SINOPSE: As policiais Liz Danvers (McConaughey) e Evangeline Navarro (Kali Reis) começam a investigar o estranho caso do desaparecimento de oito trabalhadores da Estação de Pesquisa Ártica Tsalal durante a noite eterna de inverno em Ennis, Alasca. Durante a investigação, as duas acabam enfrentando seus próprios demônios escondidos, enquanto antigos segredos e verdades são desenterrados das congeladas ruas do Alasca.

Para quem me acompanha desde os tempos do site ou já conversou comigo sobre filmes e séries, sabe o quanto admiro a HBO e suas produções. São tantas séries originais incríveis, que merece uma resenha especial. Minha admiração é tamanha que gosto de dizer que a HBO é mais que um canal de televisão, mas um selo de qualidade.

E dentre tantas séries inesquecíveis, a primeira temporada de “True Detective” é uma das melhores coisas que já vi na vida. Protagonizada por Woody Harrelson e Matthew McConaughey, acompanhamos os detetives Marty (Harrelson) e Rust (McConaughey), respectivamente, ao longo de vinte anos.

O sucesso que o primeiro ano de “True Detective” teve e os vários prêmios que a série ganhou, fez com que a HBO investisse em um curto espaço de tempo em outras duas temporadas, que passaram longe de seu ano de estreia, fazendo com que o canal de televisão colocasse a série na geladeira.

Mas com um material tão bom e os pedidos incessantes dos fãs, era só questão e tempo para a HBO trazer de volta a série. E após sete anos engavetada, estreou em 2024, a quarta temporada, intitulada “True Detective: Terra Noturna”.

Como a sinopse diz, acompanhamos as policiais Liz Danvers e Evangeline Navarro na investigação de um crime bizarro e que beira o incompreensível na cidade de Ennis, Alasca, durante o que chamam de noite eterna: um período de trinta dias em que o Sol não aparece.

De cara, o fato da quarta temporada se passar na fictícia Ennis, Alasca, atiçou os fãs da primeira temporada, pois em um dos relatos de Rusty, é revelado que parte de sua juventude foi passada na mesma cidade, com seu pai. Então ficou a dúvida e a ansiedade se haveria uma conexão entre o personagem de McConaughey e a trama de “True Detective: Terra Noturna”.

Porém, algumas conexões com a primeira temporada estão bem evidentes, como o fato da Estação de Pesquisa Tsalal ser financiada pelos empreendimentos Tuttle, a mesma família que comandava vários negócios e a política na cidade onde Marty e Rust viviam.

Outra conexão direta é a presença da espiral, símbolo que aparecia nas vítimas da primeira temporada e que segundo o assassino, tinha relação com o Rei de Amarelo e Carcossa. Em “Terra Noturna”, a espiral aparece no corpo da vítima morta que teve a língua arrancada, no teto de gelo e segundo a crença local, é mais antigo que o gelo.

A espiral é um símbolo recorrente em “True Detective”, aparecendo nessa temporada e no terceiro ano da série, onde representa um grupo de pedofilia que tem relação direta com os crimes cometidos investigados por Marty e Rust, na primeira temporada. Dois pontos podem ser tirados da espiral: que ele sempre aparece em situações macabras e locais de crimes hediondos e. que, apesar dos criadores nunca terem explicado qual o real significado, a espiral é evidência que o sobrenatural faz parte do DNA de “True Detective’.

E aqui começa a diferença entre “Terra Noturna” e as demais temporadas de “True Detective”. Enquanto no primeiro ano da série, o sobrenatural está presente de forma subentendida, em “Terra Noturna” usa desse elemento de forma direta e o coloca como uma força para a movimentar a trama em muitos momentos. 

Mas a maior quebra em relação ao cerne criado pela primeira temporada de “True Detective” é o ritmo narrativo. Apostando que a franquia tinha lenha para queimar, mas com receio de ser outro tiro no pé, a HBO autorizou que “Terra Noturna” tivesse somente 6 episódios. E o que poderia ser uma decisão gerencial ruim, se mostrou um acerto criativo gigante, pois o menor tempo de duração da quarta temporada, trouxe uma narrativa ágil e instigante.

