SINOPSE: A trama acompanha a tentativa de uma família de viver tranquilamente no campo, até serem atingidos por um organismo alienígena que se materializa em cores. Ele acaba infectando as mentes e corpos dos humanos, transformando o sonho da família de Nathan Gardner (Nicolas Cage), em pesadelo.
“A Cor Que Caiu Do Céu” é um dos muitos filmes que fora afetados pela pandemia do Covid e por isso não pôde estrear nos cinemas. O longa-metragem é levemente baseado no conto homônimo do mestre do Horror Cósmico, H. P. Lovecraft. Mas antes de fazer comparações, vamos falar da produção cinematográfica.
Escrito e dirigido por Richard Stanley, “A Cor Que Caiu Do Céu” custou cerca de US$12 milhões. Uma produção possuir um baixo orçamento não significa que os efeitos especiais precisem ser ruins, mas nesse longa-metragem eles são bem fracos. Até entendo termos um CGI mediano pelo seu alto custo, mas não justifica os efeitos práticos como por exemplo o poço de isopor e as flores de crepom. É claro que estou exagerando nas descrições, mas a ideia é passar para quem está lendo essa resenha a falta de cuidado dos responsáveis pela produção do filme nesse aspecto.
Mas em uma ocasião o CGI e a maquiagem são bem utilizados trazendo a parte mais assustadora e repugnante do filme que envolve a matriarca da família Gardner, Theresa (Joely Richardson) e o filho caçula Jack (Julian Hilliard). Sem dar muito spoiler, a “cor” une mãe e filho de uma forma pavorosa (essa parte me lembrou bastante “O Enigma de Outro Mundo” (1983) e sua sequência “A Coisa” (2011)).
As atuações seguem o padrão mediano do filme. O destaque fica por conta de Nicolas Cage que interpreta Nathan Gardner, patriarca da família, que consegue como ninguém interpretar uma pessoa completamente surtada e alucinada, com suas caras, bocas e trejeitos.
Ao falar do roteiro, chagamos a parte de fazer comparações entre o filme e o material original. Lembra que disse que o longa-metragem é levemente baseado no conto de Lovecraft? Pois é, Richard Stanley pegou a ideia principal: de algo intangível, uma cor que veio do espaço exterior, que modifica tudo ao seu redor. Para chegar a essa conclusão, reli o que Lovecraft escreveu, e percebi que muitos elementos do conto foram alterados ou simplesmente ignorados.
Uma das coisas que mais chama atenção no conto de Lovecraft é o que a cor do espaço exterior faz ao nosso mundo. Como uma espécie de câncer, esse ser alienígena altera e deteriora tudo ao seu redor. O filme até mostra o pomar da família Gardner dando frutos grandes e vistosos que possuem um gosto horrível, mas ignora outros elementos que no material original passam a sensação de podridão e repugnância, de uma coisa que jamais deveria entrar em contato com nosso mundo, como por exemplo as cinzas que cobrem tudo na fazenda e em torno.
“A Cor Que Caiu do Céu” é um conto que trabalha mais com os sentidos de quem lê. Somos transportados para um ambiente de horror e podridão. A escrita de Lovecraft nos traz o cheiro, a luminescência, as cinzas que são consequências da atuação da “Cor” em nosso mundo. E ao relatar as deformidades monstruosas que esse ser alienígena causa às pessoas e animais é mais sugerida que realmente mostradas, permitindo que a imaginação do leitor trabalhe e crie os cenários. Exemplo disso é a matriarca da família Gardner que passa a grunhir, gritar e falar palavras desconexas no começo, para se transformar em algo tenebroso que nenhuma mente humana deveria entrar em contato e por esse motivo é incapaz de processar.
Poderia fazer mais comparações, mas o que quero dizer é que o conto escrito por Lovecraft trabalha de forma escalonada o terror psicológico nas pessoas, começando com a queda do meteorito e a liberação da cor no solo da família Gardner, e aos poucos vemos pequenas alterações aqui e ali, para evoluir para um cenário insano e horrível onde o simples fato de ficar à noite sob um céu sem nuvens trazem calafrios por estarmos expostos ao que existe nos espaços vazios entre as estrelas.
“A Cor Que Caiu do Céu” diverte, mas não faz juz ao legado criado por Lovecraft e muito menos à expectativa criada pelos produtores e pelo diretor, que disseram que esse seria o primeiro de uma espécie de “Lovecraftverso”, um universo compartilhado de filmes baseados nas obras de Lovecraft. E o final do longa-metragem deixa um gancho para uma possível sequência quando a cor sobe aos céus, mostrando a Ward Phillips (Elliot Knight) imagens de um mundo totalmente diferente e impossível de ser explicado por nossos sentidos, e que esse ser é uma espécie de mensageiro dessa realidade insólita (algo inexistente nos livros).
Gostaria muito que algum estúdio realmente abraçasse o universo criado por H. P. Lovecraft para que finalmente pudéssemos ver nas telonas os Deuses Anciões como Cthulhu, Shub-Nigurath, Nyarlathotep, Yog-Sothoth e Azathoth em sua total majestade e horror.
“A Cor Que Caiu Do Céu” fracassa como uma adaptação cinematográfica à altura do material original de Lovecraft, mas vale a pena ser assistido do ponto de vista da diversão.
Ficha Técnica:
Título Original: Color Out of Space
Título no Brasil: A Cor Que Caiu Do Céu (não oficial)
Gênero: Horror Cósmico
Duração: 111 minutos
Direção: Richard Stanley
Produção: Daniel Noah, Josh C. Waller, Elijah Wood, Lisa Whalen
Roteiro: Richard Stanley, Scarlett Amaris
Elenco: Nicolas Cage, Joely Richardson, Madeleine Arthur, Brendan Meyer, Julian Hilliard, Elliot Knight, Q’orianka Kilcher, Tommy Chong, Josh C. Waller
Companhia(s) produtora(s): SpectreVision
Distribuição: RLJE Films