SINOPSE: Um lugar misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma oportunidade de solidariedade.

A Netflix cada vez mais adquire os direitos de exibição de materiais que não tem origem estadunidense. Essa tática além de ser mais barata (por não ter custo de produção), também é mais assertiva no sentido de conquistar o público (pois muitas vezes já foram vistos). “O Poço” é um filme espanhol que foi exibido no circuito europeu em 2019 e que estreia esse ano na líder mundial de streaming.

“O Poço” começa com Goreng (ván Massagué) acordando em uma cela de concreto marcada com o número 48. Seu colega de cela, Trimagasi (Zorion Eguileor), explica que eles estão em uma prisão em estilo de torre na qual os alimentos são entregues através de uma plataforma que viaja de cima para baixo através do poço no centro. Aqueles em níveis mais baixos só conseguem comer o que aqueles que estão no topo os deixam. Todo mês, os prisioneiros são designados para um novo nível.

O filme faz uma clara alusão a sociedade que vivemos. Os prisioneiros que estão nos andares mais altos dessa prisão possuem uma condição melhor: suas celas são mais limpas, mais organizadas e podem comer bem. À medida que descemos, vamos vendo a degradação humana: pessoas doentes, loucas ou violentas (as vezes as três coisas ao mesmo tempo), além da escassez de alimentos ao ponto de não ter nada na plataforma que leva comida, fazendo com que os detentos tenham que recorrer a medidas nada convencionais (e uma vez que são duas pessoas por andar, você pode deduzir o que acontece quando a fome aperta).

Na plataforma existe a comida que cada detento mais gosta, o que resulta em alimento para todos no Poço, correto? Errado, pois o que vemos no filme é que as pessoas, principalmente nos andares superiores comem não só seu prato preferido, mas o dos outros também, e assim geram a escassez para os detentos que vivem nos andares mais baixos. Essa é outra referência à nossa situação atual: em um mundo onde a produção de alimentos é capaz de alimentar todos os habitantes do planeta, o que vemos são os que vivem no topo da pirâmide social poderem desfrutar de sua situação favorável, muitas vezes não se preocupando com quem vive abaixo deles.

Para piorar a situação dos presos do Poço, e torná-los assim pessoas que lutam somente por eles mesmos, é que a cada mês eles são transferidos para outro nível. O que significa que o detento que está comendo do bom e do melhor pode acabar em um andar onde não chega comida, e vice-versa. Isso gera o sentimento de “vou pensar em mim e foda-se o resto”, afinal em um dia estou comendo a mim mesmo e no outro estou comendo faisão, então é melhor aproveitar.

Além dessas referências, outra coisa que gostei no filme, é que essa luta pela sobrevivência me arremeteu a livros como “O Senhor das Moscas” e a filmes como “Vivos”, onde as pessoas diante de uma grande adversidade são capazes de deixar as convenções sociais de lado, e agirem pelo puro instinto de não morrer.

Vi muita gente falando que “O Poço” é o melhor filme do ano. Mas apesar de um ótima premissa e um bom desenvolvimento narrativo, o final estragou o filme por ser simplesmente confuso demais. Vi vários vídeos e comentários, como várias interpretações diferentes, e sei que finais abertos são comuns em filmes, séries, livros e quadrinhos; mas no caso aqui, existe um excesso de metáforas para criar um aura quase espiritual a respeito da “mensagem” que poderia mudar o sistema vigente do Poço. Não adianta nada um história ter um excelente desenvolvimento narrativo se seu desfecho ser ruim. E o final de “O Poço” é ruim.

Vale a pena assistir “O Poço”? Eu só recomendaria caso você não ache nada melhor para ver ou para matar a curiosidade devido ao hype criado em cima do filme.

 

Ficha Técnica:

Título Original: El Hoyo

Título no Brasil: O Poço

Gênero: Suspense, Ficção Científica

Duração: 94 minutos

Direção: Galder Gaztelu-Urrutia

Produção: Carlos Juárez, Raquel Perea

Roteiro: David Desola, Pedro Rivero

Elenco: Iván Massagué, Antonia San Juan, Zorion Eguileor, Emilio Buale, Alexandra Masangkay

Companhia(s) produtora(s): Basque Films, Mr Miyagi Films

Distribuição: Basque Films (Espanha), Netflix

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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