Neonomicon de Alan Moore (Roteiro) e Jacen Burrows (Arte)

SINOPSE: Misteriosos assassinatos atraem a atenção do FBI e, durante a investigação, revelações indicam coincidências muito estranhas. Para chegar à verdade, um expert na revolucionária teoria da anomalia envolve-se em uma missão sob disfarce que o leva a um clube que abriga uma seita suspeita possivelmente envolvida com os crimes; mas o rumo sobrenatural dos acontecimentos exige a presença de dois outros investigadores que serão levados ao extremo do horror e aos limites da realidade como a conhecemos

Mesmo que você não goste ou não se interesse muito por quadrinhos, acho difícil que nunca tenha ouvido falar de Alan Moore. “Watchmen”, “V de Vingança”, “A Piada Mortal”, “Do Inferno” e a “Liga Extraordinária” são algumas das obras escritas por esse senhor inglês que o gabaritam como um dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos.

Uma das melhores qualidades de Alan Moore é desconstruir personagens e histórias clássicas e reescrevê-las de forma que respeite o material original, mas criando algo totalmente original. Nessas releituras, em parceria com o artista Jacen Burrows, temos a sensacional “Providence”, onde ele pegou várias histórias de H.P. Lovecraft e criou uma história que mantém as características do Mestres do Horror Cósmico com o toque pessoal desse mestre dos quadrinhos.

E desse trio de peso formado por Lovecraft, Moore e Burrows, chegou ao Brasil pela Panini, “Neonomicon”, que faz uma releitura de contos como “O Chamado de Cthulhu”, “Dagon” e “O Habitante das Trevas”, criando uma história que começa com uma investigação de assassinatos bizarros e se transforma em uma jornada por zonas abissais, seres ancestrais e cultos secretos.

Em “O Pátio”, a primeira história de “Neonomicon”, temos o agente do FBI, Aldo Sax investigando casos bizarros de assassinatos que parecem não ter ligação nenhuma. Mas como criador da teoria da anomalia, ele descobre que uma igreja antiga se transformou na boate Zotique, e que nesse local ele pode adquirir “aklo” de uma pessoa chamada de Johnny Carcosa. Nesse primeiro capítulo, temos um personagem que personifica totalmente o preconceito, racismo e a misoginia inerente a Lovecraft, nos termos (“negralhada” e “bichas”) e características pessoais (ao dizer que abomina o sexo) do agente Sax. Outra coisa que temos que notar é que além das referências ao Mestre do Cosmicismo, temos também uma citação direta ao “O Rei de Amarelo” de Richard W. Chambers, ao apresentar a figura de Johnny Carcosa.

Já a segunda parte da história que leva o nome da HQ, o agente Sax, após ter conhecido Johnny Carcosa e o “aklo”, está preso por ter cometido um crime violento e estranho. O FBI então designa Merril Brears e Gordon Lampers para dar continuidade as investigações. Logo eles se veem envolvidos com pessoas que mantém vivo um culto a Dagon. Aqui Alan Moore traz uma personagem feminina como protagonista e assim subverte totalmente a misoginia de Lovecraft. Além disso, o sexo, ausente nos contos do Mestre Do Horror Cósmico, aqui está fortemente presente. E quando digo fortemente, quero dizer um surubão com direito ao Kid Bengala dos seres abissais.

E como em “Porvidence”, onde Alan Moore cria um desfecho que até mesmo Lovecraft ficaria surpreso e impressionado, em “Neonomicon” ficamos cientes por meio de Merril Brears que os Grandes Anciãos não são antigos. Um final original cheio de respeito pelo Cthulhu Mytos.

“Neonomicon”, é uma HQ mais contida quando a comparo com “Providence”, que tem uma história muito mais ampla, explorando um espaço muito maior no universo literário do Mestre do Cosmicismo. Mas mesmo sendo uma história mais contida, “Neonomicon” consegue ser muito rica em detalhes e instigante aos olhos dos leitores.

E mais uma vez, ficou provado porque Alan Moore considera Jacen Burrows o seu artista favorito. Não é preciso dizer muito sobre o desenhista americano, só que ele consegue com suas ilustrações captar a dualidade do contemporâneo e da década de 1920 e 1930 que esse o roteiro cheio de detalhes e nuances possui, além de dar todo aquele ar de irrealismo e misticismo que só uma história baseada em Lovecraft tem.

Independentemente se forem ou não novas reescrituras dos contos de Lovecraft, espero muito que a dupla Moore / Barrows nos brindem com novas HQs, pois pouquíssimas vezes vi uma união tão perfeita entre roteiro e arte. Uma união que eleva o trabalho do outro: o roteiro de Alan Moore embasa e enaltece a arte de Jacen Burrows, e as ilustrações de Jacen Burrows engrandecem a história de Alan Moore.

Depois de tudo que escrevi é claro que meu veredicto só poderia ser que vale muito a pena ler “Neonomicon”!

Ficha Técnica

Título Original: Neonomicon

Título no Brasil: Neonomicon

Autor: Alan Moore

Ilustrador: Jacen Burrows

Tradutor: Guilherme Braga

Capa: Dura

Número de páginas: 184

Editora: Panini

Idioma: Português

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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