SINOPSE: Baseado no livro “O Chalé no Fim do Mundo”, “Batem à Porta” mostra o casal Eric (Ben Aldrige) e Andrew (Jonathan Groff) de férias com sua filha Wen (Kristen Cui) em uma cabana isolada no campo. Enquanto brincava na floresta, a pequena Wen conhece o educado Leonard (Dave Bautista). A tranquilidade da família então chega a um fim abrupto quando ele, acompanhado por três outros estranhos armados (Rupert Grint, Nikki Amuka-Bird e Abby Quinn), conseguem entrar à força na cabana e faz a família como refém. Os invasores contam a seus reféns sobre uma visão misteriosa e os forçam a tomar uma decisão inimaginável, um sacrifício para evitar o apocalipse iminente. Com acesso limitado ao mundo exterior, a família deve decidir em que acredita antes que tudo se perca: eles realmente pretendem salvar o mundo ou Leonard e seus companheiros fazem parte de um culto insano?

“Batem à Porta” é o mais novo filme de Shyamalan, onde ele adapta o livro “O Chalé no Fim do Mundo” de Paul Tremblay (que também escreveu o ótimo “Na Escuridão da Mente”). Admito que minhas expectativas são sempre muito altas quando vou assistir a uma produção dele, pois nas minhas contas pessoais, ele mais acertou que errou, e mesmo seus erros possuem pontos positivos.

“Batem à Porta” é um jogo de informações que refutam as convicções dos grupos dentro da cabana e com isso, contradizendo as concepções que criamos a respeito do que é verdade ou não. Essa incerteza nos espectadores traz uma situação de desconforto e tensão tão características de um terror psicológico e que se mantém até o final do filme.

Um exemplo disso fica evidente logo que Leonard e seu grupo revelam o motivo que os levou até aquela cabana. O espectador constrói o pressuposto de que aquele grupo é composto de pessoas insanas, afinal se o ato de uma pessoa ser morta por outra que a ama já é loucura, o que dizer que essa morte pode impedir o apocalipse. Então, quando o sacrifício não acontece, ocasionando na morte de um dos integrantes da seita, vemos um evento de proporções bíblicas ser mostrado na tv, e então passamos a duvidar se o que precisa acontecer no chalé realmente pode evitar a extinção da humanidade.

Essa gangorra de incerteza vai se manter até os dez minutos finais do filme, sempre com alguma informação nova contradizendo o que parecia certo até momentos antes: um telejornal reportando um surto de uma doença que está matando milhões de pessoas, mas que não é ao vivo e sim gravado; aviões que caem do céu e que parecem ter relação com algum ataque cibernético. A própria reunião do grupo de Leonard é suspeita uma vez que eles se conheceram através de um chat de conversas sobre visões do fim do mundo e que Redmond, personagem interpretado por Rupert Grint, parece ter atacado Andrew em um passado recente.

Essa incerteza a que o espectador é remetido constantemente é seguido quase sempre de debates acalorados entre o grupo de Leonard e a família de Wen, que potencializa ainda mais a tensão dentro da cabana, que é repassado a nós, aumentando a tensão que sentimos e assim aumentando a nossa sensação de desconforto.

Na parte técnica de “Batem à Porta” é válido destacar as filmagens com cenas em planos amplos e os closes dos personagens. Enquanto os takes de planos amplos servem para mostrar o que está acontecendo no ambiente como Wen se escondendo na casa de árvore ao fundo ou Leonard levar corpos para um quarto do chalé; os que envolvem o enquadramento do rosto dos atores e atrizes servem para que a atenção do espectador foque completamente nos diálogos. A ideia, que é transmitida com sucesso, é a de assumir o lugar do receptor das mensagens. Logo, quando Leonard está falando, seu rosto enche a tela e temos a sensação que ele está falando conosco; da mesma forma que quando Eric ou Andrew argumentam, suas feições ocupam todo o espaço de exibição, e temos a impressão de que essa

Com um elenco bem enxuto, o espaço para cada personagem é grande o suficiente para serem bem desenvolvidos, dando a eles uma complexidade muito interessante. O grupo de Leonard, tem pessoas a quem proteger do fim do mundo, o que tornam suas ações e atitudes difíceis de serem tomadas. Andrew tem seus motivos para desconfiar da seita que invadiu a cabana. E novamente, voltamos às incertezas, pois enquanto Leonard e os demais integrantes não apresentam nenhum prova de que são pessoas comuns com empregos e famílias, Andrew tem razões que envolvem preconceito, desconfiança e até violência física causada supostamente por Redmond.

Os atores Jonathan Groff e Ben Aldrige merecem destaque, pois enquanto o primeiro entrega um Andrew sempre irritadiço e cético, o segundo dá vida a um Eric que começa a questionar suas convicções à medida que as consequências devido ao atraso do sacrifício parecem se realizar.

Porém, meus aplausos vão para Dave Bautista. Já faz algum tempo que ele demonstrou que não serve somente para filmes de ação ou comédia como The Rock, Vin Diesel e Jason Momoa; mas em “Batem à Porta” ele conseguiu, na minha opinião, se firmar como um ator que pode representar personagens mais dramáticos e complexos como é o caso de Leonard.

Vale ressaltar também a simbologia que “Batem à Porta” traz e a quebra de alguns conceitos. O grupo de Leonard é uma clara alusão aos quatro cavaleiros do apocalipse (algo mencionado no próprio filme), mas ao contrário do que sabemos sobre essas figuras, não é a presença deles que desencadeia o início da extinção da humanidade, mas sim, sua ausência. Enquanto essas pessoas estiverem vivas, o fim do mundo não ocorre, mas no momento que um deles morre, eventos extraordinários e catastróficos acontecem.

O desfecho do filme se diferencia muito do livro. Em “O Chalé no Fim do Mundo” não fica claro se o que aconteceu realmente fazia parte de um plano para evitar o apocalipse ou tudo não passava de ações orquestradas por pessoas insanas, deixando para o leitor decidir, Além de que, o destino da família da Wen é bem trágico. No longa-metragem, Shyamalan traz um final agridoce para essa mesma família e diz o que realmente aconteceu dentro da cabana e as consequências disso.

Essa diferença entre o final do livro e do filme (bem como algumas outras é positiva nesse caso, já que as experiências serão diferentes.

E antes de encerrar essa resenha, preciso dizer que quando comparo 2022 e 2023, esse ano começou muito bem para o cinema em geral, mas principalmente para o cinema de terror.

Dito tudo isso, meu veredicto só pode ser um: vale muito a pena assistir “Batem à Porta”! E digo mais: ainda têm muito filme para estrear nas telonas e nas telinhas esse ano, mas “Batem à Porta” chegou com os quatro cavaleiros chutando a porta e é um candidato fortíssimo a melhor filme de terror e no geral de 2023!

Ficha Técnica:

Título Original: Knock at the Cabin

Título no Brasil: Batem à Porta

Gênero: Terror

Duração: 105 minutos

Diretor: M. Night Shyamalan

Produção: M. Night Shyamalan, Marc Bienstock, Ashwin Rajan

Roteiro: M. Night Shyamalan, Steve Desmond, Michael Sherman

Elenco: Dave Bautista, Jonathan Groff, Ben Aldridge, Nikki Amuka-Bird, Kristen Cui, Abby Quinn, M. Night Shyamalan

Companhias Produtoras: Blinding Edge Pictures, FilmNation Entertainment, Wishmore Entertainment

Distribuição: Universal Pictures

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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