SINOPSE: Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é  uma sobrecarregada imigrante chinesa  que luta para manter sua lavanderia à beira do fracasso, seu casamento com o marido covarde em ruínas, ainda ter que lidar com um relacionamento ruim com seu pai crítico e sua filha (Stephanie Hsu). E, como se não bastasse, Evelyn precisa se preparar para uma reunião desagradável com uma burocrata impessoal: Deirdre (Jamie Lee Curtis), a auditora da Receita Federal. No entanto, à medida que a agente severa perde a paciência, uma inexplicável fenda no multiverso se abre, e se torna uma possibilidade para a exploração reveladora de realidades paralelas. Evelyn parte rumo a uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo e impedir que uma entidade maligna destrua as finas e incontáveis ​​camadas do mundo invisível. Explorando outros universos e outras vidas que poderia ter vivido, as coisas se complicam ainda mais, quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa.

Começo essa resenha falando da A24, um estúdio de cinema estadunidense fundado em 2012 e que produz filmes e séries com propostas diferenciadas. Meu primeiro contato com uma produção da A24 foi com “A Bruxa”, um longa-metragem com uma narrativa que destoava de tudo o que tinha visto de terror até então, e que se tornou um dos meus filmes preferidos do gênero.

A partir “A Bruxa”, passei a consumir as produções cinematográficas que têm a chancela de A24, na expectativa de ser surpreendido e arrebatado por elas. E com pouquíssimas exceções, sempre fiquei com o sentimento de satisfação ao terminar de ver os filmes do estúdio. Citando alguns ótimos exemplos de longas-metragens que atestam o que disse acima estão: “Hereditário”, “Midsommar”, “O Homem Duplicado”, “Minari”, “Moonlight”, “O Farol”, “Pearl”, “O Quarto de Jack” e “O Cavaleiro Verde”.

As produções da A24 serem indicadas e ganharem as principais premiações do cinema, não é novidade, mas nenhum outro filme do estúdio chegou com tanto favoritismo ao Oscar, principal premiação cinematográfica, quanto “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.

Mas o que faz de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” ser tão especial? Como um filme de comédia pode ter conseguido arrebatar tanto o público em geral, a crítica especializada e os votantes da principais premiações de cinema?

Você não leu errado: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é um filme de comédia em sua predominância. Mas como o próprio título do filme, há espaço para todos os tipos de comédia, da romântica ao besteirol americano, bem como para vários outros gêneros: ficção-científica, artes márcias e drama.

E aqui acho que é o primeiro ponto que faz de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” um filme diferenciado e interessante, pois mesmo sendo uma produção de comédia, há espaço para vários gêneros serem mostrados, todos na medida certa: vamos do “Rato Toni” a lutadores marciais empalados com objetos incomuns, passando por teorias multiversais estapafúrdias a problemas familiares reais e consistentes.

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” já começa a um milhão de quilômetros por hora, mostrando Evelyn Wang tendo que lidar com todos os problemas de sua vida pessoal, familiar e profissional ao mesmo tempo. Então não fique preocupado se ficar perdido e desorientado, pois essa é a intenção dessa parte do longa-metragem, intitulada “Tudo”. A palavra que define esse primeiro ato do filme é velocidade: diálogos e cortes de câmeras insanos e muita, mas muita coisa acontecendo ao mesmo tempo em um take.

O objetivo dessa insanidade é mostrar a confusão que a vida de Evelyn se transformou, achando que somente ela consegue resolver todos os problemas que cercam ela e sua família. E como se não bastasse ter que lidar com um casamento à beira da ruína, uma filha a qual não compreende, um pai chinês tradicional e a beira da falência; é jogada em uma conspiração multiversal que pode destruir todas as realidades existente.

Não deixo de pensar que aqui os responsáveis pelo filme quiseram através da comédia e da ficção-científica mostrar a realidade muitas pessoas, que independentemente de gênero e raça, têm uma vida atabalhoada e acham que somente elas podem resolver todos os problemas; e que ficam mais desesperadas e perdidas ainda quando uma nova situação surge para bagunçar mais seu cotidiano já conturbado.

O segundo ato do filme, intitulado “Em Todo Lugar”, mostra Evelyn vendo suas inúmeras versões através de várias realidades, mostrando o que ela poderia ter sido dependendo das escolhas que ela tomou ou deixou de tomar ao longo de sua vida. Mais uma vez, penso que aqui a ideia é mostrar como nós acabamos fazendo o exercício mental de onde estaríamos e o que seríamos caso tivéssemos decidido por A ou B, ou C, ou D, ou E… bom você entendeu né. Hahahahahahaha.

Quanto ao terceiro ato de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, vou falar mais dele para quando for encerrar essa resenha. Antes preciso falar de alguns aspectos técnicos que me chamaram a atenção e respondem porque o filme é tão especial e tem conseguido agradar a gregos e troianos.

