SINOPSE: Depois do final da segunda temporada, encontramos Marisa Coulter (Ruth Wilson) em uma ilha remota e Lyra (Dafne Keen) drogada e mantida como refém. Enquanto isso, Will (Amir Wilson) encontra dois anjos rebeldes que assumiram a forma humana, que querem que leve a faca sutil para lorde Asriel (James McAvoy). Will se recusa a acompanhá-los até encontrar Lyra o que força os anjos a ajudá-los. Em outro mundo, Lord Asriel continua recrutando pessoas para se juntarem ao seu exército contra a Autoridade.

Quando a HBO anunciou “His The Dark Materials”, adaptação de “Fronteiras do Universo”, fiquei interessado com o material promocional liberado. Então pesquisei mais sobe a trilogia de livros do escritor Philip Pullman, e vi que não era somente mais uma série literária com sua mistura de fantasia, religião e física.

Provavelmente devo ter falado nas resenhas sobre a primeira e segunda temporadas de “His The Dark Materials”, mas esqueça o filme “A Bússola de Ouro”, que apesar do elenco muito bom (Nicole Kidman, Daniel Craig, Eva Green, Sam Eliot, Freddie Highmore e Ian McKellen), é uma bosta.

Tendo dado o aviso, podemos voltar a falar da série da HBO.

A primeira temporada começa morna com uma protagonista que não me cativou logo de cara. Interpretada pela talentosa Dafne Keen, Lyra Belacqua não traz o carisma necessário para nos importarmos tanto com ela. O destaque desde a sua primeira aparição é Marisa Coulter, interpretada pela incrível Ruth Wilson. A vilã da temporada é odiosa, mas ao mesmo tempo tão interessante que apesar dos atos sórdidos que executa, queremos saber mais sobre ela e até onde pode ir sua maquinações.

A história da primeira temporada toma rumos mais adultos e tensos quando descobrimos o motivo do rapto das crianças pelo Magisterium e Marisa Coulter. E então, temos um desfecho totalmente inesperado quando Lorde Asriel (James McAvoy) abre um portal para outro universo, às custas do sacrifício de alguém muito querido para Lyra.

A segunda temporada tem uma melhora incrível na qualidade narrativa, trazendo uma história mais madura e que ganha em escala à medida que nossos personagens viajam pelos universos e descobrem o que é o pó, a matéria negra que dá nome à série. No desfecho do segundo ano, temos a aparição dos anjos e descobrimos os planos de Lorde Asriel: travar uma guerra contra a Autoridade.

A terceira temporada começa explicando que a Autoridade é um anjo e que na ausência de Deus, tomou para si o trono e o título de soberano de todas as realidades. Para manter o controle sobre o multiverso, temos as instituições religiosas que em cada dimensão tem um nome diferente, mas com o mesmo propósito: coibir o livre-arbítrio dos homens. E entre tantas organizações que trabalham para a Autoridade, temos o Magisterium, do universo de Lyra, e que está bem mais próxima de controlar a humanidade por completo, com seus experimentos envolvendo os daemons, que são as almas das pessoas que assumem a forma de animais.

Pesquisando, vi que o último livro da trilogia “Fronteiras do Universo”, “A Luneta Âmbar”, era o mais complexo e audacioso do escritor Philip Pullman. E assistindo à terceira temporada de “His The Dark Materials” isso fica bem evidente.

A começar pela sumiço de Deus, que ocasiona toda a repressão contra a humanidade, uma vez que a Autoridade é um anjo, e mesmo com imenso poder, teme que os homens não o adorem se descobrirem a verdade. Aqui temos uma metáfora bastante interessante, já que a série demonstra que quem está no poder teme o conhecimento, já que ele amplia os horizontes da mente humana, libertando-os de alegorias criadas para nos controlar.

Na terceira temporada, Lyra Belacqua é caçada implacavelmente pelo Magisterium, já que ela é a reencarnação de Eva e que de suas mãos pode vir a destruição da instituição religiosa e da própria Autoridade. Aqui vemos outra desconstrução alegórica, já que a primeira mulher comete sim o pecado original aos olhos dos Céus, mas a maçã representa a liberdade do homem.

O pó, ou a matéria negra, tão alardeada desde a primeira temporada, foi uma dádiva dada por Deus para os homens poderem evoluir e praticarem o livre-arbítrio. A Autoridade sabendo disso, tenta de todas as formas impedir a humanidade de saber mais a respeito dessa partícula que compõe tudo que existe no universo, inclusive a alma.

