SINOPSE: Thomas A. Anderson vive uma vida aparentemente comum em São Francisco, Califórnia. Premiado por seu jogo “Matrix”, se consulta com um terapeuta pois que lhe prescreve pílulas azuis pois costuma confundir a realidade com visões e elementos de seu jogo. No entanto, quando uma nova versão de Morpheus oferece a ele a pílula vermelha, ele precisa escolher se quer entrar na toca do coelho novamente.

 

“Matrix” é com certeza uma das franquias mais importantes e influentes do cinema. O primeiro filme foi revolucionário, com um roteiro que misturava filosofia, religião e ciência para falar de controle e liberdade, questionando os personagens e os espectadores sobre o que é real e o que é simulação.

O impacto do longa-metragem foi tão grande que gerou diversos livros à respeito dos conceitos apresentados e até um estudo realizado pelo astrônomo David Kipping, publicado na revista Scientific American, onde ele diz que há 50% de chance de estarmos vivendo em uma simulação.

Mas não foi só o roteiro, “Matrix” também revolucionou nas cenas de ação, ao mostrar os personagens lutando Kung-Fu, e no efeitos especiais ao trazer o Bullet Time, que mostrava os personagens em câmera lenta, desafiando as leis da física.

As sequências, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, abdicaram um pouco dos conceitos apresentados no primeiro longa-metragem, mas trouxeram cenas de ação espetaculares que até hoje são referências para o gênero. Como esquecer toda a sequência de “Reloaded” que se inicia com Neo lutando com os capangas do Merovíngio (Lambert Wilson) e culminando em perseguição com veículos em uma freeway em altíssima velocidade? Ou a sequência da guerra em Zion de “Revolution” entre os máquinas octópodes e os humanos?

Como disse, uma franquia incrível e que se mantém nesse patamar durante toda trilogia (sim, ao contrário do que alguns dizem, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions” são tão bons quanto “Matrix”). Com isso em mente, quando a Warner anunciou que iria lançar um novo capítulo dessa história espetacular, explodi de empolgação (e acredito que muitos que viram os filmes originais também). A cada novo trailer, teaser, declaração ou material promocional liberado; minha ansiedade para assistir “Matrix Resurrections” só aumentava.

Diante dessa empolgação e ansiedade toda, assisti “Matrix Resurrections” com a convicção de que o filme era candidato fortíssimo a se tornar o meu melhor filme de 2021 e do Cinemaníacos.

Os elementos centrais da trilogia estão presentes a começar pelo casal de protagonistas: Neo e Trinity, interpretados por Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss. A ideia de trazer os atores originais foi muito boa, não só por honrar o legado e deixar os fãs felizes, mas porque não consigo ver outras pessoas dando vida a papéis tão icônicos.

Vemos também o que aconteceu com alguns personagens da trilogia original, como por exemplo o Merovíngio: de rei do submundo da Matrix a um mendigo ressentido. Também temos o retorno de Sati (Priyanka Chopra Jonas) e descobrimos a sua importância para a trama de “Matrix Resurrections”. Ah e por falar em Sati, lembram do seu pai, Bernard (Bernard White)? Então, o programa que procura refúgio para sua família na Matrix em “Revolutions”, tem um papel fundamental para o retorno de Neo e Trinity.

Voltamos a ver a Colheita de Humanos, local onde as pessoas são semeadas para gerarem energia para as máquinas, mostrando que as coisas não mudaram muito desde “Matrix Revolutions”. Mas esse cenário já era esperado, uma vez a conversa entre a Oráculo e o Arquiteto deixa claro que o sacrifício de Neo criou um armistício, uma espécie de “acordo de cavalheiros”, e não a revolução e a liberdade total dos humanos.

Algo que achei bem legal foi o enxame: pessoas conectadas a Matrix que são usadas como o Analista e a Matrix bem entender, como por exemplo transformá-los em mísseis humanos.

Gostei do início da trama onde mostra Thomas A. Anderson, um designer de jogos eletrônicos, cuja sua maior realização profissional foi ter criado “Matrix”, um game onde as pessoas são controladas pelas máquinas através de uma simulação onde acreditam viverem vidas normais, mas na verdade são prisioneiros e usados como fontes de energia. Ou seja, tudo que vimos na trilogia não passou da imaginação e inventividade de “mister Anderson”.

Mas tirando os elementos originais e algumas novidades interessantes, “Matrix Resurrections” se mostrou um filme totalmente diferente do que vimos na trilogia original. E essa desconstrução completa me incomodou muito.

Difícil começar pelo que mais me desagradou em “Matrix Resurrections”, então vou falar primeiramente do humor inserido na história. Quem me conhece ou acompanha minhas publicações sabe o quanto o humor costuma me incomodar quando ele é colocado de forma aleatória, ou como digo: “a piada pela piada”. E foi isso que vi “Matrix Resurrections”: situações cômicas ou piadas colocadas para “suavizar” a trama. Mas vamos lá: o que tem para suavizar nesse filme?

Além do mais, “Matrix” sempre foi uma história trágica sobre a sobrevivência e liberdade da humanidade, onde cada conquista é árdua e com gosto agridoce e cada derrota um verdadeiro soco na cara. Aí o que vi em tela? Um filme mais leve que tenta ser engraçadão.

