SINOPSE: No futuro distante da humanidade, o duque Leto Atreides (Oscar Isaac) aceita a administração do perigoso planeta deserto Arrakis, a única fonte da “Melange”, a substância mais valiosa do universo que prolonga a vida humana e fornece níveis acelerados de pensamento. Embora saiba que a oportunidade é uma armadilha intrincada por seus inimigos, os Harkonnen, ele leva sua concubina Bene Gesserit, Lady Jessica, o filho e herdeiro Paul, e os conselheiros mais confiáveis para o planeta conhecido como Duna.
Existe um comentário que adaptações cinematográficas nunca são melhores que os livros, ainda mais quando esses livros são considerados ícones, pilares de seu gênero. “Duna” de Frank Hebert é uma dessas obras literárias.
Em 1984, o badalado diretor David Lynch adaptou “Duna” para os cinemas. O filme apesar das boas intenções foi um fracasso total de bilheteria e principalmente para os fãs, que viram uma produção bem aquém que o livro de Frank Hebert merecia.
Antes, na década de 1970, Alejandro Jodorowsky tentou levar às telonas o romance-mor de ficção científica, mas seu projeto não saiu do papel por ser ambicioso demais e por custar uma verdadeira fortuna para os padrões da época.
Em outubro de 2021, chegou aos cinemas a mais nova tentativa de adaptar “Duna” para os cinemas. E desde o anúncio que o longa-metragem seria produzido, as expectativas só aumentaram.
O primeiro fator que fez com que os fãs de “Duna” ficassem esperançosos, foi a contratação de Denis Villeneuve para dirigir o projeto. O diretor franco-canadense é dos nomes mais elogiados do cinema de ficção científica da atualidade, com ótimos filmes, entre eles “A Chegada” e “Blade Runner: 2049”. Mas Villeneuve tem no currículo longas-metragens de outros gêneros como o elogiadíssimo “Os Suspeitos” e o incrível e visceral “Sicário” (que até assistir “Duna” era meu filme preferido dele).
Com um currículo desses e por saber que “Duna” é o livro preferido de Denis Villeneuve, fiquei muito empolgado, pois sabia que ele iria respeitar o material original e faria o possível para levar aos cinemas uma produção à altura da obra de Frank Hebert. O resultado é um filme grandioso em todos os aspectos.
Começando pela forma de filmar que Villeneuve empregou, com ângulos abertos, cenários e locações (construídos ou em CGI) que dão uma sensação de amplitude. Por esse motivo, você precisa assistir “Duna” na maior tela possível para captar e imergir nessa vastidão que o longa-metragem proporcionar. Christopher Nolan é da mesma opinião, declarando: “A forma como este filme é feito é para a tela grande, absolutamente.”
Com excelentes cenários e locações associados ao ótimo CGI, “Duna” cria com excelência o mundo de Arrakis, bem como os demais planetas do império humano galáctico.
O trabalho de fotografia e iluminação retrata as diferenças entre os mundos mostrados em “Duna”. Caladan é um mundo com chuvas constantes e abundante em água. Dessa forma vemos locais com a luz difusa, ambientes escuros e céus nublados. Já Arrakis é claro e com espaços abertos e amplos dando a sensação de um lugar desértico.
Aqui faço uma ressalva pois quando li “Duna” tudo dava a entender que Arrakis é um mundo onde o calor e a escassez de água mata os homens em pouco tempo. Mas o filme não me passou essa sensação. Fiquei com a impressão de um lugar desértico, mas não tão inóspito e mortal como o que imaginei lendo a obra de Frank Hebert.
O elenco de “Duna” segue a grandiosadade que Denis Villeneuve quis mostras nas telonas, com nomes conhecidos e talentosos, precisando escrever outra resenha se fosse falar de cada um deles.
Oscar Isaac, Rebecca Ferguson e Javier Barden dispensam elogios, bem como Josh Brolin que já fez parceria com Villeneuve em “Sicário”. Zendaya é umas das grandes atrizes do cinema atual e faz juz a esse status no filme. Até mesmo os carismáticos Dave Batista(que fez uma participação especial em “Blade Runner: 2049”) e Jason Momoa tem uma ótima atuação em “Duna”.
Mas vou destacar dois atores dentro desse grandioso elenco: Stellan Skarsgård e Timothée Chalamet.