Não sou um especialista de cinema e seus aspectos técnicos, mas vendo um vídeo sobre o filme em um canal do YouTube, um argumento me chamou atenção: que a montagem de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” deve faturar fácil o Oscar nessa categoria.

Então fui ler mais sobre montagem cinematográfica e resumidamente esse aspecto técnico significa:

“A Montagem (ou Edição) é quando se constrói, de fato, a narrativa cinematográfica, selecionando e unindo as cenas filmadas na sequência desejada para exibição. Não se trata meramente de um trabalho técnico de “colar partes” de um filme, mas de pensar criativamente a construção de sentidos pela imagem. Dessa forma, a montagem consiste na criação de relações entre os planos.

Depois de ter pesquisado sobre montagem (ou edição), minha cabeça explodiu quando penso no trabalho filho da p*** que “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” representou para chegar ao nível de excelência que vi.

O filme nesse aspecto é espetacular e está cheio de ótimos exemplos, mas acho que o maior deles é quando a tela se divide em duas, e temos de um lado Evelyn falando com a auditora fiscal sobre suas contas e do outro lado nossa protagonista falando com uma versão paralela do seu marido sobre seu papel na salvação do multiverso.

O roteiro é ágil e insano como todo o resto do filme e com bom humor, parodia diversas situações, principalmente as que envolve o multiverso. Os gatilhos necessários para acessar outras versões dos personagens são hilárias e em alguns momentos, nojentas e absurdas. As explicações de como as realidades funcionam e se conectam são mostradas de forma confusa. O objetivo é claro: o multiverso de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” não deve ser levado tão a sério. O resultado de toda essa irreverência é que vi o melhor multiverso dos cinemas até hoje (chupa Marvel!).

Com uma espetacular e insana montagem e um roteiro que acompanha essa loucura toda, o trabalho do elenco poderia ir por água abaixo, devido ao nível de exigência. Mas o que vi, foram atores e atrizes seguros e confortáveis em seus personagens, fechando assim a terceira perna do tripé que consolida a excelência de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.

James Hong faz parte da minha infância, pois lembro do ator interpretando David Lo Pan em “Os Aventureiros do Bairro Proibido”. Jamie Lee Curtis está muito bem e mostra que assim como o terror, a comédia é sua praia. A jovem Stephanie Hsu, mostra que tem um futuro promissor como atriz.

Mas é claro que minhas palmas vão para Ke Huy Quan e Michelle Yeoh. Com uma gama incrível de camadas e sentimentos, seus personagens nos conquistam desde o primeiro minuto que aparecem. E esse carisma só é possível graças à atuação incrível de ambos os atores.

Acredito que me prolonguei um pouco demais na resenha, mas foi necessário e agora posso falar do último ato do longa-metragem, intitulado “Ao Mesmo Tempo”, com segurança. O terço final consegue finalizar a contento a parte de ficção-científica e comédia que permeiam o filme. Mas o drama é outro gênero que está presente ao longo de toda a narrativa, e com outra virada incrível, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, foi impossível meus olhos não se encherem de lágrimas e terminar de ver essa história com um sorriso no rosto.

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” faturou vários prêmios importantes e deve ganhar o Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz, coroando o excelente trabalho de Ke Huy Quan e Michelle Yeoh; Melhor Montagem (Edição) e Melhor Filme.

Muito se fala do Oscar, ser uma premiação comercial. E por isso mesmo que “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” precisa ganhar várias estatuetas nessa premiação, e principalmente a de Melhor Filme, pois comprovaria minha teoria que ótimas histórias podem ser feitas, do ponto de vista comercial também, com um baixo orçamento para os padrões de Hollywood (US$ 25 milhões).

Dito tudo isso, é claro que vale muito a pena assistir “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”! E por ter assistido ao filme somente esse ano, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” tem tudo para estar no Top 3 de Melhores Filmes de 2023 do Cinemaníacos!

Ficha Técnica:

Título Original: Everything Everywhere All at Once

Título no Brasil: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Gênero: Comédia

Duração: 139 minutos

Diretor: Daniel Kwan, Daniel Scheinert

Produção: Anthony Russo, Joe Russo, Mike Larocca, Daniel Kwan, Daniel Scheinert, Jonathan Wang, Peter Tam Lee

Roteiro: Daniel Kwan, Daniel Scheinert

Elenco: Michelle Yeoh, Stephanie Hsu, Ke Huy Quan, Jenny Slate,Harry Shum Jr., James Hong, Jamie Lee Curtis, Tallie Medel, Biff Wiff, Sunita Mani, Aaron Lazar, Michiko Nishiwaki

Companhias Produtoras: IAC Films, Gozie AGBO, Year of the Rat, Ley Line Entertainment

Distribuição: A24

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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