Poderia falar mais das alegorias que “His The Dark Materials” descontrói nessa temporada, como a da própria Autoridade, que tem sua origem bem menos divina e muito mais próxima de nós. Mas o que quero dizer com tantos exemplos (e provavelmente muitos spoilers) é que como no segundo ano, a série se transforma novamente em algo novo. E essa metamorfose no tom e nos elementos narrativos são os principais pontos positivos da terceira temporada e da série como um todo.

Além dos elementos narrativos, outro aspecto que chama bastante a atenção são as atuações de alguns atores e atrizes. James McAvoy aparece mais nessa terceira temporada, uma vez que vemos a construção de seu exército para derrotar a Autoridade, mas não é o seu melhor trabalho. 

Dafne Keen que lá na primeira temporada não convencia os espectadores do seu protagonismo, evoluiu ao longo do segundo ano e nesse capítulo final entrega uma personagem forte e carismática, que apesar de tudo que sofreu (e como sofreu ao longo de toda a série), não desiste e está disposta a encarar qualquer obstáculo para fazer o que é certo.

Amir Wilson, que interpreta Will Parry, o portador da faca sutil, uma invenção capaz de cortar qualquer coisa criada nos universos, das barreiras entre os universos e a própria Autoridade (aqui mais uma metáfora a respeito do livre-arbítrio, já que esse objeto demonstra o que o homem pode criar quando seu pensamento é liberto). Will que é meio água com chuchu na temporadas anteriores, consegue demonstrar sua importância para o desenrolar da trama.

Mas  é Ruth Wilson quem novamente se destaca. Marisa Coulter continua odiosa, mas seu imenso amor por Lyra a leva até mesmo a enfrentar se necessário, a Autoridade pessoalmente. Aconselho a assistir a série toda e prestar atenção aos detalhes e camadas que a personagem possui, fruto da atuação incrível da atriz. Raiva, ressentimento, tristeza e amor: todos os sentimentos estão presentes na melhor vilã desde Cersei Lannister.

O último ano de “His The Dark Materials” caminhava para ser perfeita e sem falhas, até o penúltimo episódio: “Montanha Nublada”. Nele vemos a Autoridade e seus anjos indo de encontro ao exército de Lorde Asriel. Ao longo de toda a temporada é construída a ameaça que o autointitulado “Deus” representa. E para ilustrar o tamanho do perigo que esse anjo é, ele resolve tirar o pó, a matéria negra dos universos e dessa forma lançar o home de volta à ignorância.

Apesar de bem construído e o embate entre Marisa Coulter e a Autoridade ser o ponto alto, achei a narrativa corrida demais. É como se os roteiristas se dessem conta que só quando estavam escrevendo o capítulo que só restava mais um episódio para encerrar a série. Para exemplificar isso cito a falta de desenvolvimento da revelação do que estava  escondido no cubo que servia de altar para a Autoridade.

Mas se o penúltimo episódio me pareceu corrido, o capítulo final é muito bem desenvolvido. Com o ritmo narrativo certo, vemos Lyra e Will tendo encarar as consequências da guerra contra a Autoridade. Os universos precisam se equilibrar novamente e para isso as coisas precisam retornar aos seus lugares originais, resultando em um final emocionante e triste para nosso casal de protagonistas.

Sabemos o quanto é difícil termos desfechos satisfatórios, mas “His The Dark Materials” entrega um dos melhores finais de séries que já assisti.

“His The Dark Materials” se tornou uma das minhas séries favoritas por crescer tecnicamente e narrativamente e de se transformar de uma temporada para outra. Dito tudo isso, vale muito a pena assistir “His The Dark Materials”!

Ficha Técnica:

Título Original: His The Dark Materials

Título no Brasil: His The Dark Materials

Gênero: Ficção Científica

Temporadas:

Episódios: 8

Criadores: Jack Thorne

Diretores: Amit Gupta, Charles Martin, Weronika Tofilska, Harry Wootliff

Elenco: Dafne Keen, Amir Wilson, Ruth Wilson, James McAvoy, Will Keen, Lewin Lloyd, Lin-Manuel Miranda, Ruta Gedmintas, Nina Sosanya, Jade Anouka, Simone Kirby, Andrew Scott, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Jonathan Aris, Chipo Chung, Kobna Holdbrook-Smith, Jamie Ward, Sian Clifford, Alex Hassell, Lia Williams, Simon Harrison, Amber Fitzgerald-Woolfe, Victoria Hamilton, Kit Connor, David Suchet, Joe Tandberg, Sope Dirisu, Lindsay Duncan, Kate Ashfield, Emma Tate, Patricia Allison, Tuppence Middleton, Lauren Grace, Sorcha Groundsell, Wade Briggs, Peter Wight

Companhias Produtoras: Bad Wolf, New Line Productions

Transmissão: HBO

Please follow and like us:

Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *