SINOPSE: Em Georgetown, Washington, uma atriz vai gradativamente tomando consciência que a sua filha de doze anos está tendo um comportamento completamente assustador. Deste modo, ela pede ajuda a um padre, que também um psiquiatra, e este chega a conclusão de que a garota está possuída pelo demônio. Ele solicita então a ajuda de um segundo sacerdote, especialista em exorcismo, para tentar livrar a menina desta terrível possessão.
Quando era criança, existiam dois espaços na grade do SBT e da Globo, que me permitiram ver filmes de terror, os quais não teria acesso pela minha idade na época. Eram eles: “Sessão das Dez” e “Domingo Maior”.
E foi na “Sessão das Dez” que assisti pela primeira ver “O Exorcista” (obrigado Tio Sílvio por isso). Lembro das chamadas (algo parecido com o vídeo abaixo), e falei para meu pai: “Quero assistir.” (sim, naquela época as crianças pediam permissão aos pais). No que meu pai respondeu: “Tudo bem, mas já aviso que você não vai dormir. E depois não vem me acordar no meio da noite, pois vou te bater!”.
Não foi meu primeiro filme de terror (acho que minha primeira experiência nesse gênero cinematográfico foi “Poltergeist”), mas quando terminei de ver “O Exorcista”, meus pensamentos eram: “Puta merda, por que fui ver esse filme?” Como tenho certeza de que pensei isso, sendo que tinha e torno de 5 ou 6 anos na época? Simples, porque quando assisto hoje com meus mais de 40 anos, ainda sinto esse mesmo sentimento. Mas tanto naquela época, como atualmente, sempre que assisto “O Exorcista”, esse sentimento de pavor vem junto com o de fascínio. “O Exorcista” me assusta até hoje, mas sempre que descubro que será exibido, paro tudo para revê-lo.
Aqui faço um parêntese necessário antes de falar mais sobre “O Exorcista”.
O terror é um gênero muito grande que abrange vários subgêneros. Destaco aqui o terror-terror e o terror-horror. O terror-terror é um subgênero que provoca em seus espectadores um estado de pavor em quem está assistindo, deixando-os amedrontados. O terror-horror tem como sentimento predominante a repulsa, ou seja, a pessoa não quer ver aquilo, com essa sensação acontecendo em filmes que o vilão mata a criança, ou que um animal é cruelmente maltratado, cenas de estupros e matanças em geral, por exemplo.
O gênero de terror também pode ser dividido em psicológico e padrão, digamos assim. A diferença é que no terror padrão o medo é derivado do sentimento de nojo e repulsa ao sangue e à violência, enquanto no psicológico o temor é gerado a partir da vulnerabilidade da mente humana a alguma situação ou alguma sensação desconfortável psicologicamente, geralmente por uma situação implícita.
Com as explicações acima, defino “O Exorcista” como o MELHOR filme de terror-terror psicológico de TODOS OS TEMPOS.
“O Exorcista” é uma adaptação praticamente fiel da obra homônima escrito por William Petter Blatty. o diretor William Friedkin recebeu das próprias mãos do autor uma cópia do livro, e conforme suas próprias palavras: “Eu fiquei aterrorizado. Não conseguia me mexer de tanto medo depois que o terminei de lê-lo. E, ao mesmo tempo, aquele livro exerceu um fascínio em mim. Fiquei obcecado. Precisava filmá-lo”.
O cineasta empolgado, procurou William Petter Blatty para que ele escrevesse um roteiro adaptado da publicação. Seis meses depois, Blatty trouxe o roteiro ao cineasta, que se encantou pela adaptação e pediu para assumir as filmagens. A Warner ficou fascinada com a história, no entanto, a empresa não queria Friedkin à frente da direção. Stanley Kubrick era o nome mais cotado para assumir “O Exorcista”, porém declinou a proposta por estar ocupado com outros projetos e por ser contra a “violência infantil” mostrada no longa. Dessa forma William Friedkin assumiu a direção.
Desde a sua concepção, “O Exorcista” foi produzido para abalar psicologicamente os espectadores. A começar com a nossa protagonista, Regan MacNeil (Linda Blair) de apenas 12 anos. O objetivo aqui é mostrar que se uma pré-adolescente ingênua não está a salvo de uma possessão demoníaca, quem estará? A sua transformação e degradação física e mental é algo que perturba quem assiste, sem a necessidade de cenas cheias de sangue e violência extrema. E para isso, o trabalho de maquiagem excelente foi responsável por mostrar essa descida ao inferno de nossa protagonista.
