Em 1995, a UNESCO declarou o dia 23 de abril como o Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais para prestar uma homenagem aos livros e aos autores de todo o mundo, incentivando todas as pessoas a ter acesso aos livros e a ler.
Em homenagem a essa data tão importante, o Cinemaníacos vai reservar essa semana para falar desse hábito tão incrível e saudável, que ao lado do cinema, é meu hobbie preferido. E vamos iniciar essa homenagem falando das minhas leituras de fantasia que mais gostei até hoje.
Falando rapidamente sobre esse gênero literário, a fantasia é um dos que mais lançam livros anualmente. O Brasil por não ter um público muito grande, acaba não tendo a oportunidade de desfrutar muitos dos títulos lançados mundo afora.
É isso mesmo que você leu: o público de literatura fantástica brasileira não é expressivo o suficiente, fazendo com que as editoras evitem apostar em novos escritores ou abandonem autores e obras que em outros países do mundo são verdadeiros best sellers (como Joe Abercrombie, Anthony Ryan, Mark Lawrence e Peter V. Brett). A maioria das editoras brasileiras focam em nomes já consolidados, como George R. R. Martin (Suma), J. K. Rolling (editora Rocco) e J. R. R. Tolkien (Harper Collins), às vezes trazendo material novo, mas quase sempre relançando livros com novas roupagens.
“Ah, mas têm ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘Harry Potter’”! Bom, não podemos negar o quanto essas duas obras são importantes e conhecidas, mas tirando elas, quais outros livros de fantasia fazem sucesso no Brasil? Quais outros livros de fantasia tirando esses dois, você já leu?
E Já que citei essas duas obras, vou falar um pouco das minhas impressões sobre “O Senhor do Anéis” e “Harry Potter” e porque eles não estão na minha lista de melhores leituras de fantasia.
O Senhor dos Anéis: Hors Concours
Completo no Brasil
Hors Concours significa literalmente “fora do concurso” ou “fora de competição” na tradução para a língua portuguesa. Significa que algo é tão bom que não existe qualquer tipo de comparação com outras coisas.
E é justamente esse o título de “O Senhor dos Anéis” carrega. O que Tolkien criou é algo inigualável e foi graças a ele que o gênero de fantasia é o que vemos hoje em dia. Dessa forma, não posso falar que não gosto de “O Senhor dos Anéis” e o impacto que a obra me causou ao lê-la.
Então por que “O Senhor dos Anéis” não está na minha lista de seis melhores livros que já li? A resposta é simples: ele é descritivo demais.
Existe uma discussão entre os leitores de fantasia sobre a obra ser descritiva ou não. Eu particularmente não tenho tanto problema com uma história que coloca detalhes para que nossa imaginação crie o cenário, o ambiente e os personagens. Agora o sr. Tolkien é foda: ele utiliza três páginas para falar de uma folha caindo. E nesse meio tempo ele enfia duas músicas élficas e os hobbits fazem seis refeições.
Essa descrição extensa, esse detalhismo exagerado acaba tornando minha leitura cansativa em alguns momentos. E é somente por esse motivo que não coloco “O Senhor dos Anéis” na minha lista.
Harry Potter: Um Fenômeno Cultural
(Completo no Brasil)
Quando J. K. Rowling lançou as aventuras de Harry Potter, acredito que nem ela esperava que seus livros derrubariam todas as fronteiras culturais. As aventuras do bruxo e seus amigos viraram um furacão que arrastou milhões de pessoas para seu centro. Esse verdadeiro “arrastão” só aumentou quando a Warner lançou os filmes que adaptaram as obras. A partir daí “Harry Potter” se tornou algo que influenciará várias gerações ao longo dos anos.
No filme “Yesterday”, em uma cena pós-crédito depois das coisas meio que se acertarem a respeito dos Beatles não existirem, o protagonista pesquisa no Google e descobre que “Harry Potter” nunca foi escrito e ele tem a mesma reação de medo e descrença como quando descobriu que os jovens de Liverpool nunca se juntaram para cantar.
Resumi bem a importância de “Harry Potter”?
Então, por que “Harry Potter” não está na minha listra de literatura fantástica? A resposta é que acho as primeiras histórias da série infantis demais. Tanto que só passo a gostar das aventuras de Harry Potter em “O Cálice de Fogo”, quando ocorre a transição perfeita no tom da narrativa, de algo mais lúdico para algo mais sombrio e perigoso: a ressureição de Voldemort mostra que acabou as brincadeiras de criança.
Depois dessa breve explicação, chegou a hora de falar dos sete livros ou sagas de fantasia que mais gostei. E prometo não ser descritivo como Tolkien.
A Roda do Tempo de Robert Jordan
(Publicados 8 de 14 Livros no Brasil)
“A Roda do Tempo” é uma série literária de quatorze livros que influenciou escritores que talvez você conheça: George R. R. Martin e Brandon Sanderson. Inclusive, Sanderson foi contratado, para terminar a obra, uma vez que Jordan morreu em 2007, deixando notas para o volume final de “A Roda do Tempo”, que acabaram se transformando nos últimos três livros pelas mãos de Sanderson.
