SINOPSE: Uma jovem que está lutando contra o vício acaba encontrando uma caixa de quebra-cabeças sem saber que, na verdade, estaria convocando criaturas demoníacas de outra dimensão que são uma grande ameaça aos humanos.
Clive Barker é um escritor, cineasta, roteirista, ator, produtor de cinema, artista plástico e dramaturgo inglês. Nos 1980 sua carteira decolou graças aos “Livros de Sangue”, uma coletânea de contos de horror, consagrando-o como um escritor do gênero.
Como outros escritores de terror, as obras de Clive Barker logo ganharam os cinemas, alçando o escritor como um dos mais proeminentes nesse gênero cinematográfico, sendo “Candyman” e “O Último Trem”, alguns exemplos de adaptação.
Em 1987, Clive Barker, adaptou para as telonas “Hellraiser”, livro de sua autoria. Responsável pela direção, roteiro e produção, o filme eternizou Pinhead e os Cenobitas no hall da criaturas icônicas do cinema de terror.
“Hellraiser” se tornou uma franquia cinematográfica de terror popular e elogiada, graças aos dois primeiros filmes, que são excelentes. O terceiro longa-metragem mesmo sendo inferior aos antecessores me agrada e o quarto é interessante por apresentar a origem da Configuração dos Lamentos. Porém, as sequências após o quarto filme são bem inferiores e só serviram para deteriorar a franquia.
Mas em 2021, os direitos da franquia retornaram para seu criador, Clive Barker. Prometendo resgatar o brilho (ou seria escuridão?) de Pinhead e Cia., o escritor fez parceiria com a plataforma Hulu, e ano passado lançou “Hellraiser”.
“Hellraiser” de 2022 é um reboot da franquia. Essa decisão de reiniciar a história faz sentido pois afasta esse novo filme das sequências anteriores ruins e utiliza os elementos dos longa-metragens que deram muito certo.
Dito isso, “Hellraiser” baseia sua narrativa em elementos e na mitologia do filme de 1987 e de “Hellbound” (ou “Hellraiser II”), se assemelhando bastante com o que fizeram com o reboot de “Evil Dead”.
A primeira coisa que gostei nesse reboot é a repaginada que deram na Configuração dos Lamentos.
A caixa nesse filme não é apenas um objeto que abre portais para os desavisados que buscam “prazeres” além da compreensão humana, mas um artefato que invoca o próprio Leviatã, Senhor dos Labirintos e deus dos cenobitas.
A caixa em “Hellraiser” de 2022 possui seis configurações e quem portar o artefato em sua forma final poderá pedir a Leviatã um desejo que tenha relação com vida, conhecimento, amor, sensações, ressurreição ou poder. E para cada etapa da Configuração dos Lamentos é necessário um sacrifício de sangue e dor.
O próprio Leviatã ganha uma importância maior no reboot. Em “Hellbound”, o Senhor dos Labirintos aparece flutuando no meio da sua dimensão, mas simplesmente ignora quem adentra seu reino. No filme de 2022, esse ser por ser invocado, acaba interagindo com aquele que busca ser atendido por ele.
Agora, se a Configuração dos Lamentos e o próprio Leviatã ganharam uma roupagem narrativa que lhes deu mais dinamismo, os cenobitas perderam terreno quando os comparo com o que vi nos filmes originais.
Os cenobitas nos dois primeiros filmes da franquia eram seres mais ativos e em especial Pinhead, o líder deles. Suas interações com suas vítimas eram instigantes e assustadoras, fossem por falas, tais como ” Anjos para uns, demônios para outros.” ou por zombar, em uma igreja católica, da crucificação de Jesus, enfiando em suas mãos, pregos retirados da própria cabeça.
Nesse reboot, os cenobitas atacam os humanos quando a Configuração dos Lamentos é acionada, mas suas interações são menos intrusivas e impactantes. Mesmo no terço final, quando esses seres estão mais presentes em tela, senti falta do perigo e incômodo que eles transmitem nos filmes originais.
Quanto ao visual, os cenobitas do reboot não devem em nada ao que vi nos filmes originais, sendo suas roupas o que mais me chamaram atenção. Se em “Hellraiser” de 1987 temos couro costurado ou trespassando a pele desses seres e aqui, é a propria epiderme que foi cortada, escavada e arrancada para criar os modelitos.
“Hellraiser” de 2022 também se perde ao querer se distanciar do tom sombrio e opressivo do filme original. Se o longa-metragem de 1987 causa incômodo e repulsa, o reboot usa um gore mais suavizado que tira um pouco do impacto quando os cenobitas entram em ação.
Que fique claro, não sou fã e evito assitir a filmes gore, mas no caso de “Hellraiser” faz-se necessário as correntes com ganchos rasgando pele e músculos, causando mutilações severas.
Além disso, “Hellraiser” de 2022 não consegue engajar o espectador ao utilizar o clichê da heroína não confiável de forma rasa. Seus dramas não criam a empatia necessária para nos importarmos com a protagonista. Como a Configuração dos Lamentos, ela é um objeto para mover a trama, mas menos interessante que a caixa de Le Merchant.
O desfecho do filme é um pouco anticlímax, pois parece colocar sentimentos que não se encaixam nos cenobitas, que são criaturas que se regozijam com a dor extrema dos humanos. Mas nem tudo está perdido, pois no final, fazendo referência a “Hellbound”, vemos como “nascem” os cenobitas.
Esse reboot é aceitável, pois mais acertou do que errou em seu objetivo de revitalizar a franquia, satisfazendo os fãs dela e a apresentando ao um novo público amante de terror. Além disso, deixou um caminho a ser explorado que pode ser interessante, caso novos filmes venham a ser produzidos.
Então, por apresentar os elementos que fizeram dessa franquia um sucesso para os fãs de terror e por atiçar a curiosidade com o que pode vir no futuro, que digo que vale a pena assistir “Hellraiser” de 2022!
Ficha Técnica:
Título Original: Hellraiser
Título no Brasil: Hellraiser: Renascido do Inferno
Gênero: Terror
Duração: 121 minutos
Diretor: David Bruckner
Produção: David S. Goyer, Keith Levine, Clive Barker, Marc Toberoff
Roteiro: Ben Collins, Lucas Piotrowski
Elenco: Odessa A’zion, Jamie Clayton, Adam Faison, Drew Starkey, Brandon Flynn, Aoife Hinds, Jason Liles, Yinka Olorunnife, Selina Lo, Zachary Hing, Kit Clarke, Goran Višnjić, Hiam Abbass, Gorica Regodić, Vukašin Jovanović
Companhias Produtoras: Spyglass Media Group, Phantom Four Films, 20th Century Studios, 247Hub
Distribuição: Hulu