SINOPSE: O último filme escrito e dirigido pelo lendário ator, diretor e roteirista Clint Eastwood, “Jurado Nº 2” é um thriller jurídico que acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um homem de família que, enquanto atua como jurado em um renomado julgamento de assassinato, se depara com um importante dilema moral, que pode impactar a decisão do júri e, consequentemente, levar à condenação ou à absolvição do réu acusado.
Nascido em 31 de maio de 1930, Clint Eastwood ficou famoso por interpretar caras durões e anti-heróis como Dirty Harry de “Magnun 44”. Com o tempo seus papéis trouxeram a faceta do velho rabugento que todos amam como em “Gran Torino”, “Menina de Ouro” e até cômicos como visto em “A Mula”. Mas seu talento também é visto atrás das câmeras, como diretor e produtor, onde ganhou vários prêmios, e entre eles o Oscar de Melhor Diretor por “Os Imperdoáveis” e “Menina de Ouro”.
Com cerca de sessenta filmes como ator e quarenta como diretor, Clint Eastwood é um dos maiores nomes de todos os tempos do cinema. E é justamente sobre seu quadragésimo longa-metragem como diretor que vamos falar: “Jurado Nº 2”, sendo chamado como o último filme de sua carreira.
“Jurado Nº 2” tem Clint Eastwood 100% atrás das câmeras, mas sua ausência atuando não torna o filme menor que seus outros longas-metragens onde dividiu as duas funções. Aliás, quando ele não está atuando, dá oportunidade para os demais atores e atrizes brilharem sem serem ofuscados por sua presença. E é exatamente o que acontece no seu proclamado último filme.
Nicholas Hoult é um dos atores mais conhecidos e talentosos da atualidade, mas seus papéis em outras produções sempre foram secundários ou ofuscados por outras presenças. Mas “Jurado Nº 2” dá a oportunidade para o ator mostrar sua capacidade de atuar e de ser o protagonista.
E em “Jurado Nº 2”, a tarefa é ainda mais difícil pois a história é muito poderosa e carregada de sentimentos conflitantes para o personagem de Nicholas Hoult. E o que vemos é um ator seguro e capaz de dar vida às várias camadas emotivas e complexas que Justin Kemp atravessa ao longo desse longa-metragem. Na verdade, “Jurado Nº 2” atesta a competência e o talento de Nicholas Hoult e que esse filme seja a abertura que ele precisava para ser protagonista de outros filmes.
Toni Collette emprega seu talento para dar vida a ambiciosa promotora Faith Killebrew. Admito que que entre todos os papéis que a atriz já interpretou, esse é um dos menos exigente, mesmo assim, sua personagem tem uma presença de cena que nos envolve e nos revolta em medidas iguais.
Destaco ainda as intepretações de Chris Messina e Zoey Deutch. Chris Messina interpreta Eric Resnik, o defensor público que ainda tem fé que a Justiça ainda é farol da moralidade humana, não punindo os inocentes. Já Zoey Deutch, que viveu Madison em “Zumbilândia 2” (a melhor personagem ao lado de Tallahassee de Woody Harrelson), me surpreendeu ao viver um papel dramático com tamanha competência.
Ainda temos duas participações de gala em “Jurado Nº 2”: Kiefer Sutherland como o advogado e amigo de Justin Kemp, Larry Lasker, e J. K. Simmons como Harold, um detetive da polícia aposentado e jurado juntamente com o personagem de Nicholas Hoult. Seus papéis servem para movimentar a história em determinados momentos, mas fiquei com o sentimento de desperdício em escalar atores tão incríveis para papéis secundários.
Muitas vezes, o elenco salva e engrandece uma história, mas em “Jurado Nº 2”, a história engrandece o talentoso e estelar elenco do filme, como já é de praxe na filmografia de diretor de Clint Eastwood. Os sentimentos de ansiedade, expectativa, apreensão e revolta estão muito latentes na narrativa desse longa-metragem, que torna impossível perder o interesse e ficar tranquilo à medida que o julgamento de um caso de assassinato se desenrola.
Acho que os dilemas morais mostrados em “Jurado Nº 2” são a grande sacada da narrativa. Começando pelos indivíduos que compõem o corpo de jurados juntamente com Justin Kemp. Quase todos tem seus motivos para estarem lá, mas nenhum deles tem relação com o real propósito da reunião deles. Temos Marcus (Cedric Yarbrough) que quer condenar o acusado pelo simples fato dele ter feito parte da gangue que matou seu irmão. Temos Denice (Leslie Bibb) que é uma veterana como jurada e que está ali somente para se sentir importante. E temos aqueles que só estão ali por que foram obrigados e não se importam com a verdade e com as provas apresentadas, querendo acabar logo com tudo, como o caso de Yolanda (Adrienne C. Moore).
Porém, o que mais vai chamar a atenção são os casos de Faith Killebrew e Justin Kemp. A promotora vivida por Toni Collete está concorrendo ao cargo de promotora-chefe e vê na condenação de James (Gabriel Basso) seu passaporte para vencer a disputa. Usando e abusando do histórico violento e ilícito de James, ela tenta convencer o jurado a condená-lo mesmo apresentando provas circunstanciais, na minha opinião.
É difícil gostar da promotora até o meio do filme, pois ela explora o passado de acusado como forma de convencer os jurados a condenarem-no, mesmo ela tendo uma forte impressão de que James é inocente. Mas para alcançar seus objetivos, Faith vai abusar do ditado: “seu passado te condena.”
E na outra ponta temos Justin Kemp, que vive o maior dos dilemas do filme. Ele desde o início do julgamento tem dúvidas em relação à culpa de James, isso porque na noite do suposto assassinato de Kendall, estava presente no mesmo bar que o casal, e em um descuido ao dirigir, bate acidentalmente em alguma coisa. O local e o horário coincidem com o do caso em julgamento.
O dilema aqui é: ele revela que pode ter sido o responsável, mesmo sem intenção, da morte de Kendall e salva James da prisão e assim corre o risco de ser preso, ou mantém o segredo que o atormenta e condena o acusado, erroneamente, à prisão perpétua.
Uma pessoa é capaz de se condenar, de tirar sua própria liberdade para fazer o que correto, o que é justo? Para piorar a situação: Justin é um alcoólatra em reabilitação, que foi crucificado pelo seu passado e vendo o mesmo acontecendo com James: ex-integrante de gangue e com um histórico de agressão contra mulheres, ser condenado por isso. E se Justin for preso, passará o resto da vida longe de sua filha que está prestes a nascer.
Essa situação, esse dilema, cria um clima de tensão e angústia no protagonista e nas pessoas que estão assistindo ao filme. Eu mesmo, fiquei com um nó na garganta durante todo o longa-metragem, pensando que devemos fazer o certo, mas o correto pode condenar uma boa pessoa no final das contas.
“Jurado Nº 2” é um mais um ótimo filme dirigido por Clint Eastwood, e talvez por medo de ter prejuízo, a Warner decidiu mandá-lo direto para a Max e não ser exibido nos cinemas. Uma pena essa decisão e espero que o estúdio o lance no circuito cinematográfico, pois merece concorrer às premiações do ano que vem, principalmente ao Oscar.
Entendo que pela idade, a decisão de Clint Eastwood de se aposentar faça sentido, mas espero que esse não seja o último filme do ator e diretor, pois suas histórias são incríveis e emocionantes. E dito tudo isso, só posso afirmar que vale muito a pena assistir “Jurado Nº 2”!