determinar o encerramento da série na quarta temporada. Mas esse assunto é para ser discutido outro dia.
O primeiro episódio da quarta temporada mostra que a Igreja dos Santos Menores cansou de esperar e resolve agir para levar Leanne de volta para a seita ou matá-la. Do outro lado, temos Leanne cada vez mais consciente do que ela realmente é, ou acha que é (guarde essa informação, pois voltaremos a falar dela). E no meio desse confronto, temos a família Turner completamente a mercê dos mandos e desmandos de Leanne.
A forma como a dinâmica Leanne / Família Turner / Igreja dos Santos Menores é trabalhada nessa temporada, a torna a mais ágil e caótica de todas, algo ausente ou apenas sugerido nos anos anteriores da série. Dessa forma, é imprescindível que você com o máximo de atenção, pois acontece muita coisa em cada episódio desse capítulo final. Mas da minha parte, admito que foi muito difícil me distrair com outras coisas enquanto assistia a última temporada de “Servant”.
Desde o início “Servant” flerta com a ideia de que Leanne é mais que uma adolescente, mas alguém ou algo com dons divinos ou demoníacos. A transformação do boneco terapêutico em Jericho, filho falecido dos Turner, já coloca essa pulga atrás de nossas orelhas. Ao longo das temporadas vemos acontecimentos que parecem ter relação com os poderes de Leanne.
Porém, a temporada final de “Servant” brincou com suas convicções como nenhuma outra, construindo e desconstruindo, até o último episódio, minhas ideias sobre a natureza de Leanne. Os eventos sobrenaturais e as catástrofes que parecem ter saído da Bíblia, são refutados por circunstâncias e fatores racionais. Citando alguns exemplos (e spoilers) do que estou falando, temos o ataque dos pombos aos membros da Igreja do Santo Menor, que podem ter sido atraídos pelos pães caídos na rua ou o afundamento da rua que pode ser consequência dos túneis velhos que existem abaixo dela e cederam.
Dessa forma, toda essa aura sobrenatural criada em torno de Leanne chega ao ápice na quarta temporada, mas ao mesmo tempo temos esse conceito sendo questionado constantemente ao longo dos episódios. E se no final de “Servant” houver uma reviravolta em relação ao que você pensa, não se surpreenda, afinal a trama da série tem influência direta de M. Night Shyamalan, que costuma entregar plot twists incríveis.
Essa dubiedade narrativa apresentada na temporada final é tão bem desenvolvida que, apesar de gostar da resolução para os mistérios envolvendo Leanne e Jericho, se a série seguisse pelo outro desfecho, teria aceitado tão bem quanto.
Mas se por um lado temos essa brincadeira sobre o que é ou não em relação a Leanne, por outro, temos uma constante: a crença dos personagens e como isso dá poder para aquilo que acreditam.
A Igreja dos Santos Menores e os moradores de rua acreditam que Leanne é algo mais que uma pessoa. Essa crença faz com que Leanne se convença de que possui poderes. Assim, os membros da Igreja dos Santos Menores e os moradores de rua são controlados por Leanne, que é controlada por sua convicção de que é um ser dotado de poderes.
Mas o maior exemplo desse controle pela crença atende pelo nome de Doroty Turner. Por mais que ela deseje se livrar de Leanne, sua crença de que seu filho, Jericho, retornou à vida graças a babá, permite que seja dominada. Aliás um dos momentos mais esperados de “Servant” finalmente acontece, que é quando Doroty se lembra da morte de Jericho e qual sua responsabilidade nisso.
Saindo um pouco da narrativa, é preciso destacar que de todas as temporadas, o ano final de “Servant” é o que melhor trabalha os aspectos técnicos.
O roteiro, é ágil e desenvolve muito bem os elementos necessários para que o final dessa história fosse tensa e caótica, como a série vinha desenhando desde o início. Estranheza é outro adjetivo destacado na temporada final de “Servant”. E além do roteiro que contribui para isso, os ângulos e as formas como algumas cenas e sequências são filmadas reforçam essa sensação de que o normal ficou do lado de fora da casa dos Turners.
Mas o que me chamou a atenção desde a primeira temporada de “Servant”, são as atuações de Lauren Ambrose e Nell Tiger Free, que interpretam Doroty e Leanne, respectivamente. O show sempre foi delas, mas no ano final da série, o palco é completamente das duas.
Lembra que falei de estranheza e anormalidades? Saiba que Doroty e Leanne conseguem saturar, de forma positiva, esses sentimentos. Doroty continua sendo uma mulher alienada e que acha que o mundo precisa se ajoelhar para ela. Leanne assume um papel de sociopata que quando se irrita, parece causar eventos como ruas que afundam e ataques de percevejos.
Mas mesmos as duas personagens principais sendo pessoas falhas, é difícil não gostar delas. Doroty é a madame rica, que continua irritante a ponto de querermos ver mais de seus devaneios e excentricidades. Leanne é a babá louca / sobrenatural que nos solidarizamos por sua infância conturbada e cercada de pessoas abusivas.
Com duas personagens incríveis e com ares que me lembraram muito “Misery” e “O Bebê de Rosemary”, temos a relação de Doroty e Leanne sendo explorada ao máximo na temporada final.
Um dos grandes problemas das séries é conseguir dar um encerramento satisfatório para suas histórias. Exemplos disso não faltam. Porém “Servant”, mesmo com os deslizes e morosidade existentes nos segundo e terceiro anos, entrega uma temporada final excelente; com um desfecho mostrando a redenção de Leanne e Doroty e, ao melhor estilo M. Night Shyamalan, mostrando que o fim não é bem o fim.
“Servant” encerra sua história entregando tudo que esperava dela: tensão, caos e estranheza; em um ritmo ágil e envolvente. Por esses motivos, digo que vale muito a pena assistir a quarta e última temporada de “Servant”!
Ficha Técnica:
Título Original: Servant
Título no Brasil: Servant
Gênero: Terror Psicológico, Drama
Temporadas: 4ª
Episódios: 10
Criadores: Tony Basgallop
Produtores: Tony Basgallop, M. Night Shyamalan, Ashwin Rajan, Jason Blumenthal, Todd Black, Steve Tisch
Diretores: Dylan Holmes Williams, Kitty Green, Ishana Night Shyamalan, Dylan Holmes Williams, Carlo Mirabella-Davis, Celine Held, Logan George, Nimród Antal, M. Night Shyamalan, Veronika Franz, Severin Fiala
Elenco: Lauren Ambrose, Toby Kebbell, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Jack e James Hoogerwerff, Phillip James Brannon, Tony Revolori, Boris McGiver, Todd Waring, Alison Elliott, Victoria Cartagena, Billy Vargus, Katie Lee Hill, Mathilde Dehaye, Mac Rop, Barbara Kingsley, Denny Dillon,
Companhias Produtoras: Blinding Edge Pictures, Escape Artists, Dolphin Black Productions
Transmissão: Apple TV+