SINOPSE: Situado mais de 200 anos antes dos eventos de “Game of Thrones” veremos a guerra civil que acontece enquanto Aegon II (Tom Glynn-Carney) e Rhaenyra (Emma D’Arcy) almejam o trono após a morte do pai Viserys I (Paddy Considine). Rhaenyra é a filha mais velha, contudo, Aegon é o filho homem de um segundo casamento, o que acaba gerando uma crescente tensão entre dois clãs Targaryen sobre quem tem o verdadeiro direito ao trono.
Game of Thrones” (ou simplesmente “GoT”) foi um fenômeno tanto na TV quanto nas plataformas de streamings, onde as pessoas não marcavam nada ou desmarcavam compromissos no horário de exibição aos domingos, onde estabelecimentos dos mais variados transmitiam em tempo real os episódios. E apesar da temporada final polêmica, “GoT” ainda é considerada uma das produções mais assistidas, premiadas e rentáveis da história a ponto de a HBO ter vários spin-offs planejados.
Um desses derivados é “A Casa do Dragão”, que veio como a produção carro-chefe da HBO em 2022 e para os próximos anos e que devido ao COVID, teve sua estreia atrasada. Esse atraso acabou sendo benéfico para a franquia, pois serviu como uma tentativa de esfriar os ânimos e diminuir a desconfiança dos fãs causadas pela última temporada de “GoT”,
Mas por que dentre tantos derivados planejados, “A Casa do Dragão” foi a escolhida para retornar à franquia? Porque além de falar dos Targaryen, uma das famílias mais amadas dos fãs juntamente com os Stark, é o período da história de Westeros que mais se aproxima do que vimos em em “GoT”: tramas palacianas, assassinatos, traições, alianças escusas e a iminência de uma guerra que promete levar sangue e fogo aos Sete Reinos.
“GoT” se baseia nas “Crônicas de Gelo e Fogo” que tem como um dos pilares narrativos os planos maquiavélicos entre as casas, enquanto “A Casa do Dragão” utiliza o livro “Fogo e Sangue”, que não leva tanto os conluios e as maquinações em consideração. Porém, isso não impediria do spin-off centrado nos Targaryen se alicerçar mais nas questões, me parecendo mais uma decisão criativa dos responsáveis pela série em não pesar tanto nesse tom mais cinza.
Outro ponto abrandando quando comparamos a série e o livro é a guerra entre o Verdes e os Negros (em uma alusão clara à Guerra das Rosas na Inglaterra). Na produção da HBO em muitos momentos vemos uma certa consciência pesada em determinados atos de Alicent (Olivia Cooke) e Rhaenyra (Emma D’Arcy) para conquistarem o Trono de Ferro. Na obra escrita por George R. R. Martin, a segunda esposa de Aegon II e primogênita do rei não medem esforços e não se arrependem das ações tomadas para se apossarem dos Sete Reinos.
Essa amenização na tensão entre os Verdes e Negros fica ainda mais evidente quando vemos um momento crucial para a guerra entre as duas faccões e que envolve os filhos de Rhaenyra e Alicent. Na série, a morte do rebento de um deles é mostrado como algo acidental, algo que saiu do controle, enquanto no livro temos algo premeditado e intencional.
Mas a mudança que mais me incomodou é o sonho de Viserys I (Paddy Considine), que ele chama de a Canção de Gelo e Fogo: um inverno vindouro que mergulharia o mundo na escuridão, e somente com um Targaryen no Trono de Ferro o mundo dos homens poderia esperar sobreviver. Essa profecia não existe em nenhum livro escrito por George R. R. Martin, ficando claro que a explicação para tal alteração é criar um elo entre “A Casa do Dragão” e “Game of Thrones”, forçando as pessoas a assistirem à série original.
Mas se faltou essa “sujeira” na trama, “A Casa do Dragão” apostou em algo que com certeza é um atrativo para os fãs de “GoT” e dos livros: dragões. Esse período da história de Westeros mostra que os Targaryen estão consolidados como governantes absolutos, já que são os únicos que podem domá-los e montá-los e ainda não existia nada capaz de vencer tais criaturas.
