As produções cinematográficas de Christopher Nolan sempre exploram temas existenciais, éticos e epistemológicos: “Amnésia”, seu primeiro filme de sucesso, trazia o conceito da maleabilidade da memória; “A Origem”, foi inspirado pela ideia de exploração e incubação de sonhos, influenciando o comportamento das pessoas; “Interstellar” explora as leis da física como representadas na teoria da relatividade geral de Einstein e “Batman: O Cavaleiro das Trevas” tem como bases o caos, o terrorismo, a escalada da violência e o conceito de “Além-Homem Nietzschiano” e as consequências do homem ser tornar “mais que apenas homem”.
Além da utilização de teorias e conceitos filosóficos e científicos, Christopher Nolan é um dos poucos diretores em Hollywood que constantemente reinventam a forma de contar sua histórias, seja contando a história de trás para frente (como em “Amnésia”) ou utilizando efeitos práticos para dar um senso de realismo aos seus filmes (como a construção de um corredor giratório para “A Origem” ou o capotamento real de um caminhão em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”).
Esses dois fatores (a exploração de conceitos científicos e a utilização de efeitos práticos) são importantes para entender o que Christopher Nolan fez em “Tenet”.
Vamos começar pelo nome do filme: “Tenet”. De onde veio? Ele vem do Quadrado Sator, descoberto nas ruínas de Pompeia, destruída em 79 d.C , e que corresponde a uma estrutura com forma de quadrado mágico composta por cinco palavras latinas: SATOR, AREPO, TENET, OPERA, ROTAS, que, consideradas em conjunto (da esquerda para a direita ou de cima para baixo), dão lugar a um palíndromo. “Tenet” vem do latim tenere, que significa possuir.
Outras referências ao Quadrado Sator podem ser vistas no filme além da palavra TENET, como o oligarca russo e antagonista do filme, Andrei Sator (Kenneth Branagh) ou a organização Rotas, liderada por Priya (Dimple Kapadia).
Mas a decisão de Christopher Nolan em usar do palíndromo “Tenet” para intitular seu novo filme, é para ilustrar a teoria física da entropia invertida, que é o conceito central de toda a história.
A entropia mede o nível de “desordem” de um sistema ou da natureza e do universo, e à medida que o tempo vai passando, essa desordem aumenta. Na Física não é possível inverter a entropia (somente em nível subatômico).
Em “Tenet”, cientistas do futuro consegue inverter a entropia, possibilitando que objetos e pessoas possam se mover para a frente e para trás no tempo. E é nesse momento que a coisa fica muito divertida, porque em várias cenas temos, ao mesmo tempo, tanto pessoas e objetos se movimentando no tempo normal quanto no tempo invertido.
As cenas de ação com pessoas se movimento para frente lutando com oponentes invertidos ou as perseguições de carros na mesma situação, são sensacionais, divertidíssimas e inéditas, comprovando que Christopher Nolan está na vanguarda da indústria cinematográfica. Essa inversão da entropia que Nolan trás para “Tenet” pode ser comparada ao que as irmãs Wachowski fizeram em “Matrix”, ao criar o efeito “bullet time”.
Mas podemos dizer que Christopher Nolan ousou muito mais que as irmãs Wachowski, pois enquanto o “bullet time” era um efeito de CGI, a entropia invertida é quase que 100% prática, com carros reais sendo dirigidos como se estivessem andando de trás para frente e a movimentação invertida das pessoas realmente acontecendo.
John David Washington que interpreta o Protagonista, treinou por várias semanas para conseguir se movimentar de forma invertida. Tanto ele quanto as pessoas envolvidas nessas cenas, precisaram passar por um intenso treinamento para assimilar a movimentação invertida.
Sim, o que quero dizer, é que as pessoas que se movem de forma invertida, estão realmente se mexendo dessa forma.
Para criar a sensação de grandiosidade, “Tenet” é filmado completamente em IMAX . E Christopher Nolan mostra já no começo do filme que não está para brincadeira, ao mostrar um ataque terrorista a um concerto lotado em Oslo. A sequência dá o tom do que veremos durante os 150 minutos de exibição.
Mas se você pensa que a megalomania de Christopher Nolan fica somente em encher de verdade com pessoas reais uma sala gigante de concerto ou interditar vários quilômetros de uma rodovia na Estônia, prepare-se para a cena em que o diretor colide um avião Boeing 747 em um prédio e o explode. Insano? É exatamente o que Robert Pattinson, que interpreta Neil, achou também.
“É tão ousado ao ponto do ridículo. Eu lembro que, quando estávamos filmando, pensei: ‘Quantas vezes mais isso vai acontecer em um filme?’”
“Tenet” é um filme que precisa ser assistido no cinema para que possamos sentir essa grandiosidade apresentada. Comprovei isso, ao vê-lo novamente em casa para entender melhor todos os conceitos físicos e captar melhor os detalhes de várias sequências. Mas enquanto no cinema assistia “Tenet” com um sorrisão no rosto e completamente empolgado; na frente da minha TV, foi algo do tipo “nhéééééééé”.
Não falei do roteiro e das atuações, porque “Tenet” é um filme que não se alicerça nesses pilares cinematográficos. Isso não quer dizer que esses elementos técnicos são deixados de lado, mas é que ficam sublimados pela megalomania e insanidade das sequências de ação que Christopher Nolan nos apresenta.
Mas em um comentário bem rápido: o roteiro entrega o suficiente para inserir o espectador nessas realidades em que o tempo anda para frente e em o que se move para trás; e as atuações e os atores de “Tenet” exercem de forma competente o que a história exige.
Com “Tenet”, Christopher Nolan não só traz um excelente e grandioso filme de ação com boas doses de ficção científica, mas mostra que a indústria cinematográfica pode muito bem trazer algo inovador e empolgante, produzido quase que completamente com efeitos práticos e sem uso do CGI.
Em tempos de pandemia, onde pessoas importantes da indústria cinematográfica, como Kevin Feige, dizem que o futuro dos filmes é 100% nas plataformas de streaming, “Tenet” vem para comprovar que o cinema está mais vivo do que nunca e que ainda é insubstituível.
Vale muito a pena assistir “Tenet”, pois é mais que um filme, é um evento cinematográfico de grande magnitude!
Ficha Técnica:
Título Original: Tenet
Título no Brasil: Tenet
Gênero: Fantasia, Aventura
Duração: 150 minutos
Direção: Christopher Nolan
Produção: Emma Thomas, Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Dimple Kapadia, Michael Caine, Kenneth Branagh, Martin Donovan, Fiona Dourif, Yuri Kolokolnikov, Himesh Patel, Clémence Poésy, Aaron Taylor-Johnson
Companhias Produtoras: Warner Bros. Pictures, Syncopy
Distribuição: Warner Bros. Pictures