O desenvolvimento dos personagens não é deixado de lado por causa de uma trama mais rápida, com cada um sendo apresentado de forma suficiente para nos envolvermos e importarmos com eles. Liz Danvers e Evangeline Navarro são fugitivas de suas vidas passadas, que veem em Ennis um refúgio para seus traumas. Enquanto Danvers precisa lidar com sua insatisfação de morar em um local que não deseja, com seus colegas policias que não aceitam sua promoção a delegada, além de cuidar de Leah (Isabella Star LaBlanc) que ela cria como sua filha; Navarro, vai para cidade do Alasca para começar uma nova juntamente com a irmã, porém, ambas são atormentadas por visões perturbadoras que podem ser mais que um problema psicológico ou neurológico.

O grande alicerce da primeira temporada de “True Detective” são as relações humanas de Mary e Rust. O roteiro bem escrito nesse ponto e trabalho espetacular de interpretação de Woody Harrelson e Mathew McConaughey alçam a série para patamares que poucas produções seriadas e cinematográficas conseguiram. 

“Terra Noturna” traz Judy Foster, a eterna Clarisse de “O Silêncio dos Inocentes”, e que é comprovadamente um dos grandes nomes de Hollywood e a expressiva e talentosa Kali Reis. Porém, a criadora e produtora dessa temporada, Issa López, não tenta emular o que foi feito no primeiro ano, fazendo uma mescla perfeita dos conceitos que deram certo no primeiro ano e elementos narrativos próprios.

“True Detective: Terra Noturna” honra o legado da primeira temporada e dá sua própria visão dessa antologia tão aclamada. Sai o ritmo lento e o foco maior nos protagonistas para dar espaço para uma trama ágil e eletrizante. Sai o subentendimento de que possa haver forças envolvidas além da nossa compreensão para fincar os dois pés no sobrenatural.

O sucesso de “Terra Noturna” se confirmou com bons números e críticas, o que acarretou na renovação para um quinto ano, com a showrunner Issa López mantida no cargo, que já confirmou que a nova temporada contará uma história nova e se passará em Nova York. Outra afirmação da showrunner é que por ser uma história inédita a ser contada, Jodie Foster e Kali Reis não voltarão.

Mas sonhar é permitido, então quem sabe não veremos uma reunião de Danvers, Navarro, Marty e Rust desvendando um mistério que finalmente explique o que significa a espiral, sua aparição em situações tão insólitas e cruéis, e se o tão famigerado Rei de Amarelo e a cidade mítica de Carcossa são apenas delírios ou algo real.

Antes de terminar essa resenha, preciso destacar o momento mais impactante e que me fez soltar um “eita porra” quando revelado e depois de revelado. Estou falando do Picolé de Cadáveres, que é uma espécie de escultura de gelo onde os pesquisadores da estação de pesquisa são encontrados, e que teve ajuda de Guilhermo del Toro para criar tal objeto.

“True Detective: Terra Noturna” provou que é possível honrar o legado de algo incrível sem precisar fazer uma cópia barata. Dessa forma e por tudo que disse até agora, “vale muito a pena assistir “True Detective: Terra Noturna”!

Ficha Técnica:

Título Original: True Detective: Night Country

Título no Brasil: True Detective: Terra Noturna

Gênero: Drama, Policial

Temporada:

Episódios: 6

Criadores: Nic Pizzolatto, Issa López

Diretores: Issa López

Roteiro: Issa López, Namsi Khan, Chris Mundy, Katrina Albright, Wenonah Wilms

Elenco: Jodie Foster, Kali Reis, Fiona Shaw, Finn Bennett, Isabella Star LaBlanc, John Hawkes

Christopher Eccleston, Dervla Kirwan, Anna Lambe, L’xeis Diane Benson, Aka Niviâna, Joel D. Montgrand, Owen McDonnell, Nivi Pedersen, Erling Eliasson

Companhias Produtoras: HBO

Transmissão: HBO

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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