SINOPSE: 1992. Os X-Men são considerados heróis nacionais e o professor Charles Xavier (James McAvoy) agora dispõe de contato direto com o presidente dos Estados Unidos. Quando uma missão espacial enfrenta problemas, o governo convoca a equipe mutante para ajudá-lo. Liderado por Mística (Jennifer Lawrence), os X-Men partem rumo ao espaço em uma equipe composta por Fera (Nicholas Hoult), Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Tempestade (Alexandra Shipp), Mercúrio (Evan Peters) e Noturno (Kodi Smit-McPhee). Ao tentar resgatar o comandante da missão, Jean Grey fica presa no ônibus espacial e é atingida por uma poderosa força cósmica, que acaba absorvida em seu corpo. Após ser resgatada e retornar à Terra, aos poucos ela percebe que há algo bem estranho dentro de si, o que desperta lembranças de um passado sombrio e, também, o interesse de seres extra-terrestres.

Nenhum super-herói ou super-grupo da Marvel, apresentou histórias tão memoráveis ou icônicas como os X-Men. Os Filhos do Átomo, surgiram das mentes geniais de Stan Lee e Jack Kirby. Os X-Men surgiram em uma época em que os movimentos anti-raciais nos EUA ganhavam força. Os mutantes, por serem seres portadores do gene X, tinham habilidades que os tornavam diferentes do homo sapiens. E por causa desse preconceito, eles passaram a ser odiados e caçados pelos homens que os temiam. Isso te lembra alguma coisa? Essa ideia ganha mais força ainda, quando descobrimos que Charles Xavier foi baseado em Martin Luther King e Magneto em Malcolm X.

O sucesso do grupo mutante nos quadrinhos foi instantâneo, mas não só por trazer a questão do preconceito, mas por contar com personagens de diversas etnias, e por trazer histórias que envolvem a amizade e a família (não esqueça desses argumentos, já vamos falar deles).

Na década de 1970, duas pessoas assumiram o comando dos Filhos do Átomo  nas HQs: o escritor Chris Claremont  e o desenhista John Byrne. Graças aos dois, fomos apresentados a duas das mais importantes e icônicas histórias de todos os quadrinhos, sejam elas da Marvel ou da DC: “Dias de Um Futuro Esquecido” e a épica “Saga da Fênix Negra”.

Em 2000, os X-Men estreavam nas telonas, e o sucesso do filme pavimentou o que hoje conhecemos como MCU e o gênero de super-heróis. Em 2003 , tivemos “X-Men 2” considerado por muitos, o melhor filme dos mutantes. Mas como Hollywood vive de trilogias, em 2006 fomos apresentados a “X-Men 3: O Confronto Final”, que foi a primeira tentativa de adaptar a MELHOR história dos Filhos do Átomo: a saga da Fênix Negra.  O resultado dessa adaptação? Fracasso de crítica e de bilheteria (US$459 milhões para um orçamento de US$210 milhões), além da revolta dos fãs por mutilarem o maior evento dos mutantes nos quadrinhos.

Em 2011, a FOX quis fazer um reboot dos X-Men nos cinemas, e contratou Matthew Vaughn para dirigir “X-Men: Primeira Classe”, que considero o melhor filme dos mutantes feito. Mas em 2014, com a volta de Bryan Singer para a direção, fomos apresentados ao péssimo “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”, que descaracterizou completamente a segunda melhor história nos quadrinhos dos Filhos do Átomo (para não falar que o filme é completamente ruim, temos James McAvoy e Michael Fassbeder como Professor X e Magneto respectivamente, e as Sentinelas do futuro que são muito legais). Mas não contentes, Bryan Singer e a FOX trouxeram “X-Men: Apocalipse” em 2016, e cagaram de tudo de vez (desculpe pelo palavreado).

Simon Kinberg, que foi produtor em todos os filmes dos X-Men desde 2000, assumiu a missão ingrata de adaptar novamente a saga da Fênix Negra para as telonas. Ingrata sim, pois os fãs, que seriam os principais consumidores dessa nova produção cinematográfica, viram o grupo preferido de mutantes e suas principais histórias nos quadrinhos tratadas sem nenhum respeito até então. Com isto, o receio e as expectativas negativas a respeito de “X-Men: Fênix Negra” não poderiam ser maiores. O resultado dessa nova tentativa de adaptar ascensão e a queda de Jean Grey: fracasso total de crítica e bilheteria (US$252 milhões para um orçamento, em marketing, de US$200 milhões).

Eu credito esse fracasso gigantesco de “X-Men: Fênix Negra” a dois fatores: interferência do MCU (Marvel Cinematic Universe) e a pressa em contar a história da saga em um único filme.

