The Last of Us (abreviado para TLoU) é uma franquia de jogos eletrônicos de ação-aventura e survival horror exclusiva da PlayStation, criada por Neil Druckmann. É amplamente aclamada pela crítica e pelo público, com todos os títulos lançados tendo grande sucesso. O primeiro jogo, lançado em 2013 (com uma versão remasterizada lançada em 2014), se tornou um dos jogos mais vendidos do PlayStation e é considerado um dos melhores jogos da história, tendo vencido mais de 200 prêmios de Jogo do Ano.

The Last of Us

Sempre digo que produções que trazem um cenário pós-apocalíptico causado pelas mais variadas criaturas (zumbis, vampiros, alienígenas, demônios, pessoas infectadas, etc.), sempre vão ter elementos que já são clichês, e fugir deles é quase impossível devido a quantidade enorme de livros, filmes, séries e jogos com essa temática. Sendo assim, não posso simplesmente chegar aqui e falar que “The Last of Us” possui uma história revolucionária nessa questão.

Em “The Last of Us” um surto de uma mutação do fungo parasita Cordyceps (que existe na vida real e geralmente parasita insetos, repondo seus tecidos e passando a controlar seus comportamentos), arrasa os Estados Unidos em setembro de 2013, matando ou infectando aproximadamente 60% da humanidade em poucos meses. Na franquia, não há detalhes de como a infecção do fungo avançou de insetos para humanos (o que é considerado impossível na vida real), apenas diz que houve uma “mutação” e que a infecção se espalhou rapidamente devido a plantações contaminadas. O fato de “The Last of Us” apresentar um fungo como vetor da transformação de seres humanos em criaturas violentas e canibais é algo inovador. Outra novidade que achei interessante são os estaladores: infectados cegos devido ao crescimento do Cordyceps e que utilizam a ecolocalização para se moverem e localizarem as coisas.

Mas como disse no começo dessa resenha, “The Last of Us” não foge de alguns clichês presentes em outras histórias com a mesma temática como por exemplo os Vaga-Lumes (um grupo paramilitar que se autoproclama a salvação da humanidad), um grupo de  pessoas que se alimentam de carne humana, o comportamento ensandecido dos infectados, que lembra muito o das criaturas do filme “Extermínio”. Até mesmo Joe, um dos protagonistas de “TLoU”, apresenta características vistas em outros personagens que passaram pelo mesmo salseiro.

Com tantos clichês, por que “The Last of Us” é tão diferente das demais histórias com a mesma temática? O que faz a história de “The Last of Us” ser tão incrível?

Admito que acho muito difícil responder as perguntas acima, mas na minha opinião, digo que o motivo para “The Last of Us” ser tão aclamado é por ser extremamente emocional, criando uma conexão tão forte conosco que sentimos os sentimentos presentes na história (desculpem pelo pleonasmo proposital, hehehehe). E para criar essa empatia entre a história e o espectador, “The Last of Us” nos faz acompanhar Joe, Ellie e relação paterna que nasce entre eles.

Joel é um personagem com alguns clichês, mas a forma como é desenvolvido ao longo de “The Last of Us” já mostra que o foco são suas emoções. Logo no começo de “TLoU”, vemos a relação amorosa entre ele e sua filha Sarah, com eles na sequência escapando junto com seu irmão Tommy do caos causado pelo surto de Cordyceps. Nessa tentativa de fuga, Sarah acaba sendo baleada por um soldado e morrendo nos braços de Joel. Escrevendo dessa forma não parece nada demais, mas por trás dessa sequência trágica existe toda uma carga emocional que quando chegamos no assassinato de Sarah, sentimos a dor de Joel (eu mesmo que fiquei com aquele famoso nó na garganta).

Após 20 anos após essa tragédia, vemos Joel totalmente amargurado e descrente, sobrevivendo nessa mundo pós-apocalíptico como contrabandista. O típico protagonista de uma histórias como essa não é mesmo? Mas é com o aparecimento de Ellie que Joel adquire várias camadas e se torna um personagem complexo e identificável conosco.

