SINOPSE: “Quando a pessoa morre tomada por muita raiva, nasce uma maldição”. Karen Davis (Sarah Michelle Gellar) é uma jovem americana que está em Tóquio, Japão, para um intercâmbio cultural a fim de créditos para faculdade. Como parte de seu trabalho, ela é chamada para cuidar de uma idosa em sua casa. A idosa, que até então residia sozinha no local, demonstra sinais de deficiência mental relacionada a traumas, o que a impede de se comunicar. Entretanto, Karen passa a presenciar atividades estranhas na casa que a fazem desconfiar da relação da senhora com esses eventos. Por meio de uma antiga lenda japonesa, ela descobre que os espíritos de mãe e filho mortos ali anos atrás arrastam uma onda de fúria por todos aqueles que pisam na casa.

O final da década de 1990 e início dos anos 2000, foram um período bem ruim para o  terror nos cinemas. Tirando a franquia “Pânico” criada por Wes Craven, o público não se sentia atraído para ir ao cinema ver um filme de terror. Mas então, Hollywood deu uma espiada no outro lado do mundo, mais precisamente o Japão, e se encantou pelo J-Horror.

O J-Horror (rótulo dado às produções cinematográficas japonesas de terror), se caracteriza quase em sua totalidade, por tramas que procuram manter um suspense durante quase todo o filme, evitando provocar sustos consecutivos no espectador, sendo estes pontuais. Outra característica são as criaturas sobrenaturais, que quase sempre são onryō, fantasmas presos ao nosso mundo que possuem um forte desejo de vingança, e que normalmente são mulheres (embora existam onry homens), usando roupa branca (cor da vestimenta fúnebre no Japão), e com cabelos longos cobrindo o rosto.

Em 2002, era lançado “O Chamado”, remake do original japonês “Ringu”. O filme dirigido por Gore Verbinski, foi um sucesso de bilheteria (US$249 milhões para um orçamento de US$48 milhões, e ficou no top 10 dos filmes mais assistidos de 2002). Esses números foram o suficientes para que fôssemos inundados por remakes e produções baseado na estética do J-Horror.

E, de todos esse filmes de terror que Hollywood produziu, “O Grito” é o mais fiel à estética do J-Horror.

Lançado pela Sony em 2004, “O Grito” é um remake do original japonês “Ju-On”, e teve produção de Sam Raimi e Robert Tapert, os mesmo que nos deram “The Evil Dead” em 1981. Ou seja, esse filme estava em mãos experientes e competentes. A primeira decisão que a dupla de produtores tomou, foi contratar Takashi Shimizu para a direção, criador e diretor de “Ju-On”. A ideia dessa contratação, era não perder a essência e a estética do original japonês.

O diretor Takashi Shimizu fez pequenas mudanças na história de “o Grito”em relação à “Ju-On”. Como se trata de um remake estadunidense, a protagonista mudou de etnia e foi interpretada por Sarah Michelle Gellar, que foi escolhida devido a sua popularidade por ter interpretado Buffy, a caça-vampiras. A família que vivia na casa amaldiçoada também foi ocidentalizada, e o pivô da desgraça de Kayako, é interpretado por Bill Pullman.

“O Grito” foi filmado em Tóquio, e dessa forma manteve a estética apresentada na produção cinematográfica original, o que na minha opinião, é a grande vantagem em relação aos demais remakes de J-Horror da época. A locação nipônica, ao contrário de “O Chamado”, serve para gerar uma maior imersão do espectador: é uma história sobre uma maldição japonesa que se passa no Japão.

Destaco dois fatores para fazer de “O Grito”, um remake realmente apavorante: o tom da narrativa e Kayako.

A narrativa de “O Grito” é carregada de uma pesada tensão, do primeiro ao último minuto do filme. Uma vez que se entra na casa que pertencia a Kayako, você está amaldiçoado. A partir daí uma sensação de opressão passa a perseguir esses personagens. O suspense latente, mesclado com aparições  rápidas de Kayako e Toshio, vão criando as condições ideais para um desfecho assustador. Como não ficar tenso com a cena onde Kayako vai surgindo aos poucos em uma câmera de vídeo?

https://www.youtube.com/watch?v=bMTBNzXIyqM

 

Essa tensão latente em “O Grito” só torna Kayako ainda mais assustadora. A onryō é muito bem-utilizada no filme. Aparecendo como um vulto passando atrás de uma janela, ou soltando seu “arroto” quando tenta falar, Kayako é uma verdadeira maldição, que vai oprimindo os amaldiçoados aos poucos, até dar o bote final, e desaparecer com quem cruzou seu caminho. Para dar vida a esse espírito enfurecido, foi contratada a atriz Takako Fuji, reprisando o papel feito em “Ju-On”. Takako é uma excelente contorcionista, e executou todos os movimentos que vemos a onryō fazer no filme, conferindo assim um realismo bastante perturbador para  à personagem. Abaixo a icônica cena da escada, onde Takako Fuji realmente executou com maestria.

