SINOPSE: Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás.
A Intrínseca é uma das poucas editoras que vem mantendo um nível de lançamentos de livros parecido com o do ano passado. Muito dessa constância se deve a uma reformulação na forma de promover seus lançamentos como o uso inteligente das redes sociais, stands e a presença de autores nacionais e internacionais em feiras e eventos literários (agora com a pandemia de Covid, em bate-papos via live).
Na linha editorial da Intrínseca vejo dois autores que são seus carros-chefes de vendas. Um deles é Josh Malerman que arrebatou o Brasil e o mundo com sua obra de estreia: “Caixa de Pássaros”. A partir daí o escritor se tornou uma aposta rentável para a editora, mesmo seus outros livros serem bem fracos quando comparado ao espetacular “Caixa de Pássaros” (minha opinião é em relação a “Piano Vermelho” e “Uma Casa no Fundo do Lago”). O outro carro-chefe da Intrínseca é a escritora C. J. Tudor.
“O Homem de Giz” é o primeiro livro de C.J. Tudor lançado no Brasil. E para essa estreia em terras tupiniquins a Intrínseca lançou uma edição caprichada em capa dura, com pintura trilateral, arte na lombada e nas guardas e o miolo em papel pólen. E como diriam os chefs famosos: “Apresentação é fundamental”. Nesse ponto é preciso parabenizar a editora, pois vários outros livros dela estão sendo lançados com esse cuidado gráfico.
E quanto a história de “O Homem de Giz”? Bom primeiro que devo alertar que o toque sobrenatural que o livro possui é muito, mas muito sutil mesmo, sendo relegados a pouquíssimas situações que ocorrem com Eddie, nosso protagonista. Então se seu interesse por essa obra for o aspecto sobrenatural, provavelmente se decepcionará.
“O Homem de Giz” é um livro de suspense que envolve a morte de uma adolescente na floresta, que tem o corpo esquartejado e a cabeça decepada (e que está desaparecida). E como esse corpo é encontrado? Através de “bonecos palitos” desenhados em vários locais. Além dos mistérios que envolvem esse crime brutal, outros segredos são apresentados ao leitor que envolvem vários personagens da trama e que podem ou não ter relação com o assassinato dessa adolescente.
A trama desenvolvida por C.J. Tudor não é nenhuma novidade: crimes e segredos em uma cidade do interior. O que mais chama a atenção do leitor são os “bonecos-palitos” desenhados em vários locais e descobrir qual a relação deles com os mistérios apresentados no livro. A escritora coloca vários plot twists ao longo da história na tentativa de prender nossa atenção. Devo dizer que alguns funcionam muito bem e outros só foram utilizados para estender a trama. Algumas dessas reviravoltas tem respostas simples e cotidianas que me agradaram bastante, pois mostra que nem todos os mistérios e segredos estão ligados ao assassinato da adolescente.
A escrita de C.J. Tudor fica no meio-termo entre uma leitura rápida e vibrante e uma experiência mais densa e devagar. E acho que esse é o grande fator que acaba cativando o leitor, pois mesmo “O Homem de Giz” sendo um livro pequeno (272 páginas), nossa sensação é de que lemos muito mais. Com uma escrita simples, a escritora consegue apresentar e desenvolver os personagens e os locais onde a trama acontece, mostrando as características necessárias para isso. C.J. Tudor seria uma versão fitness de Stephen King na hora escrever: econômica, mas eficiente (não que o Mestre King não seja eficiente, mas em algumas obras dele, existem verdadeiras barrigas narrativas).
Por falar em Stephen King, C.J. Tudor é fã das obras do Mestre do Terror. E isso fica bem claro quando a escritora cria sua própria versão da guerra de pedras que existe em “It: A Coisa”. O próprio grupo de amigos de Eddie é uma espécie de homenagem ao “Clube dos Perdedores”.
C.J. Tudor têm um ritmo narrativo parecido com o de Josh Malerman. Um forma de escrever que acaba nos cativando ao longo da leitura, mesmo que as histórias sejam medianas. E é isso que “O Homem de Giz” me pareceu: um livro mediano, mas que te instiga a ler. Ao final da leitura não colocarei o romance de estreia da escritora entre minhas melhores leituras do ano, ou da década, ou em nenhuma lista.
Por se mostrar como um bom uso do meu tempo disponível, e por ser uma leitura divertida, posso dizer que vale a pena ler “O Homem de Giz”!
P.S.: C.J. Tudor fecha todas as pontas soltas e responde a todos os mistérios apresentados em “o Homem de Giz”, mas ou eu não pesquei a resolução ou esse acontecimento ela deixou passar: os “bonecos palitos” desenhados no crime e vandalismo que ocorre na igreja. Quem os desenhou?
![]() | Ficha Técnica: Título Original: The Chalk Man Título no Brasil: O Homem de Giz Autor: C. J. Tudor Tradutor: Alexandre Raposo Capa: Dura Número de páginas: 272 Editora: Intrínseca Idioma: Português |