SINOPSE: Adaptação do romance homônimo de Erich Maria Remarque, “Nada de Novo no Front” segue o adolescente Paul Baumer e seus amigos Albert e Muller, que se alistam voluntariamente no exército alemão, movidos por uma onda de fervor patriótico. Mas isso é rapidamente dissipado quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Os preconceitos de Paul sobre o inimigo e os acertos e erros do conflito logo os desequilibram. No entanto, em meio à contagem regressiva, Paul deve continuar lutando até o fim, com nenhum objetivo além de satisfazer o desejo do alto escalão de acabar com a guerra com uma ofensiva alemã.
O cinema tem uma relação íntima quando o assunto é guerra. Na segunda Guerra Mundial, as salas de exibição estadunidense mostravam trechos filmados e notícias sobre os soldados do bem contra os nazistas do mal. E acredito, que seja justamente esse conflito a que mais têm filmes, sejam histórias fictícias ou baseadas fatos reais.
Porém, vi poucos filmes que se passam em outro conflito armado tão sangrento quanto o que se estendeu de 1939 a 1945: a Primeira Guerra Mundial. E dentro desse contexto histórico, assisti a “Nada de Novo no Front”, longa-metragem alemão lançado pela Netflix esse ano.
“Nada de Novo no Front” de 2022 é a segunda adaptação cinematográfica do livro homônimo de Erich Maria Remarque (a primeira versão foi lançada em 1930). Aqui acompanhamos Paul Baumer e seus amigos se alistando, empolgados, para o exército alemão, para derrotar os franceses.
A cena inicial mostra alemães retirando uniformes dos soldados mortos, para serem lavados e restaurados para serem entregues aos novos recrutas. Na sequência, temos Paul recebendo o uniforme e dizendo ao alistador que a roupa pertence a outra pessoa. O funcionário do exército retira a etiqueta com o nome e o devolve a Paul dizendo que provavelmente não coube no recruta anterior (detalhe: a farda está cheia de buracos de balas).
Destaquei essa sequência inicial para dizer que “Nada de Novo no Front”, logo de cara, tem como objetivo mostrar que os que estão lutando nas trincheiras são meras ferramentas para a conquista dos objetivos estabelecidos por aqueles que estão no poder.
O mais legal é que antes do primeiro terço do filme, acho que no primeiro ou segundo dia de Paul no exército, indo para as trincheiras, ele já percebe que foi enganado e que é mais certo encontrar sua morte do que glórias e honrarias.
E que lugar melhor que mostrar que soldados são apenas carne para abate do que as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, que causou cerca de 8 a 10 milhões de mortos, sendo que 1,8 milhão foram somente de alemães. As condições dessas grandes valas eram as piores possíveis. Logo a morte podia vir dos ataques inimigos (bombardeios, lançamento de morteiros, ataques de metralhadoras e bombas de gás tóxico), como também de doenças, fome e sede.
E nesse ponto, as trincheiras são muito bem retratadas em “Nada de Novo no Front”. Analisando o cenário é fácil ver que os responsáveis tiveram o cuidado de construir o cenário e utilizar mais efeitos práticos, com o CGI atuando para dar os retoques necessários (no final dessa resenha tem um vídeo com o making of do filme) Toda a sujeira e crueldade que esses locais representavam estão evidentes.
E entre as trincheiras, temos a terra de ninguém, local onde a morte anda mais livremente que em qualquer outro do front. E justamente nesse lugar que temos a cena mais emblemática do filme. Em um dos ataques, Paul se vê preso entre as trincheiras e acaba lutando e ferindo mortalmente um soldado francês. Nesse momento nosso protagonista percebe que tanto ele como seu oponente são iguais.
Indigestão e repulsa são sentimentos que são transmitidos como um soco na cara em “Nada de Novo no Front”. A todo momento o filme mostra a disparidade na situação dos soldados na trincheira e os líderes do exército. Enquanto Paul e seus colegas comem comida podre e bebem água suja nas trincheiras, generais e os que ditam o rumo da guerra comem refeições requintadas e saborosas em mansões e residências opulentas.
Todas as vezes que essa diferença de situação era mostrada, minha revolta chegava a níveis incontroláveis. O cúmulo é quando um diplomata tentando negociar um cessar-fogo reclama com um garçom que o seu ovo está frio e questiona a qualidade da suntuosa refeição (sendo que momentos antes vemos os amigos de Paul tomando água de rabanete pela milionésima vez).
O final do filme é previsível, mas não por isso, menos impactante. Os alemães aceitam se render, porém o líder do exército germânico ordena um ataque total antes do cessar-fogo. Além da revolta com esse general desgracado, que diz ter sido forjado nós campos de batalha mas não vai junto com seus soldados para o ataque final, vemos toda a pouca esperança de Paul acabar.
A tragédia está anunciada e você sabe qual será o destino de Paul, mas como em a “Espera de Um Milagre”, torci até o último minuto para que o desfecho da história fosse outro.
“Nada de Novo no Front” não tem o dinamismo narrativo de longas-metragens de Hollywood como “O Resgate do Soldado Ryan” ou “Até o Último Homem”, mas consegue mostrar como nenhum outro filme desse gênero, toda a crueza e sujeira que a guerra é para aqueles que estão nos campos de batalha.
Juro que assisti a “Nada de Novo no Front” esperando algo totalmente diferente. Esse impacto que me fez ficar revoltado e chorar várias vezes (e por vários minutos após o final do filme), foi uma surpresa indigesta, mas incrível.
Por sua crueza, por sua capacidade de mexer com meus sentimentos e fazer você refletir e pela surpresa que foi, é claro que vale muito, mas muito mesmo a pena assistir “Nada de Novo no Front”!
Ficha Técnica:
Título Original: Im Westen nichts Neues
Título no Brasil: Nada de Novo no Front
Gênero: Guerra, Drama
Duração: 148 minutos
Diretor: Edward Berger
Produção: Daniel Brühl, Daniel Marc Dreifuss, Malte Grunert, Clive Barker, Marc Toberoff, Lesley Paterson, Ian Stokell
Roteiro: Ian Stokell, Lesley Paterson, Edward Berger
Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Moritz Klaus, Adrian Grünewald, Edin Hasanovic, Daniel Brühl, Thibault de Montalembert, Devid Striesow, Andreas Döhler, Sebastian Hülk
Companhias Produtoras: Amusement Park
Distribuição: Netflix