Robert Jordan nos traz uma alta fantasia onde o Dragão Renascido ressuscitou e é o único capaz de derrotar o Tenebroso. Mas para isso ele precisa usar o Poder Único que enlouquece os homens. Resumindo: o Dragão Renascido está fadado a salvar e destruir o mundo.
Fica claro que Jordan se inspirou em “O Senhor dos Anéis” para escrever sua história, mas enquanto na obra de Tolkien não vemos o verdadeiro poder do Um Anel, em “A Roda do Tempo” vemos o que o mais poderoso canalizador do Poder Único pode fazer cada vez tem mais e mais controle sobre esse dom e maldição, com capacidade de criar montanhas.
Então vemos esse conflito do Dragão Renascido: ele sabe que precisa controlar totalmente sua capacidade de usar o Poder Único para salvar o mundo, mas ao mesmo sabe que o destruirá quando isso acontecer.
“A Roda do Tempo” é até mais detalhista que “O Senhor dos Anéis” (afinal são 14 bitolos), mas Robert Jordan muitas vezes usa essa descrição para encorpar a história e não para falar de música, comida e da tal folha caindo.
A Companhia Negra de Glen Cook
(Completo no Brasil)
Se “A Roda do Tempo” é extremamente detalhista, “A Companhia Negra” é o oposto. Quando Glen Cook escreveu sua trilogia, ele queria que os leitores imaginassem seus personagens do jeito que bem entendessem. Então, ele dá alguns detalhes sobre eles e deixa o resto para quem está consumindo sua obra. Chagas, que é quem narra toda a aventura da Companhia Negra, é um homem de cerca de 40 anos, cansado e se não me engano, manco. E acabou; nada de cor do cabelo, dos olhos, estatura.
Mas o mais legal é que acompanhamos a Companhia Negra, o grupo de mercenários mais temido desse mundo e que acaba aceitando um contrato com a terrível Dama, uma feiticeira de tempos imemoriais que já governou o mundo e que agora que retornou, decide retomar o que é seu.
Aqui vi uma genialidade por parte de Glen Cook, pois os mercenários sabem que estão do lado errado da história, mas por dinheiro ou honra, cumprem o contrato e batalham ao lado de uma das vilãs da trilogia.
As cenas de batalhas são fantásticas e brutais e mesmo os livros sendo pequenos (cerca de 300 a 400 folhas) o mundo criado por ele é riquíssimo, cheio de figuras mágicas e feiticeiros poderosos.
Ciclo das Trevas de Peter V. Brett
(Publicados 3 de 5 Livros no Brasil)
Um dos grandes nomes da literatura fantástica, Peter V. Brett teve a vida encurtada aqui no Brasil. A editora Darkside, que era a detentora dos direitos de “Ciclo das Trevas”, simplesmente abandonou a série no terceiro livro devido ao volume baixo de vendas. Como meu inglês é péssimo, precisei adquirir os dois últimos livros em português de Portugal, pagando uma pequena fortuna.
Mas valeu cada centavo gasto pois “Ciclo das Trevas” tem um ritmo frenético, sempre acontecendo alguma coisa e a mais de 100 km por hora. As batalhas entre os homens ou entre homens e os demônios são espetaculares e gráficas, mérito da escrita de Peter V. Brett. Ah, e as facadas nas costas que ocorrem tanto entre homens como entre os demônios, não devem nada ao que George R. R. Martin escreve em “As Crônicas de Gelo e Fogo”.
A cada novo volume, os desafios são maiores, como se estivéssemos jogando algo no videogame. Quando os homens conseguem uma forma de derrotar os demônios, novas criaturas surgem, mais poderosas e ardilosas, deixando tudo indefinido novamente.
A Primeira Lei de Joe Abercrombie
(Completo no Brasil)
Grimdark fantasy é um subgênero da fantasia que a linha entre o bem e o mal não é bem definida. Dito isso, Joe Abercrombie é na minha opinião, o melhor escritor desse subgênero.
“A Primeira Lei” é veloz, brutal, violento. Todos estão buscando alcançar seus próprios objetivos, mesmo que para isso precisem salvar o mundo. Joe Abercrombie junta o melhor dos dois mundos: a velocidade de uma escrita enxuta com a criação de um mundo riquíssimo e cheio de mistérios, precisando apenas uma palhinha de algo que aconteceu em tempos antigos ou comentar rapidamente sobre um local que nossa imaginação fica ávida e faminta por saber mais.
“A Primeira Lei” tem uma narrativa suja, onde você consegue sentir a corrupção e as falhas de caráter dos personagens. O que mais se aproxima de uma pessoa virtuosa é Logen Nove Dedos, mas que possui um poder: quando se enfurece, se transforma em Logen Sangrento, um berserk incontrolável que matará todos na sua frente, até mesmo sua amada.
