SINOPSE: A enfermeira Mildred Ratched (Sarah Paulson) procura emprego no Hospital Estadual de Lucia, local que vai receber um novo paciente psiquiátrico: o famoso assassino Edmund Tolleson (Finn Wittrock).
Com certeza um dos nomes mais fortes e influentes dentro da indústria da TV (e agora dos streamings), é Ryan Murphy. Produções como “Glee”, “American Horror Story” (AHS) e “American Crime Story” (ACS), o consagraram como um dos maiores criadores de série do século XXI. Aclamado pela crítica e pela audiência, vencedor de prêmios como Emmy e Globo de Ouro, seu passe se tornou extremamente valorizado e disputado, e em 2018, Ryan Murphy assinava um contrato de exclusividade de cinco anos com a Netflix em valores aproximados de US$ 300 milhões (e encerrando de certa forma, uma parceria de 15 anos com a Fox).
“Ratched”, série resultante dessa nova parceria Ryan Murphy / Netflix (que tem como uma das empresas produtoras a Fox 21 Television Studios) , é sobre a personagem de mesmo nome do romance de Ken Kesey de 1962, “Um Estranho no Ninho”. Essa produção serve de prequel para os acontecimentos do livro, e traz Sarah Paulson no papel da enfermeira Mildred Ratched.
De todos os acertos na carreira de Ryan Murphy, com certeza ter descoberto Sarah Paulson foi o maior. Desde sua participação na primeira temporada de “AHS”, ela se tornou sua queridinha e teve presença garantida em quase todas as suas produções (ela não trabalhou em “AHS: 1984”). O extremo talento da atriz juntamente com os papéis escritos na medida por Ryan Murphy a lançaram ao reconhecimento mundial, sendo aclamada por público e crítica especializada, além de constantemente ser indicada às principais premiações que lhe renderam um Emmy, um Globo de Ouro, um SAG Awards, dois Satellite Awards e três Critics’ Choice Television Awards.
Esse imenso parágrafo acima sobre de Sarah Paulson é para encurtar a conversa e dizer que em “Ratched” a atriz mais uma vez entrega aquilo que esperamos dela: uma atuação sensacional e praticamente irretocável, que coloca todos os demais atores que contracenam com ela no papel de coadjuvantes. A série é Sarah Paulson, simples assim!
Falando ainda de atuações, “Ratched” reserva boas e agradáveis surpresas. Se Sarah Paulson é o nome que ofusca seus companheiros de cena, Judy Davis não se intimida e divide os holofotes de igual para igual interpretando Betsy Bucket, a bizarra e hilária enfermeira-chefe do Hospital Estadual de Lucia (que me lembrou muito a senhorita Jane Hathaway (Lily Tomlin) do filme “A Família Buscapé) . A atriz entrega uma personagem cheia caras e bocas e de trejeitos esquisitos (a cena onde ela aprende a dançar é hilária e toda a forma como ela demonstra sua paixonite pelo dr. Hanover (Jon Jon Briones) é engraçadíssima).
Além de Sarah Paulson e Judy Davis, “Ratched” tem no elenco Vincent D’Onofrio (o Rei do Crime da falecida e saudosa série “Demolidor”) como o governador da Califórnia George Milburn, e Sharon Stone (a mulher detentora da cruzada “Viagra” de pernas) como Lenore Osgood. Suas atuações são seguras e demonstram que suas presenças fazem falta seja na TV, cinema ou streaming. Aliás, uma das coisas Ryan Murphy faz muito bem é trazer aos holofotes atores e atrizes que são conhecidos e que estão perdidos no mundo do ostracismo, sendo o maior exemplo disso Jessica Lange (a eterna mocinha de “King Kong” de 1976). Por isso, espero muito mesmo que ele faça isso com Sharon Stone e Vincent D’Onofrio, e que suas presenças não sejam somente para essa produção.
Falando um pouco da estética de “Ratched”, Ryan Murphy abusa das cores supersaturadas, que passa a impressão de estarmos vendo filmes em preto e branco colorizados pelo processo Technicolor. Como a série se passa no fina da década de 1940, faz todo sentido utilizar essa fotografia que passa a sensação dos longas-metragens coloridos da época. Ryan Murphy sempre trabalhou muito bem a ambientação e figurino em suas produções, e em “Ratched” não é diferente.
Todos esses elementos: as atuações, os roteiros, a fotografia, os cenários e o figurino; são utilizados de forma a passar a sensação de bizarrice em “Ratched”, que é um sentimento comum em “AHS”. Mas apesar de estar classificado como terror psicológico no IMDb, a série me pareceu muito mais um drama e um suspense. “Ratched” me passou a impressão de um “AHS: Asylum” soft: existe a intenção de querer ser esquisita e gore, mas fica só na intenção.
Como “Ratched” é baseado em Mildred Ratched, personagem existente no livro “Um Estranho no Ninho”, que não li (e nem vi o filme protagonizado Jack Nicholson e Louise Fletcher), pesquisei um pouco sobre a personagem, e o que encontrei é bem diferente do que é mostrado na série da Netflix. Na obra literária (e no longa-metragem) a enfermeira-chefe Ratched suprime as ações de seus pacientes por meio de uma rotina passivo-agressiva, intimidando os internos (chegando ao extremo de fazer sessões de eletrochoque só para reforçar sua autoridade). Na série, a personagem interpretada por Sarah Paulson possui uma personalidade bem diferente: inteligente, sorrateira e mentirosa, mas dona de uma humanidade que muitas vezes a leva a ajudar os pacientes que estão sendo literalmente torturados em nome da psicologia da época. Mas por se tratar de um prequel, acredito que se houver uma renovação para mais temporadas, Ryan Murphy vai mostrar a evolução dessa enfermeira 99% manipuladora e 1% boazinha, para a carrasca do livro.
Pela forma como a Netflix vendeu “Ratched” para os espectadores e pelo nome de Ryan Murphy envolvido, a assisti esperando uma série de terror. Mas a série é muito mais um drama e um suspense com a assinatura única do criador de “Glee”, “AHS” e “ACH”. Fiquei muito em dúvida em dar meu veredicto pela a história ser “tanto faz, tanto fez”, mas pela qualidade técnica e pelo elenco talentoso, digo, sem empolgação (o famoso nhééé), que vale a pena ler “Ratched”.
Ficha Técnica:
Título Original: Ratched
Título no Brasil: Ratched
Gênero: Drama, Suspense
Temporada: 1
Número de episódios: 8
Criadores: Ryan Murphy, Evan Romansky
Produção: Paul Zaentz, Todd Nenninger, Eric Kovtun, Lou Eyrich, Eryn Krueger Mekash, Sara Stelwagen, Tanase Popa
Elenco: Sarah Paulson, Finn Wittrock, Cynthia Nixon, Jon Jon Briones, Charlie Carver, Judy Davis, Sharon Stone, Corey Stoll, Vincent D’Onofrio, Alice Englert, Amanda Plummer, Jermaine Williams, Annie Starke, Brandon Flynn, Sophie Okonedo, Michael Benjamin Washington
Companhia(s) produtora(s): Further Films, Lighthouse Management + Media, Ryan Murphy Television, Fox 21 Television Studios
Transmissão: Netflix