Além da maquiagem, Linda Blair, gravou cenas que são extremamente perturbadoras, entre elas a famosa cena do crucifixo, que só veio a aparecer na versão do diretor, 28 anos depois da estreia de “O Exorcista”. Mas não só isso, toda a forma de Regan agir e falar, foram escritas e dirigidas com um único objetivo: causar um extremo desconforto psicológico aos espectadores.
Além da atuação magistral de Linda Blair, precisamos destacar o trabalho de Ellen Burstyn como Chris MacNeil, Jason Miller como Padre Damien Karras e Max von Sydow como Padre Lankester Merrin. Esse quarteto de atores transforma palavras escritas de um roteiro em uma história vívida e impactante.
Com uma direção e roteiro impecáveis, atuações marcantes (principalmente a de Linda Blair), e uma produção que conseguiu tornar um livro em um evento cinematográfico, o resultado só poderia ser um: sucesso. O filme que custou US$12 milhões arrecadou US$440 milhões e ficou até 2017, como o filme de terror de maior bilheteria da história.
Além do sucesso nas bilheterias, “O Exorcista” levou vários prêmios importantes. Ganhou os Oscars de melhor roteiro adaptado e melhor som, e foi indicado em outras oito categorias: melhor diretor, melhor atriz (Ellen Burstyn), melhor ator coadjuvante (Jason Miller), melhor atriz coadjuvante (Linda Blair), melhor edição, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor filme (primeiro e único filme de terror até hoje a ser indicado para essa categoria). Foi o vencedor de quatro Globos de Ouro (melhor filme de drama, melhor diretor, melhor roteiro e melhor atriz coadjuvante (Linda Blair). E a Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films premiou o filme nas categorias de melhor filme de terror, melhor maquiagem, melhores efeitos especiais e melhor roteiro.
Sequências e Derivados
Digo que existe um ditado em Hollywood: “Se fez dinheiro, vamos fazer uma sequência.”. E foi exatamente isso que aconteceu com “O Exorcista”. Em 1977 foi lançado “O Exorcista: O Herege”. Dirigido por John Boorman, escrito por William Goodhart (o autor dos livros não participou da confecção do roteiro), e estrelado por Linda Blair, esse é um filme que nunca deveria ter sido produzido. Se “O Exorcista” é o ícone do cinema de terror, sua sequência direta é um verdadeiro lixo cinematográfico.
Em 1990, o autor William Peter Blatty, escreveu e dirigiu “O Exorcista 3”. O filme foi originalmente intitulado “Legião”, mas teve o nome alterado pelos executivos da Morgan Creek Productions, para ser mais comercial. O enredo também foi drasticamente alterado na pós-produção, com refilmagens impostas pela produtora que exigiu de última hora uma sequência de exorcismo para o clímax do filme. E apesar de ser muito melhor que o segundo filme dessa franquia, não conseguiu chegar nem perto do que “O Exorcista” alcançou nas bilheterias, nas críticas e nas premiações (recebendo inclusive uma indicação ao Framboesa de Ouro, na categoria de Pior Ator para George C. Scott.).
Em 2004, foi lançado “O Exorcista: O Início”. Pegando uma insinuação feita em “O Exorcista”, de que o padre o padre Lankester Merrin já teria encontrado o demônio Pazuzu (o capiroto que possui Regan MacNeil), essa nova produção é um prequel ao filme de 1973. Gosto bastante desse filme, mas a recepção dos fãs e da crítica não foi boa, se tornando mais um fracasso em explorar essa franquia.
Em 2015, surgiram burburinhos de que a FOX queria fazer um remake de “O Exorcista”. Ideia completamente refutada e atacada pelos fãs, pela crítica especializada, pelo diretor William Friedkin e pelo autor William Petter Blatty. Mas a FOX não largando o osso, lançou em 2016 a série “O Exorcista”. Como uma espécie de remake e continuação direta do filme de 1973, a primeira temporada teve uma boa recepção, pois apresentou uma história consistente com o que foi apresentado no filme de 1973. Mas a segunda temporada tentando emplacar uma produção que não precisasse se basear no filme original, acabou desagradando a todos e o cancelamento foi a decisão da FOX.
Curiosidades
- O livro de William Peter Blatty se baseia em um exorcismo real que ocorreu com um menino conhecido como Roland Doe. A história ocorrida em 1949 se tornou notícia em todo o país e chamou a atenção de Blatty, que na época estudava na Universidade de Georgetown. A Darkside lançou em 2016, o livro que conta essa história.