Apesar da fisionomia conhecida, demorei para perceber que era Stellan Skarsgård dando vida ao Barão Harkonnen. Todo o trabalho de maquiagem, associado ao talento do ator, dão vida ao assustador e terrível antagonista da Casa Atreídes.
Agora o maior acerto de contratação de “Duna” é Timothée Chalamet. Vi vários “entendidos” em cinema dizendo que o ator é extremamente talentoso. E os “entendidos” estavam certos, porque Timothée Chalamet é disparado o melhor em cena tornando Paul Atreídes o foco principal, o personagem que atrai todas as atenções, como um protagonista deve ser.
O figurino e o roteiro são outros elementos que dão suporte a grandiosadade de “Duna”. As vestimentas dos personagens são incríveis e algumas são exatamente o que imaginei ao ler o livro. O roteiro é muito bem escrito e tem o cuidado em tornar a história o centro do filme. A batalha pelo controle de Arrakis, as diferenças entre os povos de Duna, todas as lendas arquitetadas pelas Bene Gesserit, e outras tramas do livro estão fielmente traduzidas para o longa-metragem.
E por falar em fidelidade, fiquei impressionado com o cuidado que tiveram para criar os elementos apresentados no livro da forma mais fiel possível como o planador com suas asas que lembram uma libélula, o escudo que protege quem o usa de ataques rápidos, as naves espaciais.
Mas além de objetos e cenários existentes no livro, vale destacar o excelente trabalho em criar elementos mais intangíveis, como por exemplo a Voz, que é uma técnica das Bene Gesserit em influenciar as pessoas dando-lhes ordens com uma certa frequência sonora. Quando uma pessoa é ordenada a fazer algo pelo uso da Voz, é quase impossível resistir ao comando.
Mas o que mais me deixou boquiaberto foi a caixa utilizada pela Reverenda Madre Bene Gesserit para testar Paul Atreídes. Quando vi o elemento cinematográfico pensei: “Caralho, imaginei igualzinho!
“Duna” foi dividido em duas partes. E essa foi mais uma decisão acertada por parte dos responsáveis do filme pois o livro é muito complexo e uma adaptação em um único filme seria provavelmente um desastre igual ao longa-metragem de 1984.
A segunda parte, que já está confirmada pela Warner para 2023 e vai mostrar a transformação de Paul Atreídes em Lisan al-Gaib ou a Voz do Mundo. Acredito que esse segundo filme terá um tom mais religioso e messiânico, devido a essa virada na vida de Paul. Também devemos ver mais sobre os planos das Bene Gesserit, já que foram elas que arquitetaram a chegada do Mahdi, milhares de anos atrás.
“Duna” (Parte 1) só tem um elemento que me incomodou: a trilha sonora. Apesar de gostar dos arranjos musicais, em determinados momentos do filme achei as músicas meio fora de tom com o que estava sendo apresentado na telona.
Antes de dar meu veredicto é válido dizer que “Duna” é um filme linear e de narrativa mais cadenciada. O que quero dizer com isso é que a história tem um ritmo mais lento como o que vi em “A Chegada” e “Blade Runner: 2049” e mesmo os momentos de ação não são adrenalizados (não sei existe essa palavra, mas vou usá-la, hahahaha). Essa “lentidão” pode causar um pouco de aversão por parte das pessoas que preferem uma história.mais ágil.
Como disse, a primeira parte de “Duna” superou e muito minhas expectativas, pois pouquíssimas vezes vi um conjunção tão perfeita de elementos narrativos cinematográficos como observei nesse filme.
Grandioso como fazia tempo que não via nos cinemas, o filme confirmou minha apostas e vai figurar no Top 3 de Melhores Filmes de 2021.
Vale muito a pena ver “Duna”
Ficha Técnica:
Título Original: Dune
Título no Brasil: Duna
Gênero: Ficção Científica
Duração: 155 minutos
Diretor: Denis Villeneuve
Produção: Denis Villeneuve, Mary Parent, Cale Boyter,Joe Caracciolo Jr.
Roteiro: Jon Spaihts, Denis Villeneuve, Eric Roth
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Zendaya, David Dastmalchian, Chang Chen, Sharon Duncan-Brewster, Charlotte Rampling, Jason Momoa, Javier Bardem, Babs Olusanmokun, Benjamin Clementine, Golda Rosheuvel, Roger Yuan, Joelle Amery
Companhias Produtoras: Legendary Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures