SINOPSE: Rachel (Caren Pistorius) é uma mãe solteira cujo dia ruim fica ainda pior quando ela irrita Tom Cooper (Russell Crowe), um outro motorista na hora do rush. Uma simples discussão no trânsito rapidamente se transforma em terror quando ela descobre o plano sinistro de vingança do sociopata.
Em 1993, assisti a “Um Dia de Fúria” que mostrava William Foster (Michael Douglas), um homem de meia-idade desempregado e em processo de divórcio. Estressado com sua vida e frustrado com o trânsito, ele fica enfurecido, deixando um rastro de violência ao cruzar Los Angeles.
Comecei essa resenha com o filme estrelado por Michael Douglas, pois quase 30 anos depois, o cinema já retratava uma sociedade em ebulição, com pessoas estressadas e à beira da violência gratuita. “Fúria Incontrolável” moderniza essa história e mostra que as coisas não mudaram muito.
“Fúria Incontrolável” mostra que uma “buzinada amigável”, ou simplesmente não buzinar, poderia evitar toda a onda de violência e fúria de Tom Cooper. Vivemos em uma sociedade onda a palavra “velocidade” é a força-motriz. Ou seria a falta dela? Não nos irritamos quando nossa internet fica lenta? Ou perdemos completamente a paciência quando o trânsito está engarrafado ou alguém está na faixa da esquerda andando como uma tartaruga ou esquece de dar seta para virar?
Adicione a essa receita, a pressão de uma economia cada vez mais brutal, onde até mesmo os mais aptos e preparados precisam conviver com o medo diário de serem demitidos, mesmo aceitando uma remuneração que mal nos permite sobreviver.
E duvido que quem está lendo essa resenha, em algum momento, não descontou sua frustração e estresse em familiares e amigos? Que em algum momento sucumbiu a uma fúria cega e não xingou o primeiro que viu (mesmo essa pessoa não tendo nada a ver com seus problemas) ou simplesmente não meteu a mão na buzina e mandou o condutor (também frustrado e estressado) à merda?
Agora imagine que nesse contexto que descrevi, uma discussão de trânsito iniciada por uma buzinada não-amigável, que poderia ser evitada com uma boa respirada profunda, você se transformasse no alvo e na válvula de escape de um sociopata? Isso é “Fúria Incontrolável”.
Mas o quanto Tom Cooper, personagem interpretado por Russell Incontrolável, é louco? Bom, o começo do filme já lhe dá essa resposta. Cooper, invade a residência de sua ex-esposa, mata à ela e seu novo parceiro a marteladas, e depois toca fogo na casa. “Fúria Incontrolável” deixa bem claro que Cooper tem problemas psicológicos, mas também mostra que um ataque de fúria pode acometer pessoas sãs, bastando a medida certa de frustração e estresse.
E essa linha entre manter e perder o controle, fica evidente ao acompanharmos Rachel, mãe solteira, recém-desempregada e que sente estar decepcionando sua família constantemente, independentemente do quanto se esforce. Então, tentando deixar seu filho na escola no horário, acaba por ceder ao estresse e buzina furiosamente para Tom Cooper. E à partir daí, a vida de Rachel e de todos que a cercam passam a correr perigo.
Vendo o filme, vi as cenas de perseguição e de violência em locais públicos e pensei que era Hollywood sendo Hollywood: tornando uma discussão de trânsito em um filme de ação com duras críticas à nossa sociedade. Mas escrevendo essa resenha agora, percebo que os crimes passionais se tornaram atos rotineiros ou é tão incomum assim vermos pessoas sendo espancadas e mortas em lanchonetes (Tom Cooper matando Andy (Jimmi Simpson) em uma lanchonete)? É inimaginável vermos pessoas furiosas atropelando pedestres ou perseguindo de carros outros condutores (Tom Cooper perseguindo enlouquecidamente Rachel)? É raro sabermos por jornais e programas noticiando invasões à residências que terminam em mortes e espancamentos (Tom Cooper invadindo a casa de Rachel)?
“Fúria Incontrolável” também mostra como uma das maiores invenções da humanidade, que permitiu agilidade e comodidade, pode se tornar em algo que pode nos prejudicar e até colocar nossa vida em risco. É claro, que estou falando do celular. No filme, após a discussão de trânsito, Tom Cooper rouba o celular de Rachel, que por não estar bloqueado, dá ao sociopata do longa-metragem acesso a todo tipo de informações sobre ela: do saldo da sua conta de banco a acesso aos seus amigos e conhecidos.
Toda essa crítica social que é “Fúria Incontrolável” é conduzida de forma direta e crua pelo diretor Derrick Borte e pelo roteirista Carl Ellsworth. Não há rodeios na história e nem amenização nas situações de tensão e violência. O objetivo é mostrar que um ato impensado ou uma decisão tomada em um momento de estresse pode gerar consequências gravíssimas. E esse objetivo, o filme alcança de forma muito eficaz e eficiente.
Além da direção e do roteiro, essa história de tensão e violência só alcança os resultados desejados graças as interpretações do elenco. Caren Pistorius consegue convencer no papel de uma mãe solteira à beira da falência financeira e familiar.
Porém é Russell Crowe que prova porque é um ator merecedor dos elogios e do prêmios que recebe. Tom Cooper é a personificação da loucura inerente que pode ser alimentada pela pressão da sociedade atual. O ator, que além de estra extremamente obeso, traz principalmente em suas feições a insanidade de uma pessoa que cedeu completamente a frustração e o estresse do dia a dia. Nosso eterno Máximus Décimus Meridius de “Gladiador” está perfeito no papel de um sociopata e aqui faço meus votos que ele interprete mais papéis desse.
“Fúria Incontrolável” é uma crítica social do que vivemos e passamos todos os dias. Contada de forma crua e direta, o filme lhe prende do começo ao fim e deixa uma lição final: “Mantenha a calma, respire fundo e cuidado para quem buzinas!”
Vale muito a pena assistir “Fúria Incontrolável”!
Ficha Técnica:
Título Original: The Unholy
Título no Brasil: Fúria Incontrolável
Gênero: Ação
Duração: 93 minutos
Direção: Derrick Borte
Produção: Lisa Ellzey, Andrew Gunn, Mark Gill
Roteiro: Carl Ellsworth
Elenco: Russell Crowe, Caren Pistorius, Gabriel Bateman, Jimmi Simpson, Austin P. McKenzie, Juliene Joyner, Stephen Louis Grush, Anne Leighton, Michael Papajohn, Lucy Faust, Devyn A. Tyler, Samantha Beaulieu, Andrew Morgado.
Companhias Produtoras: Ingenious Media, Burek Films
Distribuição: Solstice Studios