Pines de Blake Crouch
SINOPSE: O agente secreto americano Ethan Burke chega à aparentemente pacata cidade de Wayward Pines, em Idaho, Estados Unidos, com a missão de descobrir o que ocorreu com dois de seus colegas, que sumiram sem deixar rastro. Mas, ao chegar, Burke se envolve em um violento acidente de carro e acorda, dias depois, em um hospital da cidade sem sua carteira, seu celular e a pasta que continha os papéis secretos que o levaram até a região. Sem nenhum documento que confirme sua identidade, o agente não convence os moradores da cidade de que é quem diz ser. Para piorar a situação, ele não consegue contatar sua mulher e filho. Rapidamente, Burke percebe que nem tudo é o que parece ser em Wayward Pines e que o cenário bucólico do lugar esconde algo sinistro
Em 2015 estreava na Fox, “Wayward Pines”, série que adaptava o livro escrito por Blake Crouch. Uma das características da escrita do autor são as mudanças radicais no rumo de suas histórias. Em “Recursão”, começamos com o mundo assolado pela doença SFM (Síndrome da Falsa Memória) e do meio para o fim, nos vemos envolvidos em viagens no tempo. Em “Pines” não é diferente, mas nesse caso achei a reviravolta muito mais interessante.
Blake Crouch constrói com uma certa maestria uma trama cercada de suspense e mistério, contada pelo ponto de vista de Ethan Burke, que logo percebe que existe algo de errado com a cidade onde se encontra. O primeiro sinal de esquisitice descoberto são caixas de som escondidas em arbustos que emitem o cricrilar dos grilos. Daí para frente as coisas só ficam mais confusas e bizarras: um muro alto e eletrificado que cerca toda Wayward Pines, que tem como objetivo impedir das pessoas irem embora; os habitantes felizes e passivos demais, o enigmático dr. Pilcher. À medida que investigação prossegue, sua vida começa a ser ameaçada, mas se está ruim e perigoso dentro do muro, do lado de fora pode ser muito pior. Aliás, o próprio Ethan Burke é rodeado de segredos, que quando revelado mostra que essa não é sua primeira visita a Wayward Pines, e que ele pode não ter o controle sobre sua própria vida.
A grande revelação que muda totalmente nossa percepção ao que pensávamos lendo “Pines” é feita nas páginas finais. E mesmo com algumas pistas dadas por Blake Crouch no começo do livro, o plot twist é realmente surpreendente e totalmente inesperado.
Utilizando somente o hype da estreia da série para promover “Pines”, a editora Planeta esperava obter uma boa quantidade de edições vendidas. Mas acredito que o resultado não foi satisfatório em termos de custo/ benefício, pois o que se observa é que a editora não demonstra interesse em lançar os demais livros da trilogia, e a Intrínseca está focada nas obras mais atuais de Blake Crouch. Particularmente fico chateado, pois além de ser mais uma série literária a não ser concluída no Brasil, “Pines” demonstra ser uma história muito mais interessante que os demais títulos do autor lançados por aqui.
Esse livro não entrará na minha lista de melhores leituras, mas tem seus méritos por conduzir e desenvolver muito bem o mistério da história e por providenciar uma reviravolta que muda completamente a percepção do leitor. Por esses motivos, digo que vale a pena ler “Pines”.
Faca de Água de Paolo Bacigalupi
SINOPSE: Num futuro árido e tumultuado, em que a água ganhou o status de commodity mais valiosa, o direito de uso das fontes e dos rios é alvo de disputas ferrenhas. Uma guerra entre governos, órgãos públicos e empresários, na qual vale tudo. Enquanto advogados e burocratas armam-se com infinitos processos judiciais, mercenários e militares subjugam proprietários de terra, implodem estações de tratamento e interrompem o abastecimento de regiões inteiras. Nesse cenário surge Angel, um faca de água, um dos muitos mercenários com a missão de cortar e desviar o fornecimento de água a mando de quem paga mais. Lucy é uma jornalista premiada que decidiu revelar para o mundo a realidade da Grande Seca. Maria é uma jovem cuja vida foi destruída pelos efeitos das mudanças climáticas. Quando o direito de usar a água significa dinheiro para alguns e sobrevivência para outros, o que esses três personagens não sabem é que seu encontro é um marco que poderá mudar tudo. Um novo fiel da balança que sempre pendeu para o mesmo lado.
Cada vez mais vemos livros de ficção científica que tem como plot principal possíveis cenários apocalípticos que podem advir de desastres ambientais, e que acabam figurando nas principais premiações literárias (Hugo, Nebula e Locus). Nesse ponto, Paolo Bacigalupi chama bastante a atenção por ter ganhado vários prêmios.
“Faca de Água” é a primeira obra de Paolo Bacigalupi publicada no Brasil. A trama do livro se passa nos Estados Unidos devastado pela seca, causada pelo aumento do calor e pela extrema escassez de água, que passa a ser disputada por grandes corporações e estados americanos. A forma como o escritor desenvolve esse cenário é sensacional, descrevendo como a diminuição cada vez maior das reservas do líquido que nos permite viver, passa a ser objeto não de sobrevivência, mas da ganância corporativa. Essa falta cada vez maior de água promove profundas mudanças geopolíticas: o surgimento do Estado de Nevada e do Cartel (antes conhecido como México, mas agora controlado pelos traficantes de drogas), o surgimento de uma Califórnia extremamente poderosa e o governo federal reduzido a meros mediadores quando a disputa pela água se torna violenta demais.
Paolo Bacigalupi aqui faz uma crítica social onde os ricos (chamados de “cinco dígitos” no livro) vivem nas arcologias, imensas torres onde a água é abundante, jorrando de fontes e armazenadas em lagos e piscinas; e os que estão na parte de baixo da pirâmide social, que precisam batalhar dia a dia para poder comprar água e não morrerem. Nessa questão, enquanto lia a forma como os menos afortunados viviam, me vinha muito a cabeça o filme “O Preço do Amanhã”.
Mas o que mais gostei é como Paolo Bacigalupi descreve o ocaso de uma cidade quando o suprimento de água é cortado. É surpreendente a forma como o escritor mostra a linha temporal e descreve os acontecimentos que se sucedem quando uma localidade cheia de pessoas vai a completa ruína sem água.
Outro ponto bastante interessante é como as novas corporações e os estados estadunidenses batalham pela água, chegando ao extremo de explodir barragens, não importando a destruição de cidades e a morte de dezenas de milhares de pessoas que resultam desse ato terrorista. Vale tudo, afinal, no mundo de “Faca de Água” quem controla a água, controla tudo.
Mas ao mesmo tempo que Paolo Bacigalupi traz um cenário rico, interessante e plausível em “Faca de Água, seus protagonistas são extremamente clichês. Lucy é a típica jornalista que primeiro quer publicar histórias para ganhar prestígio e fama e ao longo da história vai adquirindo consciência, passando a lutar pelos menos favorecidos da cidade de Phoenix. Mas se fosse elencar o pior personagem, com certeza esse seria Angel, o faca de água que trabalha para Nevada, pois o que se vê, é um agente bem chinfrim, que não satisfaz as expectativas criadas pelo título do livro e pelas sinopses, que o vendem como o mercenário mega-power fodão. Quer mais clichê, então toma: Lucy é bonita e Angel é feio e desfigurado por uma cicatriz, que se odeiam e não confiam um no outro quando se conhecem e acabam engatando um romance.
A única personagem que realmente me agradou, apesar de ser mais um clichê narrativo, foi Maria. Sua personalidade e sua história são muito bem desenvolvidas e o núcleo onde ela está inserida é muito interessante, com direito a uma espécie de mafioso sociopata que tem hienas como animais de estimação. Aliás, o final de “Faca de Água”, que se encaminhava para um “felizes para sempre”, é salvo por Maria, o que me fez gostar mais ainda dela.
“Faca de Água” tem uma premissa muito bem trabalhada (um mundo com extrema escassez de água) que resulta em ótimas ideias, mas que toma o caminho de uma história clichê e previsível. Por esse motivo, digo que não vale a pena ler “Faca de Água”.
![]() | Ficha Técnica: Título Original: Pines Título no Brasil: Pines Autor: Blake Crouch Tradutora: Monique d’Orazio Capa: Comum Número de páginas: 344 Editora: Planeta Idioma: Português |
![]() | Ficha Técnica: Título Original: The Water Knife Título no Brasil: Faca de Água Autor: Paolo Bacigalupi Tradutor: Alexandre Raposo Capa: Comum Número de páginas: 400 Editora: Intrínseca Idioma: Português |