E por falar em “engraçadão” o que falar do novo Morpheus? Logo no começo do filme descobrimos que ele é um bot criado pelo próprio Neo para ajudá-lo. Preso à Matrix, o personagem interpretado pelo ator Yahya Abdul-Mateen II, se transforma em uma persona galhofeira que usa ternos que mais me lembraram os cafetões dos anos 1970. Dizem que Laurence Fishburne não foi convidado por um “conflito de agendas”, mas se eu fosse ele teria recusado ao ler o que fizeram com o personagem.

Mas o pior não é o que fizeram com o Morpheus, mas com o novo chefão da Matrix. O Analista ao contrário do Arquiteto, é um programa criado pelas máquinas para usar os sentimentos dos humanos aprisionados para controlá-los, sendo o sentimento de perda o principal mecanismo. Até aí tudo bem, mas o Analista é o mais engraçadão de “Matrix Resurrections”. E qual é o problema disso? Que esse filme tem 0% de senso de perigo graças a ele. Neo, Trinity e sua nova trupe não tem uma ameaça à altura deles. E como diria sabiamente o Coringa: “A grandeza do herói é intrinsicamente ligada a grandeza do vilão.”

Mas mesmo quando vemos o Analista utilizando um dos poderes de Neo contra ele, o senso de perigo é mínimo. Fora que a própria história cria uma incoerência narrativa: se o novo gerente da Matrix é capaz de usar as habilidades de Neo contra ele, porque quando todos seus planos começam a ir para o ralo, não utilizou novamente?

Agora se teve algo que me incomodou muito mesmo foram os efeitos especiais de “Matrix Resurrections”. O CGI me pareceu mal-feito e artificial em boa parte do filme, como por exemplo o avatar de Sati no mundo real ou a fuga de carro de Neo e Trinity do enxame. Mas o Bullet Time foi o que mais sofreu nesse descaso da diretora e produtores do longa-metragem: movimentos mecânicos e estranhos não me deixaram fascinados como quando vejo até hoje na trilogia original. E pensar que declarações dos envolvidos disseram que veríamos uma nova revolução nessa área. Mas o que presenciei foi uma coisa desleixada que ofende os fãs dessa franquia.

É minha opinião pessoal que “Matrix Resurrections” sofreu com spoilers liberados pelo próprio material promocional. O filme em sua primeira parte brinca muito com a ideia de que a Matrix e tudo que vimos na trilogia original não passou de um jogo de videogame e dos delírios de Thomas Anderson, mas o trailer deixa bem claro que isso não passa de mais uma venda colocada aos olhos de Neo. Ou seja: a dúvida que o longa-metragem tenta criar no espectador acaba sendo destruída antes mesmo de entrarmos na sala de cinema.

Quando terminei de assistir “Matrix Resurrections” lembro que disse que não sabia o que achar do filme. Depois de muito ponderar posso dizer que todos os elementos da trilogia original estão presentes, mas esse trabalho de desconstrução que Lana Wachowski fez acabou estragando completamente todo o legado iniciado e construído em 1999 por ela e sua irmã.

O que vi é algo parecido com o que Ridley Scott fez em “Prometheus”: existe toda a mitologia da franquia “Alien”, mas a história segue uma linha narrativa diferente. Mas enquanto o prequel do diretor de “Gladiador” ainda consegue agradar os fãs dos xenomorfos, “Matrix Resurrections” é uma decepção completa.

Concordo com uma declaração de um crítico de cinema que disse que “Matrix Ressurections” iria criar o dualismo de amor e ódio naqueles que assistissem ao filme. Mas a balança parece pender para o lado dos que não gostaram do filme, pois alcançou recentemente US$ 400 milhões de bilheteria para um orçamento de produção na casa dos US$ 200 milhões. “Ah, mas ele pelo menos se pagou e gerou o dobro de receita”! Não é bem assim, pois precisamos incluir nessa conta as despesas de publicidade que nesse caso podem chegar aos 50% dos custos de produção. Além que a grandes cadeias de cinema, como Cinemark, chegam a ficar com até 50% do bilhetes vendidos.

Mas mais que a fraca bilheteria ao redor do filme, essa descaracterização completa de Matrix, me decepcionou a ponto de concordar com as declarações dadas pelos responsáveis pela produção de “Matrix Resurrections” que esse não o início de uma nova trilogia.

Me dói dizer isso, mas se for para ver mais filmes como esse, que a franquia descanse em paz. E dito isso, me cabe dizer que não vale a pena assistir “Matrix Resurrections”, e por toda a expectativa criada e a grande decepção gerada, elejo esse novo, e espero, último capítulo da franquia, o pior filme de 2021.

Ficha Técnica:

Título Original: The Matrix Resurrections

Título no Brasil: Matrix Resurrections

Gênero: Ação, Ficção Científica

Duração: 148 minutos

Diretor: Lana Wachowski

Produção: James McTeigue, Lana Wachowski, Grant Hill

Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell, Aleksandar Hemon

Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Priyanka Chopra Jonas, Jada Pinkett Smith, Toby Onwumere, Max Riemelt, Brian J. Smith, Eréndira Ibarra, Lambert Wilson, Christina Ricci, Telma Hopkins, Chad Stahelski, Andrew Lewis Caldwell, Daniel Bernhardt, om Hardy

Companhias Produtoras: Village Roadshow Pictures, Venus Castina Productions,

Transmissão: Warner Bros. Pictures

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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