Ao todo, fomos apresentados a 10 dragões na primeira temporada. Eis os nomes deles e seus respectivos montadores: Caraxes e Daemon Targaryen (Matt Smith), Syrax e Rhaenyra Targaryen, Vhagar e Aemond (Leo Ashton/Ewan Mitchell), Meleys e Rhaenys Targaryen (Eve Best), Seasmoke e Laenor Velaryon (Theo Nate/John Macmillan), Dreamfyre e Rhaena Targaryen (Evie Allen / Phia Saban), Sunfyre e Aegon II (Tom Glynn-Carney), Vermax e Jacaerys Velaryon (Leo Hart / Harry Collett), Arrax e Lucerys Velaryon (Elliot Grihault) e Vermithor (sem montador). Balerion, conhecido como O Terror Negro, o maior e mais poderoso dragão criado por George R. R. Martin, já está morto na época retratada na série e só vemos seu crânio exposto na Fortaleza Vermelha. E mais deles estão vindo por aí, pois o livro apresenta 17 dessas criaturas.
Com relação ao elenco e atuações, a maioria entrega o necessário para o andamento da trama, mas alguns nomes se destacam. Eve Best traz a personagem feminina mais bem desenvolvida da série, ofuscando até mesmo as protagonistas, graças ao roteiro e sua interpretação segura. Rhys Ifans consegue dar a Otto Hightower a força e o poder capaz de comandar até mesmo o Trono de Ferro, mesmo não se sentano nele. Já Matt Smith conseguiu tornar Daemon Targaryen no cara mais cuzão e legal dos últimos tempos.
Porém meu maior destaque em relação aos personagens e atores fica por conta Viserys I Targaryen, interpretado por Paddy Considine. No começo da série somos apresentados a um rei fraco e manipulável, mais preocupado com festas e torneios do que com questões importantes dos Sete Reinos. Mas à medida que a temporada avança, percebemos que essa “bizonhice” na verdade é uma cortina de fumaça, uma vez que demonstra que sempre teve a força necessária para ser rei. Mas mais que isso, seu comportamento é para manter sua família unida, mostrando que não importa o problema ou a rixa, o que importa é os Targaryen permanecerem juntos. O desfecho de Viserys I é emocionante, tanto pela sua morte, mas por um momento envolvendo-o e Daemon, que mostra que apesar das desavenças entre eles, o amor entre os irmãos sempre predominou.
A primeira temporada termina com o tabuleiro armado para a guerra mais sangrenta e brutal dos Sete Reinos: um conflito que deu início a derrocada da família valiriana e à extinção dos dragões. O segundo ano de “A Casa dos Dragões!” deve finalmente mostrar todo o sangue e fogo existente quando Targaryen luta contra Targaryen.
Senti falta do tom mais cinza que “GoT” tinha, da “sujeira” que as pessoas que buscam o poder demonstram; mas pelo potencial que a história tem e pelo legado deixado por “Game of Thrones”, vale a pena assistir a primeira temporada de “A Casa dos Dragões”.
Ficha Técnica:
Título Original: House of Dragon
Título no Brasil: A Casa do Dragão
Gênero: Drama, Fantasia
Temporadas: 1ª
Episódios: 10
Criadores: Ryan J. Condal, George R. R. Martin
Produtores: Ryan J. Condal, Miguel Sapochnik, George R. R. Martin, Vince Gerardis, Casey Bloys, Greg Yaitanes
Diretores: Miguel Sapochnik, Greg Yaitanes, Clare Kilner, Geeta Vasant Patel
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D’Arcy, Rhys Ifans, Olivia Cooke, Steve Toussaint, Eve Best, Sonoya Mizuno, Fabien Frankel, Milly Alcock, Emily Carey, Graham McTavish, Harry Collett, Elliot Grihault, Jack Wheatley, Ryan Corr, Tom Glynn-Carney, Jefferson Hall, David Horovitch, John Macmillan, Ewan Mitchell, Matthew Needham, Phia Shaban, Gavin Spokes, Luke Tittensor, Elliott Tittensor
Companhias Produtoras: GRRM, Bastard Sword, 1:26 Pictures Inc., HBO Entertainment
Transmissão: HBO