O final dessa trilogia, muito criticado pelos leitores, é um dos melhores que já li, pois mostra que no final as coisas voltarão a ser como eram, revelando que detentores do poder não estão sentados no trono, mas escondidos nas sombras e que farão de tudo para continuar na posição onde se encontram.
A Torre Negra de Stephen King
(Completo no Brasil)
Sou muito fã de Stephen King e essa minha admiração pelo Metre do Terror começou justamente pela sua obra mais complexa e extensa: “A Torre Negra”.
É difícil não pagar pau para “A Torre Negra”, pois Stephen King apresenta tanta coisa diferente do que estamos acostumados a ver em uma obra fantástica comum. Primeiro: esqueça cavaleiros portando espadas, o “herói” da história é um pistoleiro que porta dois revólveres gigantescos. Segundo: seus ka tet é composto por um menino, um viciado em crack e uma mulher sem as pernas e que sofre de TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade).
Stephen King apresenta em “A Torre Negra” faz referências a várias outras obras suas, mostrando várias conexões entre elas, criando um Kingverso, um multiverso onde várias de suas obras estão interligadas, sendo a Torre Negra o centro de tudo.
É claro que existe muita encheção de linguiça ao longo dos sete livros de “A Torre Negra”, afinal estamos falando de Stpehen King, mas o que ele apresente nessa saga é tão incrível e diferente que você precisa ler para entender o carinho que tenho por essa obra.
Existe uma discussão de qual livro de “A Torre Negra” é o melhor. Na minha opinião, o terceiro livro, “Terras Devastadas” e o último, “A Torre Negra” são os mais bem escritos.
O final de “A Torre Negra” é um dos mais inventivos, legais e FILHOS DA PUT* que já li. O que posso dizer sobre o desfecho de sua série fantástica: que o ka sempre gira.
A Terra Partida de J. K. Nemisin
(Completo no Brasil)
Quando li a sinopse de “A Terra Partida” pensei: PRECISO ler essa trilogia. “A Terra Partida” é algo completamente diferente de tudo que já li em termos de fantasia. O sistema de magia é chamado de orogenia, onde pessoas conhecidas como orogenes, ouvem a “Terra” e são capazes de mover o solo, pedras, magma. Aqui Mestra Jemisin fala de forma genial, sem tornar sua trilogia uma história em algo politizado, sobre preconceito e racismo, afinal os orogenes também são chamados de roggas, um termo perjorativo e ofensivo.
Mas como disse, “A Terra Partida” fala de fantasia de algo completamente diferente de tudo que você verá. Além dos orogenes, temos os comedores de pedras: criaturas feitas de rochas que se deslocam pelo solo e que possuem uma fome pelo orogenes. Temos a questão da orogenia e um ranço eterno do Pai Terra pela humanidade.
Toda essa genialidade de Jemisin em “A Terra Partida” a tornou a primeira mulher a ganhar três vezes seguidas o prêmio Nebula (um para cada volume) e a primeira mulher negra a ganhar por “A Quinta Estação”.
Merecedora desses e de tantos outros prêmios, Mestra Jemisin é nome certo na minha fila interminável de leitura e sempre que lançar um novo livro aqui no Brasil, passará na frente de todos os livros que pretendia ler. Foi assim com “Nós Somos a Cidade”, onde regiões metropolitanas ganham vida e precisam de avatares!
O Livro Malazano dos Caídos de Steven Erikson
(Publicados 2 de 10 Livros no Brasil)
Essa saga entrou recentemente na minha lista de leituras de fantasia preferidas. Passei três meses nesse mundo fantástico e ficaria mais três facilmente para terminar de ler essa saga. Mas infelizmente “O Livro Malazano dos Caídos” foi abandonada pela editora Arqueiro, que fez um péssimo trabalho de publicidade em cima desse material, acarretando em baixas vendas e o cancelamento dessa série aqui no Brasil.
Steven Erikson avisa na introdução do primeiro livro que se você gosta das coisas explicadas logo no início “O Livro Malazano dos Caídos” não é para você. E é exatamente isso que acontece.
Logo nas primeiras páginas, estamos no meio de uma guerra envolvendo o exército de Malaz, o maior império desse mundo, tentando conquistar a cidade de Pale. Porém os malazanos precisarão enfrentar Anomander Rake, o Senhor da Escuridão, talvez o ser mais poderoso que existe. Anomander Rake vive na Cria da Lua, uma montanha flutuante.
Então sem mais, nem menos, estamos no meio de uma guerra envolvendo alto magos e magias titânicas, deuses ascendentes e ancestrais, criaturas imortais, intrigas políticas, traições, e humanos que desafiam forças além de sua compreensão.
O que mais me chama a atenção nessa série de fantasia é que os deuses e criaturas de poder incomensurável não estão nas sombras, mas agindo ativamente entre os seres mortais, então, prepare-se para demonstrações de poderes titânicos.