SINOPSE: Baseada em eventos reais na França do século 14, acompanhamos dois amigos: o cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon) e o escudeiro Jacques Le Gris (Adam Driver), que por vários motivos são separados pela guerra. Carrouges é convocado para guerra e quando retorna, sua mulher (Jodie Comer) revela ter sido estuprada por Le Gris. Enquanto o escudeiro nega a acusação, Jean de Carrouges apela para o rei da França e consegue a autorização para um duelo até a morte, que entraria para a história como o último legalmente sancionado na Europa.
Quando leio ou ouço dizerem que Ridley Scott vai lançar um novo filme, já fico empolgado em assisti-lo já que sou muito fã do diretor.
É claro que me decepcionei com alguns dos seus longas-metragens, como foi o caso de “Alien: Covenant”, mas se tem um gênero em que Ridley Scott se dá muito bem é o do drama histórico, sendo “Gladiador”, “Cruzada” e “Robin Hood” os maiores exemplos dessa minha afirmação.
Então é claro que fiquei empolgado para assistir “O Último Duelo”, o novo longa-metragem de drama histórico de Ridley Scott. O filme conta a história do estupro que acarretou no último duelo oficial da Europa através do ponto de vista dos três protagonistas do filme: Jean de Carrouges (Matt Damon), Jacques Le Gris (Adam Driver) e Marguerite de Carrouges (Jodie Comer). Essa narrativa é muito legal pois ela brinca com o conceito de como achamos que somos e de como somos vistos pelos outros.
“A Verdade Segundo Jean de Carrouges” é a primeira parte de “O Último Duelo” e apresenta o personagem como sendo um cavaleiro corajoso e fiel à Coroa Francesa. Hábil em combates, Carrouges também é amável e carinhoso com as pessoas e principalmente com sua esposa, a quem devota toda atenção. Justo e nobre, não é valorizado ou reconhecido por seus serviços à França, e descobre que seu melhor amigo estupra sua esposa. Para defender a honra de Marguerite, Carrouges pede que o Rei autorize um duelo até a morte com Le Gris.
“A Verdade Segundo Jacques Le Gris” é a segunda parte do filme e mostra o escudeiro com uma pessoa carismática. Esse carisma faz com que conquiste a amizade de Pierre d’Alençon (Ben Affleck), primo do rei da França, o que o faz subir em poder e prestígio dentro da côrte francesa. Isso causa a inveja de seu amigo, Jean de Carrouges, que o vê como um mero bajulador. O carisma e a beleza de Le Gris (essa parte não entendi já que estamos falando de Adam Driver, hehehehe) atrai o interesse de Marguerite, esposa de seu amigo, que mais tarde acaba com os dois transando. Indignado por ter sido acusado de estupro, já que houve consenso de ambos, Le Gris aceita o duelo proposto por Carrouges para retomar sua honra.
A última parte de “O Último Duelo” apresenta a versão de Marguerite dos acontecimentos. Inteligente e independente, Marguerite precisa aceitar a condição de submissão que a época impunha às mulheres. Ela acaba tendo que casar contra sua vontade com Jean de Carrouges, um cavaleiro hábil com a espada mas que vê Marguerite como um belo dote e uma reprodutora para propagar sua linhagem. A relação entre eles é fria e o sexo é um mero ato para gerar um herdeiro. Sua beleza atrai os olhares de Jacques Le Gris, um homem ganancioso e mulherengo, que ao ser recusado por Marguerite, a estupra. O duelo solicitado por Carrouges nada tem a ver com defender sua honra, mas sim para limpar o nome do cavaleiro.
Três versões diferentes da mesma história pois são contadas por três narradores diferentes. Apesar disso, existem pontos comum: Carrouges é um hábil guerreiro, Le Gris é um homem carismático e Marguerite é uma mulher inteligente. Isso só reforça minha opinião de que os mesmos fatos podem ser interpretados de várias formas distintas.
“O Último Duelo” mostra um período onde as mulheres eram completamente privadas de direitos. Marguerite além de forçada a se diminuir para não envergonhar seu marido ainda precisa passar pela humilhação de ser acusada de incitar Le Gris a estupra-la, já que essa era a natureza das mulheres de acordo com àquela época. E no caso de Carrouges perder o duelo, ela será condenada a ser queimada viva na fogueira.
A cena final que mostra o duelo entre Carrouges e Le Gris é extremamente violenta, retratando de forma muito fiel como deveria ser esse tipo de combate. Bem coreogrado a luta entre o cavaleiro e o escudeiro é eletrizante e é conduzido de forma que é impossível descobrir antecipadamente quem vencerá.
Até agora só falei do roteiro bem escrito de “O Último Duelo”. Mas é preciso dar crédito ao trabalho de figurino, fotografia, locação e cenografia que nas mãos habilidosas de Ridley Scott criam de forma muito precisa a França do século XIV. O que vemos no filme só confirma minha afirmação de que quando o assunto é drama histórico, Ridley Scott é um dos nomes mais competentes e talentosas do cinema.
As interpretações de Matt Damon, Adam Driver e Jodie Comer são a cereja do bolo de “O Último Duelo”, uma vez que seus personagens apresentam nuances diferentes a cada versão da história contada no filme.
“O Último Duelo” sofreu nas bilheterias pois estreou na mesma época de filmes como “Venom: Tempo de Carnificina”, “Halloween Kills” e “Duna”. Por causa disso, o filme quase não teve espaço nos cinemas brasileiros e ficou pouco tempo em cartaz, se tornando o filme mais injustiçado de 2021.
Com um ótimo roteiro, ótimas atuações, um excelente trabalho de fotografia e outros aspectos técnicos, “O Último Duelo” é mais um ótimo trabalho de Ridley Scott e um dos melhores filmes do ano.
Por tudo que escrevi até agora, só posso encerrar essa resenha dizendo que vale a pena assistir “O Último Duelo”!
Ficha Técnica:
Título Original: The Last Duel
Título no Brasil: O Último Duelo
Gênero: Drama Histórico
Duração: 153 minutos
Diretor: Ridley Scott
Produção: Ridley Scott, Kevin J. Walsh, Jennifer Fox, Nicole Holofcener, Matt Damon, Ben Affleck
Roteiro: Nicole Holofcener, Ben Affleck, Matt Damon
Elenco: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer, Ben Affleck, Harriet Walter, Alex Lawther, Serena Kennedy, Marton Csokas, Željko Ivanek, Tallulah Haddon, Bryony Hannah, Nathaniel Parker, Sam Hazeldine, Michael McElhatton, Oliver Cotton, Clive Russell, Adam Nagaitis, Bosco Hogan, Clare Dunne, Caoimhe O’Malley, Md. Tayeen Khan
Companhias Produtoras: Scott Free Productions, Pearl Street Films, TSG Entertainment
Distribuição: 20th Century Studios