SINOPSE: Sob o pseudônimo Richard Bachman, Stephen KIng flerta com a ficção científica em “O Concorrente”. Em 2025, a TV domina os lares americanos, entorpecentes são vendidos em máquinas automáticas e ar puro é privilégio de poucos. Um mundo onde um jogo chamado matabol é brincadeira de criança e a desgraça alheia é a maior diversão. Na telinha, uma volta à Roma dos gladiadores, com milhões de telespectadores sedentos de sangue levando os índices de audiência às alturas. É nessa arena futurista que desembarca Ben Richards, um desempregado disposto a qualquer sacrifício para salvar a vida da filha. Sua última tentativa é participar do programa O Foragido, disputa da qual ninguém conseguiu sair vivo ainda.

Stephen King em determinada época de sua carreira resolveu escrever com o pseudônimo de Richard Bachman, gerando livros como “Os Justiceiros” e “A Maldição do Cigano”. Mas uma obra em especial é muito cultuada e rara. Estou falando de “Livros de Bachman” de 1977, que contém quatro histórias: “Fúria” (obra que o próprio Stephen King proibiu de ser reimpressa), “A Longa Marcha”, “A Autoestrada” e “O Concorrente” (esse dois últimos, publicados aqui no Brasil).

No posfácio de “O Concorrente”, Stephen King diz que resolveu escrever como Richard Bachman para poder contar histórias mais sombrias, afinal Bachman não é uma boa pessoa. Minha opinião é que King criou esse pseudônimo para testar se suas obras vendiam pela qualidade do que estava escrito e não pelo seu nome, já bastante conhecido na época.

“O Concorrente” serviu de base para o filme “O Sobrevivente” de 1987, estrelado por Arnold Schwarzenegger. E nesse ponto já temos a primeira grande diferença entre o livro e a adaptação cinematográfica: o protagonista de “O Concorrente”, em nada se parece com o ator austro-americano.

Ben Richards é um homem que sobrevive com sua mulher e filha na parte pobre de Co-Op City. Alto e desnutrido, o protagonista do livro é considerado pela forças que controlam a vida das pessoas como uma pessoa-problema, sempre desafiando as autoridades e se rebelando contra o status quo que impera na sociedade de 2025. Dono de uma raiva e frustração constantes, Ben Richards é o candidato perfeito para participar do programa ”O Concorrente”.

O próprio programa “O Concorrente” é muito diferente do que vi no filme de 1987. A Divisão de Jogos não recruta pessoas que cometeram crimes, mas homens que, de livre vontade, se candidatam para tentar ganhar alguns dólares novos. E apesar de realmente ganharem dinheiro, no final todos são mortos pelos Caçadores.

O palco de “O Concorrente” é o mundo, com suas ruas, casas, becos. As pessoas selecionadas para fugirem são caçadas ao ar livre, onde tudo e todos se tornam inimigos. Esse cenário onde o jogo acontece é mais interessante que o apresentado no filme, pois Ben Richards precisa se esconder não só dos Caçadores, mas da polícia e até mesmo dos cidadãos que ganham dinheiro por dedurá-lo.

Mas uma coisa em “O Concorrente” não me agradou, que são os Caçadores. O grupo responsável por perseguir e matar Ben Richards é composto por profissionais treinados, frios e implacáveis, com os mais modernos equipamentos e tecnologias à disposição. Além disso, não estamos falando de 4 ou 5 integrantes, mas de um verdadeiro exército. Esse grupo de extermínio é liderado por Evan McCone, a personificação da morte. Só que apesar dessa descrição que é mostrada no começo do livro, os Caçadores simplesmente não aparecem e não mostram do que são capazes. Somente McCone dá as caras e quando faz isso, é decepcionante.

A resistência mostrada no filme, em “O Concorrente” é algo mais amador, mais popular. O motivo para a revolta dessas pessoas com o Sistema é algo mais palpável e factível: a manipulação da situação cada vez mais caótica da poluição atmosférica e o encobrimento de como salvar vidas de forma abrangente e barata.

Dois personagens chamam bastante a atenção. O primeiro é o protagonista da história que não é tão honrado e altruísta como vivido por Arnold Schwarzenegger. Apesar de ter alguns bons sentimentos dentro de si, Ben Richards não hesita em matar para poder continuar fugindo. A outra persona é Dan Killian, que se mostra muito mais maquiavélico e desprovido de emoções do que vemos no filme de 1987.

“O Concorrente” parece ter sido escrito por outra pessoa em alguns aspectos. A narrativa de Richard Bachman é mais direta, com uma construção de personagem e cenários mais enxuta. Isso torna a leitura bem rápida, mas não menos interessante.

O final do livro não me agradou muito, pois nesse ponto Richard Bachman pesa demais a mão em cenas que envolvem muito sangue e tripas expostas, que na minha opinião, não era necessário. Tirando esse aspecto gore, o desfecho da história é direto e não tem aquela espécie de reflexão que Stephen King gosta de fazer após o embate final.

Sempre que posso, mando mensagem, seja no Facebook, seja no Instagram (o que não adianta nada, pois não sou respondido em nenhum, hehehehehe) para a Suma relançar “O Concorrente”. Mas por envolver racismo em alguns momentos da história e um evento que relembra muito uma das mais tristes e delicadas catástrofes da história recente estadunidense, não creio que tenhamos um nova tiragem.

Fiquei muito feliz quando consegui adquirir uma edição física usada a um preço razoável (em torno de R$80,00), pois “O Concorrente” era um livro que queria muito ler.

Mas ao final da leitura fiquei com uma pontada de decepção, pois esperava algo mais sangrento e polêmico, afinal ela faz parte de os “Livros de Bachman” e de uma fase de Stephen King que queria escrever histórias mais sombrias, por isso a criação do pseudônimo.

Vale a pena ler “O Concorrente”, mas diminua um pouco as expectativas em relação ao livro pois ele fica ali naquele bolo de obras medianas da extensa bibliografia de Stephen King.

Ficha Técnica:

Título Original: The Running Man

Título no Brasil: O Concorrente

Autor: Stephen King

Tradutor: Vera Ribeiro

Capa: Comum

Número de páginas: 310

Editora: Suma

Idioma: Português

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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