Mas a grande estrela de “The Last of Us” atende pelo nome de Ellie, uma adolescente inteligente, esperta e destemida. Mas ao mesmo tempo que estamos diante de uma pessoa talhada para encarar esse mundo brutal sem medo, nossa protagonista possui uma pureza que nos emociona e nos conquista de imediato. E para dar essa profundidade à personagem, a história intercala de forma inteligente cenas onde temos Ellie encarando com coragem os infectados com sequências onde ela se surpreende com coisas do mundo antes do surto de Cordyceps, sendo o mais emocionante quando ela se depara pela primeira vez com girafas. Essas características fazem de Ellie a adolescente que todos os pais gostariam de ter como filha.

 

A dinâmica entre Joel e Ellie é construída de forma cadenciada e sem pressa, fazendo com que os dois personagens cresçam ainda mais e tornem “The Last of Us” em uma história de redenção e amor pelo próximo. Joel que vê em Ellie uma oportunidade de exorcizar os demônios que surgiram em sua consciência desde a morte de Sarah . Ellie que vê em Joel uma chance de viver, nem que por pouco tempo, com uma pessoa que a protege e que não a abandonou. Essa relação que surge entre eles rende momentos tanto divertidos como tensos, como uma típica relação de pai e filha é.

“The Last of Us” tem uma trilha sonora sensacional. Composta por Gustavo Santaolalla, cada nota e sequência musical se encaixa com perfeição ao momento que estamos vendo, traduzindo e reforçando toda a carga emocional que a história possui. Ao invés de falar sobre as músicas de “TLoU”, aconselho a ouvi-las enquanto estiver acompanhando a jornada de Joel e Ellie, e assim você entenderá o que quero dizer.

Quanto as cenas de ação e de terror, as achei bem fracas e foram poucas em que fiquei realmente empolgado ou tenso. Enquanto que em outras tramas com a mesma temática as sequências dramáticas são utilizadas como forma de baixar a adrenalina do espectador, em “The Last os Us” é ao contrário: as cenas de ação e de terror são utilizadas para trazer empolgação e apreensão e dar uma aliviada no foco principal que é a carga emocional que a história quer nos imprimir.

O objetivo de descobrir uma cura a partir da imunidade de Ellie só seria alcançada com seu sacrifício. Mas Joel, que criou um forte laço sentimental com a adolescente, não admite essa possibilidade e no processo para salvá-la, mata todos. O problema é que Ellie via na sua imunidade e nesse objetivo, uma forma de dar sentido à sua vida, o que força Joel a mentir para ela dizendo que sua morte seria em vão, que a busca pela cura era uma missão fadada ao fracasso. Esse final deixa os espectadores totalmente apreensivos com relação ao futuro da relação de pai e filha que surgiu entre Joel e Ellie.

Resumindo sobre os aspectos técnicos, posso dizer que “The Last of Us” possui um roteiro escrito com excelência, uma trilha sonora composta e executada com primor e dois protagonistas complexos e multifacetados. E para finalizar, admito que para realmente entender o que estou tentando exprimir em palavras, é necessário vivenciar essa história. Só vivenciando “The Last of Us” para compreender como uma história é capaz de criar nos espectadores uma ligação tão forte a ponto de sentirmos como se fossem nossos, os sentimentos de Joel e Ellie.

“The Last of Us” é uma das grandes histórias do século XX, e por esse motivo vale muito, muito, muito a pena vivenciá-la.

 

Ficha Técnica:

Título Original: The Last of Us

Título no Brasil: The Last of Us

Gênero: Ação-Aventura, Survival Horror

Criador: Neil Druckmann

Diretores: Bruce Straley, Neil Druckmann

Projetista: Jacob Minkoff

Programadores: Travis McIntosh, Jason Gregory

Elenco: Troy Baker, Ashley Johnson, Merle Dandridge, Annie Wersching, Jeffrey Pierce, William Earl Brown, Brandon Scott, Nadji Jeter, Nolan North, Yaani King, Hana Hayes

Compositor: Gustavo Santaolalla

Desenvolvedora: Naughty Dog

Publicadora: Sony Computer Entertainment

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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