SINOPSE: O detetive Ezekiel Banks (Chris Rock) se une ao seu parceiro novato Willem (Max Minghella) para desvendar uma série de assassinatos terríveis que estão acontecendo na cidade. Durante as investigações, Ezekiel acaba se envolvendo no mórbido jogo de um serial killer determinado a seguir os passos do assassino Jigsaw (Tobin Bell).

 

Em 2004 um filme chegava aos cinemas sem muitas pretensões. Dirigido pelo então estreante James Wan, “Jogos Mortais” arrebatou os fãs de histórias com serial killers. Com uma trama envolvida em mistério, um assassino serial com motivações distorcidas e um final simplesmente improvável e espetacular, o longa-metragem além de se tornar um sucesso de crítica, também foi muito bem-sucedido financeiramente: US$ 103 milhões para um orçamento de apenas US$ 1,2 milhões

Esse caminhão dinheiro adquirido nas bilheterias foi o suficiente para transformar “Jogos Mortais” em uma franquia cinematográfica bilionária. Mas se as sequências faziam bonito em termos financeiros, a jornada de Jigsaw foi se distanciando da qualidade do primeiro filme, se tornando em um simples espetáculo gore. E mesmo anunciando constantemente que a franquia chegaria ao fim, a Lionsgate não largou o osso e sempre fazia mais um longa-metragem. E eles estão errados? Claro que não, afinal são filmes de baixíssimo orçamento para os padrões de Hollywood que sempre tiveram um excelente retorno financeiro.

Então surgiu a notícia dizendo que o comediante Chris Rock iria ajudar a produzir e escrever um novo longa-metragem da franquia “Jogos Mortais”. Notícia essa que me deixou bem descrente de ver algo diferente dos filmes anteriores ruins. Porém “Espiral” apresenta alguns lampejos daquilo que vi em “Jogos Mortais” de 2004.

A primeira decisão sábia que “Espiral” tomou foi não ser uma sequência direta da franquia “Jogos Mortais”, mas um spin-off, permitindo assim que o filme tivesse uma liberdade criativa, principalmente em termos narrativos.

“Espiral” ainda mostra as sangrentas e engenhosas armadilhas que as vítimas de Jigsaw precisava enfrentar, mas o espetáculo gore não é a força-motriz do longa-metragem, mas um elemento de suporte para a narrativa, se assemelhando ao que vi no filme de 2004. Mas o impacto e a surpresa que a história do primeiro “Jogos Mortais” me trouxe é algo que nenhum outro capítulo da franquia jamais conseguiu emular, incluindo “Espiral”.

Algo que sempre me incomodou na franquia foram os acólitos de Jigsaw, que nunca tiveram o mesmo carisma e nem motivações convincentes para estarem dando continuidade ao trabalho do serial killer. Amanda Young (Shawnee Smith) com sua admiração cega por Jigsaw até vai, mas quando introduzem o inútil Mark Hoffman (Costas Mandylor), “Jogos Mortais” se perde completamente. O personagem só serve para ser o cara que constrói e coloca as pessoas nas armadilhas, com uma motivação que vai ficando mais tosca a cada novo filme em que ele está presente.

Em “Jogos Mortais” de 2004, Jigsaw, até então um cidadão exemplar que descobre que irá morrer devido a um tumor cerebral inoperável, coloca suas vítimas em situações extremas para que se redimam por estarem desperdiçando as vidas que possuem. Em “Espiral”, o imitador de John Kramer está matando policiais e quando descobrimos o porquê por trás dos crimes, percebemos que o diretor e os roteiristas se preocuparam com a motivação do serial killer. Mas enquanto Jigsaw sempre dava uma chance de escapatória sangrenta, nesse spin-off fiquei com a impressão de que o serial killer não lhes dá essa opção, apesar dos discursos gravados. Ou seja, em “Espiral” o que move o assassino não é redenção distorcida vista em John Kramer, mas a vingança e o assassinato.

Como disse anteriormente, “Espiral” não tem o show gore como elemento principal da narrativa, mas o utiliza para dar peso e dramaticidade, mesmo que superficial, aos atos do imitador de Jigsaw. Até entendo que a cada novo filme as armadilhas precisam ser mais espetaculares e violentas para atrair a atenção do espectador, mas essa grandiosidade me incomoda, pois tirando o fato que John Kramer tinha o dinheiro e o conhecimento necessário (ele era um dos mais ricos e talentosos engenheiros da cidade), como é possível para os demais seguidores de Jigsaw construírem o que vemos?

O elenco consegue de forma burocrática dar conta do recado. Aqui devo dar os parabéns a Chris Rock que me surpreendeu em sua interpretação, que apesar dos momentos de “forçação de barra” (sempre de cara fechada tentando emular um detetive atormentado), transmite a seriedade e os dilemas que Ezekiel Banks precisa ter, sem perder seu lado cômico, demonstrando um bom time para fazer suas piadas. Além dele, temos a ilustre participação especial de Samuel L. Jackson, que é uma aquisição bem-vinda a qualquer casting.

O final de “Espiral” é mediano, sem nenhuma grande surpresa ou impacto, porém valida a motivação do serial killer e coloca Ezequiel Banks é uma sinuca de bico

Aliás, o desfecho permite uma sequência, algo já ventilado por Darren Lynn Bousman, diretor e criador, ao lado de James Wan, da franquia. E para isso acontecer, basta que “Espiral” seja lucrativo como os demais filmes (até onde consegui descobrir, o spin off faturou US$ 40 milhões nas bilheterias para um orçamento de US$ 20 milhões).

“Espiral” não é um primor, mas em um ranking, fica bem à frente de outros filmes como “Jogos Mortais” 4, 5, 6, 7 e 8. Na minha opinião, esse spin off sofre de uma maldição que longa-metragem de 2004 criou. Ao ter apresentado uma história sangrenta mas inteligente ao mesmo tempo e com um dos finais mais surpreendentes do cinema o primeiro “Jogos Mortais” jogou o nível lá em cima. E esse nível, nenhuma sequência, incluindo “Espiral”, conseguiu chegar perto.

Baixe suas expectativas e assista a esse spin off sem grandes pretensões. Se fizer isso, você se divertirá como eu me diverti e concordará comigo que vale pena assistir “Espiral”.

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Ficha Técnica:

Título Original: Spiral: From the Book of Saw

Título no Brasil: Espiral: O Legado de Jogos Mortais

Gênero: Terror

Duração: 93 minutos

Direção: Darren Lynn Bousman

Produção: Oren Koules, Mark Burg

Roteiro: Josh Stolberg, Peter Goldfinger

Elenco: Chris Rock, Max Minghella, Marisol Nichols, Samuel L. Jackson, Dan Petronijevic, Richard Zeppieri, Patrick McManus, Edie Inksetter, Thomas Mitchell, Nazneen Contractor, K. C. Collins, Trevor Gretzky, Chris Ramsay, Genelle Williams, Dylan Roberts, Ali Johnson, Zoie Palmer

Companhias Produtoras: Twisted Pictures

Distribuição: Lionsgate

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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