- O diretor William Friedkin se mostrou um diretor metódico e detalhista ao extremo. Algumas situações, além da construção de cenários refrigerados que beiravam o zero grau Celsius, comprovam isso. Na cena em que o padre Damien Karras está ouvindo a fita onde Regan parece falar várias línguas, ele toma um susto. Esse susto foi real, pois no momento da gravação da cena em questão, o diretor dá um tiro de verdade no set de filmagem, sem avisar ninguém. Aliás o ator Jason Miller foi vítima de outra situação inusitada que envolve a famosa cena do vômito. William Friedkin pediu que o jato de sopa de ervilha fosse disparado segundos antes do combinado com o ator. Então a expressão de raiva que Jason Miller faz, é verdadeira, pois ele não esperava.
- Uma das coisas mais conhecidas sobre a produção de “O Exorcista” é sua inacreditável quantidade de mortes reais. Durante as filmagens, nove pessoas morreram de formas inexplicáveis, isso sem contar as mortes que aconteceram depois da conclusão do projeto.
- O diretor William Friedkin consultava o Reverendo Thomas Birmingham sobre a possibilidade de exorcizar o set de filmagens. Em todas as vezes, o reverendo recusou o pedido, dizendo que isto causaria ainda mais ansiedade no elenco. Mas por diversas vezes ele visitou os sets para benzê-los e tranquilizar o elenco.
- Inicialmente, a voz do demônio seria da própria Linda Blair. Entretanto, após 150 horas de trabalho em cima do som do filme, o diretor resolveu substituí-la pela voz de Mercedes McCambridge que, para fazer a voz do demônio, comeu ovos crus, tomou muito álcool e fumou diversos cigarros. McCambridge chegou a processar a Warner Bros., para que seu nome como a dona da voz do demônio entrasse nos créditos do filme.
- Boa parte dos gemidos e grunhidos de Regan foram criados a partir da remixagem de gritos de porco. Quando o demônio é finalmente exorcizado do corpo dela, o som que se ouve é de um grupo de porcos sendo levados para o abate.
- Vários integrantes do elenco e da produção acreditavam que o set era amaldiçoado, após uma sequência de incidentes estranhos no set de Nova York, inclusive um incêndio que forçou a equipe a reconstruir as partes que simbolizavam o interior das casas.
- O autor William Peter Blatty pediu para que a cena de Regan virando a cabeça quase foi cortada do filme, mas William Friedkin a manteve. A cena em que Regan MacNeil está possuída e gira sua cabeça para trás do tronco se tornou uma das mais icônicas do cinema e, certamente, causou alguns gritos de pavor.
- Apesar de seu nome não ser falado no filme, o demônio que atormenta a jovem Regan chama-se Pazuzu, uma das milhares alcunhas usadas para identificar o Capiroto. Pazuzu é o nome do rei dos demônios na mitologia assíria e babilônica.
- O trailer original do filme foi alterado por ser considerado “muito assustador”, pois mostrava partes do filme em preto e branco, que se misturavam com demônios e também mostravam o rosto de Regan MacNeil possuída – tudo isso acompanhado de uma trilha sonora realmente assustadora. Veja abaixo o trailer proibido:
- O longa causou náuseas em algumas pessoas. Na verdade, foram tantos os casos que alguns cinemas começaram a distribuir sacos de vômito junto com os ingressos.
https://www.youtube.com/watch?v=AkIqFK3KoZ4
Veredicto
“O Exorcista” é um filme de terror psicológico, onde não existem os “jump scare” (cenas que tem como objetivo assustar o espectador). O objetivo dessa produção não é assustar as pessoas, mas deixá-las transtornadas, perturbadas, durante e após assistir o filme. Possui alguns efeitos especiais datados, mas sua história é atual e atemporal. Exemplo disso é vermos a quantidade de filmes que se utilizam do mesmo tema ou da mesma estética. Além da história, a maquiagem utilizada é referência para outras produções, apesar da não alcançarem o mesmo resultado e impacto.
O filme definiu o subgênero de “possessão demoníaca”, criando parâmetro para todos os demais filmes que utilizam esse subgênero. “O Exorcista” é um ícone do cinema e O ÍCONE do gênero de terror. Impossível não o classificar como o MELHOR FILME DE TERROR DE TODOS OS TEMPOS.
Ficha Técnica:
Título Original: The Exorcist
Título no Brasil: O Exorcista
Gênero: Terror
Duração: 132 minutos (versão do diretor)
Direção: William Friedkin
Produção: William Peter Blatty
Roteiro: William Peter Blatty
Elenco: Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran, Jason Miller, Linda Blair
Companhia(s) produtora(s): Warner Bros. Entertainment, Morgan Creek Productions
Distribuição: Warner Bros. Entertainment