SINOPSE: Inspirado no romance homônimo de Bentley Little, “O Consultor” é uma sátira sobre a péssima relação entre um empregado e seu patrão, que questiona o que somos capazes de fazer para sobreviver. Contratado como consultor para resgatar a empresa CompWare após uma grande fusão, o Sr. Regus Patoff (Christoph Waltz) gradualmente começa a liderar a empresa, fazendo exigências e desafios que vão colocar tudo em jogo, incluindo as próprias vidas dos funcionários.
As relações de trabalho e a extrapolação que advém delas, são assuntos até corriqueiros na produções televisivas e cinematográficas, sendo “The Office” e “O Diabo Veste Prada” alguns exemplos.
No final desse mês estreou na Amazon Prime Vídeo, “O Consultor”, que através da comédia e do suspense visa mostrar as relações abusivas entre empregador e empregado.
Após a morte do criador e diretor de uma empresa de jogos para celulares, o consultor Regus Patoff, interpretado pelo incrível Christoph Waltz, passa a comandar a companhia, tomando decisões que extrapolam qualquer limite ético. Já no primeiro episódio temos uma amostra disso, quando Patoff sai cheirando os funcionários por causa de um cheiro desagradável, que somente ele sente. O objetivo é claro: localizar o emissor do “futum” e demiti-lo para que o odor desagradável acabe.
Por mais que “O Consultor” use o humor para mostrar situações causadas por Regus Patoff, é fácil associarmos a algo que já presenciamos no serviço: solicitar que o empregado trabalhe fora do expediente ou pedir que tragam suas refeições. Podemos até dizer que essa situações são cotidianas” pois são comuns de acontecerem.
Além dessas situações, “O Consultor” mostra as reações dos funcionários e as consequências para eles. O personagem Craig (Nat Wolff) passa por todas as etapas desse processo abusivo. No começo, ao descobrir como Regus Patoff conquista seu cargo, Craig tenta, de posse de provas, derrubá-lo; mas percebendo que seus planos não dão certo, passa da revolta e indignação para uma apatia completa, chegando a sofrer da síndrome de Burnout: comendo mal, dormindo pouco e sonhando com o trabalho e as condições insalubres da companhia.
Mas um ponto legal de “O Consultor” é mostrar que o empregador não é o único vilão. Afinal se essa relação abusiva existe dentro da empresa é porque os funcionários permitem, seja por medo de perderem o emprego, seja por não se posicionar. Mas, nesse ponto até entendo, afinal também sou um assalariado de classe média e muitas vezes engolir sapo ou fazer vista grossa é necessário para não ser mais um desempregado.
Agora, talvez, pior que um chefe abusivo, são os funcionários que se sujeitam às demandas que extrapolam os limites do razoável para conseguir uma promoção ou um aumento salarial. E nesse ponto “O Consultor” traz Elaine (Brittany O’Grady) como exemplo. No começo da série ela se apresenta como assistente da gerência, mesmo não sendo, mas não tem seu esforço reconhecido pelo dono da companhia; que em algum momento, vê em Regus Patoff uma oportunidade de conquistar cargos mais elevados.
No início, Elaine até se ressente das coisas que Patoff faz ou pede, porém em seguida, começa a “passar pano” e depois a executar as ordens de Regus, mesmo as mais bizarras, para galgar posições de destaque na empresa.
É claro que o ponto focal de “O Consultor” é parodiar essas relações abusivas entre empregador e empregado, mas é válido destacar todo o mistério que circunda Regus Patoff. O seu nome já levanta dúvidas sobre quem o que ele é, já que Regus Patoff é a junção de “Reg. US Pat Off”, abreviação de Registered U.S. Patent Office (em tradução livre: Escritório de Registro de Patente dos Estados Unidos). Aliás essa “pessoa” ter esse nome faz todo o sentido, já que Regus, que é de origem germânica, significa governante e em alguns casos, conselheiro do rei.
As dúvidas sobre a real natureza de Regus só aumentam a cada novo detalhe revelado como por exemplo, leds que mudam para a cor vermelha quando ele está próximo ou pedir para um ourives fazer ossos de ouro em tamanho real de um homem adulto.
Essa estranheza e dúvidas que transpiram de Regus Patoff são frutos da atuação incrível de Christoph Waltz que entrega um personagem com movimentos, gestos e trejeitos afetados; e uma fisionomia que é debochada e inexpressiva ao mesmo tempo. O resultado é um Regus Patoff, que mesmo sendo um filha da p***, nos encanta e nos faz torcer, de certa forma, por ele, só para ver até onde Regus pode ir.
Sua atuação está no mesmo nível da que ele teve em “Bastardos Inglórios, quando interpretou Hans Landa, papel que lhe deu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
O final da temporada me agradou, pois além de deixar perguntas sem resposta sobre quem é Regus Patoff, ainda mostrou a impunidade que essas ações possuem e que pessoas que apoiam tais atitudes podem se beneficiar. Espero que a série tenha outras temporadas pois existe um campo muito vasto e fértil para ser explorado.
Pela mensagem que a série consegue transmitir através da comédia, que transforma situações sérias, em galhofa e bizarrice; além de um Christoph Waltz inspiradíssimo, que digo sem medo que vale a pena assistir “O Consultor”!
Ficha Técnica:
Título Original: The Consultant
Título no Brasil: O Consultor
Gênero: Suspense, Comédia
Temporadas: 1ª
Episódios: 8
Criadores: Tony Basgallop
Diretores: Matt Shakman, Dan Attias, Alexis Ostrander, Charlotte Brandström, Karyn Kusama
Elenco: Christoph Waltz, Nat Wolff, Brittany O’Grady, Aimee Carrero, Henry Rhoades, Tatiana Zappardino, Michael Charles Vaccaro, Rumur Kristina Knowles, Erin Ruth Walker, Julie Sidoni, Ryan Leckey, Catherine Christensen, Ryan Bravo, Sydney Mae Diaz, Sloane Avery, Dianne Doan, Jake Manley, Gloria John
Companhias Produtoras: Dolphin Black Productions, Illyria Entertainment, Minuet, 1.21 Pictures, Toluca Pictures, MGM Television, Amazon Studios
Transmissão: Amazon Prime Video