https://www.youtube.com/watch?v=9PXEejgCxIM

 

Sequências

“O Grito” teve um orçamento de US$10 milhões (estimado) e arrecadou US$298 milhões ao redor do mundo (sendo US$187 milhões somente nos EUA), superando “O Chamado”. Essa arrecadação que superou muito as estimativas da Sony (que estimou uma receita mundial nos cinemas em torno de US$20 a US$40 milhões), foi suficiente para que novos filmes fossem produzidos

“O Grito 2”

O filme agora acompanha Aubrey Davis (Amber Tamblyn), que descobre através de sua mãe (Joanna Cassidy) que sua irmã Karen está em hospital no Japão. Além disto Karen está sendo investigada pela polícia japonesa, devido à morte de seu namorado em um incêndio provocado por ela em uma casa em Tóquio. Decidida a trazer a irmã para casa, Aubrey viaja até o Japão. Mas logo ao chegar ela é avisada pelo fotógrafo Eason (Edison Chen) que Karen está sob a influência de algo invisível e bastante perigoso. “O Grito 2”, mostra que Kayako agora está livre após o incêndio de sua casa, e sua sede de vingança e morte não tem mais limitações. Também vamos saber mais sobre o passado da onryō, revelando que não foi só sua morte violenta que a transformou nesse espírito enfurecido.

Sam Raimi e Takashi Shimizu voltaram como produtor e diretor, respectivamente. A atriz Takako Fuji também retornou para dar vida mais uma vez a Kayako. Apesar desse trio de sucesso ter regressado, “O Grito 2” não tem o mesmo tom tenso do primeiro filme.

 

“O Grito 3”

Nesse filme vemos que Jake (Matthew Knight) é o único remanescente de um massacre. Ele é perturbado pelas visões dos espíritos de Kayako e Toshio e, por causa disto, é hospitalizado pela doutora Sullivan (Shawnee Smith). A médica busca provas dos tormentos pelos quais passa seu paciente e, em meio às investigações, desconfia que a família que está morando na casa de Jake possa estar amaldiçoada. A única esperança de pôr fim à maldição é uma misteriosa mulher japonesa.

Esse terceiro filme da franquia, não teve o retorno de Sam Raimi como produtor, e da atriz Takako Fuji no papel de Kayako, que foi substituída por Aiko Horiuchi. Takashi Shimizu assumiu a produção de “O Grito 3”, deixando a direção a cargo de Toby Wilkins.

“O Grito 3” apesar de ser uma continuação da história, é completamente desfigurado quando comparado com os dois filmes anteriores. A crítica e os espectadores o consideraram um filme genérico e sem sal. A Sony tinha tão pouca confiança no produto final, que “O Grito 3” foi lançado direto para Blue-Ray e DVD, sem passar pelos cinemas.

 

E o futuro?

O Grito (2020)

A Sony já está gravando um remake de “O Grito” de 2004, com previsão de estreia para janeiro de 2020. Sam Raimi volta como produtor, mas a direção é de Nicolas Pesce. E apesar desse filme ter classificação “R” (para maiores de 18 anos), minhas expectativas não são muito boas para esse remake por dois motivos. O primeiro é que esse remake só vai funcionar se honrar o material original, o que pelas primeiras fotos liberadas não parece ser o caso. O segundo motivo é Takashi Shimizu não voltar para dirigir esse nova produção cinematográfica.

 

O Grito (Série)

Já a notícia que a Netflix irá lançar uma nova série de terror baseada em “Ju-On”, com direção de Shô Miyake, me deixou bastante ansioso. Isso porque pelo que está sendo vinculado, a série será rodada no Japão e será bastante fiel ao que foi apresentado no filme japonês.

Veredicto

“O Chamado” possui uma trama mais interessante e complexa, mas carece da tensão constante, da atmosfera opressiva, e  de uma Kayako invasiva que “O Grito” impõe ao espectador desde o começo. “O Grito” se destaca por ser realmente assustador e tenso, e por isso, considero o melhor filme dessa grande safra de filmes baseados no J-Horror que os EUA e o mundo assistiram.

Por mais filmes assim, digo que VALE MUITO A PENA assistir “O Grito”.

 

Ficha Técnica:

Título Original: The Grudge

Título no Brasil: O Grito

Gênero: Terror / Horror

Duração: 91 minutos

Direção: Takashi Shimizu

Produção: Sam Raimi, Robert Tapert, Takashige Ichise

Roteiro: Stephen Susco

Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, Clea DuVall, KaDee Strickland, Bill Pullman, William Mapother, Grace Zabriskie, Ted Raimi, Takako Fuji, Yuya Ozeki, Rosa Blasi, Ryo Ishibashi, Yoko Maki, Takashi Matsuyama

Companhia produtora: Ghost House Pictures, Sony Pictures Home Entertainment

Distribuição: Sony Pictures Home Entertainment

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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