Quando “X-Men: Fênix Negra” estava em pós produção, houve a compra da FOX pela Disney, e com isso, a interferência direta da Marvel Studios no longa-metragem. O maior exemplo dessa interferência foi a mudança da raça alienígena da qual a personagem da atriz Jessica Chastain faz parte. Na trama original, Simon Kinberg iria utilizar os srkulls, mas Kevin Feige e companhia fizeram mudanças no roteiro de forma que esse filme não tivesse ligação nenhuma com o MCU (os skrulls foram utilizados em “Capitã Marvel”). Além disso, segundo Kinberg, a batalha final seria no espaço, algo muito próximo do que vimos na HQ, com uma possível participação do Império Shiar, raça fundamental para a saga da Fênix. Mas essas ideias também foram vetadas. Ou seja, a Marvel Studios foi fundamental para o fracasso desse filme.

Mas o maior problema de “X-Men: Fênix Negra” é tentar adaptar uma história que levou quatro anos (1976-1980) em um único filme. O próprio escritor Chris Claremont disse que adaptar essa história é complicada, pelo tamanho dela e pela complexidade que ela possui. Chris Claremont e John Byrne nos trouxeram a Força Fênix, uma das entidades cósmicas mais poderosas da Casa de Ideias (e na época, a mais poderosa), então a grandiloquência das HQs era algo que chamava a atenção e enchia os olhos dos leitores. Mas mais que grandes combates, os X-Men eram mais que um grupo super-poderoso, mas uma família de pessoas excluídas e rejeitadas pela a sociedade, por serem diferentes. A saga da Fênix era a conclusão desta história familiar, com conclusões trágicas.

Simon Kinberg traz um filme confuso, que só arranha os elementos da saga da Fênix Negra. Os X-Men no filme, não possuem laços sentimentais, conexões entre os integrantes, logo não são uma família, o que resulta em uma ausência de peso dramático nos acontecimentos que vão acontecendo a medida que Jean Grey vai sendo corrompida pela Força Fênix. Ver Ciclope sofrendo por sua amada se transformar em um monstro, tem um carga de sentimentos muito forte nas HQs, e que no longa-metragem não chega nem perto de nos conectar aos personagens. Esse é somente uma situação que vemos constantemente nos quadrinhos e que estão ausentes nessa produção cinematográfica.

Mas a parte mais prejudicada dessa história, é a morte de Jean Grey. Nos quadrinhos, ao ver que é impossível para ela controlar a Força Fênix, e assim voltar a se transformar em Fênix Negra, acaba se sacrificando bem na frente de Ciclope, seu grande amor. Sua morte mudaria para sempre os rumos dos X-Men nos quadrinhos por muitos anos. No filme, esse desfecho não tem peso nenhum, justamente por não possuir a carga dramática que o material original incute nos leitores. Dessa forma, o sacrifício de Jean Grey e o que acontece com os integrantes dos Filhos do Átomo pouco nos importa.

“X-Men: Fênix Negra” acerta ao nos mostrar que a Força Fênix é uma entidade cósmica. As cenas de combate e ação são bem trabalhadas, mas que em relação ao material original ficam devendo. As atuações de Michael Fassbender e de James McAvoy continuam chamando a atenção. Aliás, gostei muito da decisão em mostrar um Charles Xavier calculista, capaz de decisões egoístas para alcançar seus objetivos. Sophie Turner interpreta muito bem uma Jean Grey atormentada, por mais que o filme não tenha espaço suficiente para desenvolver essa trama melhor.

A saga da Fênix Negra é mais que uma epopeia de grandes proporções, mas uma história que fala de amigos e família, de sentimentos e tragédias. O cinema em sua pressa de fazer dinheiro, não consegue perceber que a maior e melhor história dos X-Men precisa de tempo para ser contada, algo como foi feito na Saga do Infinito.  Acredito que com os direitos cinematográficos dos Filhos do Átomo retornando para a Marvel, em algum momento essa saga será contada nas telonas. E espero que seja contada como merece: com calma, desenvolvendo os laços de amizade e família existentes entre os integrantes dos X-Men, e batalhas e cenas grandiosas como vimos em “Vingadores: Ultimato”.

Às vezes histórias se destacam por serem ruins, e “X-Men: Fênix Negra” se encaixa nessa descrição, sendo nosso destaque negativo de julho de 2019.

 

Ficha Técnica:

Título Original: Dark Phoenix

Título no Brasil: X-Men: Fênix Negra

Gênero: Ação, Super-Heróis

Duração: 114 minutos

Direção: Simon Kinberg

Produção: Simon Kinberg, Bryan Singer, Hutch Parker, Lauren Shuler Donner

Roteiro: Simon Kinberg

Elenco: Sophie Turner, Michael Fassbender, James McAvoy, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Kodi Smit-McPhee, Evan Peters, Alexandra Shipp, Jessica Chastain

Companhia(s) produtora(s): 20th Century Fox, Marvel Entertainment, Bad Hat Harry Productions, The Donners Company, Genre Films

Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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