SINOPSE: Kira Naváres seguiu seu sonho e foi atrás de descobrir novos mundos, tornando-se uma exploradora de planetas não colonizados. Durante uma missão de pesquisa de rotina, ela encontra uma relíquia alienígena. A princípio, ela fica maravilhada com a descoberta, mas logo esse sentimento se transforma em terror. Depois de cair em uma câmara no meio de um planeta desconhecido, a poeira ao seu redor começa a se mexer. Kira é lançada em uma odisseia de descobertas e transformações que atravessa a galáxia ao mesmo tempo em que uma guerra eclode em meio às estrelas. O primeiro contato com seres alienígenas não é como ela imaginava, e uma série de acontecimentos a levam até seu limite humano. A Terra e suas colônias estão à beira da aniquilação, e Kira, mesmo tendo que encarar seus próprios medos, se torna a última esperança da humanidade.

Quando vi a sinopse de “Dormir em Um Mar de Estrelas” sabia que precisava lê-lo. Esse tipo de ficção científica em que humanos encontram tecnologias, artefatos e até mesmo seres alienígenas ao desbravarem o espaço sempre me atraiu. Além disso, o fato de a editora Rocco dizer que a história iria agradar os fãs de “Alien” capturou a mim e a minha carteira, pois sou um grande fã da franquia cinematográfica.

O começo de “Dormir em Um Mar de Estrelas” é muito semelhante com “Alien: O Oitavo Passageiro”. Kira Navaréz é uma xenobióloga, integrante de uma equipe de exploração e terraformação de planetas. Nas vésperas de voltarem para casa, leituras estranhas fazer com Kira precise investigar uma formação rochosa. Mas o que parecia mais uma ronda de rotina, torna-se a descoberta acidental de um local subterrâneo construído por uma raça alienígena. Nesse local, Kira tem contato com uma espécie de poeira negra que gruda ao seu corpo.

Admito que quando acontece a simbiose dessa xenomatéria com Kira fiquei um pouco decepcionado, pois formei em minha mente uma história de pandemia que ameaçava varrer a vida na Liga dos Mundos Unidos. Mas essa decepção foi varrida à medida que a trama se desenvolvia.

A poeira negra me lembrou muito o simbionte que forma o Venom, um dos mais mortais e legais inimigos do Homem-Aranha, com sua capacidade e criar tentáculos, estacas e a forma como aderiu ao corpo de Kira. Não sei se essa foi a intenção de Christopher Paolini, mas se o escritor se inspirou no alienígena que se transformou no uniforme negro de Eddie Brock, digo que foi uma ótima ideia.

Sucedendo à descoberta do xenotraje, vemos o assassinato de todos os integrantes da equipe de Kira por parte dele, sua captura pelo MCMU, o surgimento de uma raça alienígena chamada Wranaui que resulta em combates diretos ou de suas espaçonaves. Quando vi tudo isso acontecendo nas primeiras 100 páginas e comparei com o tamanho do livro (quase 800 laudas e fontes pequenas parecidas com as das “Crônicas do Gelo e Fogo”), fiquei bastante preocupado. O motivo? Que o escritor e os editores tivessem recheado a obra do que chamo de “encheção de linguiça”: páginas e mais páginas que não servem para nada.

Mas Christopher Paolini vai inserindo novos elementos que não permitem que a leitura perca o ritmo. Inclusive em certo ponto, com o surgimento dos Pesadelos, “Dormir Em Um Mar de Estrelas” me lembrou muito “StarCraft”, que é um jogo de estratégia para PC. Essa associação se deve porque em determinado momento temos três raças lutando entre si, como no game.

Os humanos seriam os terranos em “StarCraft”: pessoas que começaram a explorar o universo graças a descoberta de tecnologias que os permitam viajar mais rápido que a luz. Os Wranaui se assemelham muito com os Protoss do game: evoluídos, desprovidos de um propósito individual, com uma preocupação maior com o coletivo da espécie. E os Pesadelos são uma espécie de praga, como os “Zergs” do jogo: de proliferação rápida, esses seres que parecem estar em carne viva só possuem o objetivo de se espalhar e contaminar toda a galáxia conhecida e além.

Mas a semelhança com “StarCraft” não para por aí, pois o xenotraje e outros artefatos encontrados pela galáxia foram construídos pelos “Antigos”, que em “StarCfraft” seriam os Xel’Naga: uma raça alienígena altamente avançada que deu origem a diversas outras espécies no universo e que inexplicavelmente sumiram.

Quando associei “Dormir Em Um Mar de Estrelas” com “StarCraft”, fiquei ansioso para que o destino de Kira fosse igual ao de Kerrigan, uma das protagonistas do game. E não me decepcionei, pois o desfecho da história da heroína do livro se assemelha muito ao de Kerrigan. Quer mais coincidências? Então toma: Kira em determinado momento é apelidada por Gregorovich, um cérebro de nave, de Rainha dos Espinhos; enquanto Kerrigan se torna a Rainha da Lâminas.

Além desse enredo riquíssimo, “Dormir Em Um Mar de Estrelas” tem bastante ação, com muitos combates corpo a corpo entre os humanos, os Wranaui e os Pesadelos, além de muito, mas muitos combates envolvendo naves estelares de todos os tipos e tamanhos. Lasers, mísseis, armas de camuflagem, Casaba Howitzers, manobras evasivas. Para quem gosta de espaçonaves batalhando no vácuo frio do universo, esse livro tem de sobra.

Uma coisa que me chamou bastante atenção nesse livro, é que Christopher Paolini criou todo um sistema interestelar. E ao final de cada parte do livro, temos ilustrações que mostram esses mundos e outros elementos espaciais. Esses esquemas gráficos vêm recheado de informações científicas e técnicas, que não sei o quanto são baseadas em métricas ou unidades de medidas cosmológicas reais, mas que conseguem passar uma sentimento de veracidade que enriquecem ainda mais a história.

No final do livro existe um apêndice explicando o FTL: uma forma de se viajar mais rápido que a luz e seus efeitos no espaço-tempo. Com uma linguagem bastante técnica (que não entendi porra nenhuma, hehehehe), Christopher Paolini fala sobre o Efeito de Markov, os espaços lumínico, sublumínico e superlumínico, o QET (a unidade formadora e tudo no universo), e por aí vai.

Como fã do Horror Cósmico, preciso dizer que “Dormir Em Um Mar de Estrelas” faz uma referência direta a Lovecraft, ao trazer o poderoso Ctein, um ser de proporções titânicas que é líder de uma das raças alienígenas.

Quanto aos personagens, só fui criar uma empatia com eles com o aparecimento da tripulação da Walfish. Falconi, Hwa-Jung, Nielsen, Trig, Sparrow, Vishal, Gregorovich e Itari, são pessoas e seres totalmente diferentes uns dos outros que formam o famoso grupo clichê de contrabandistas espaciais. Mas a forma com o escritor do livro os desenvolve, faz surgir um vínculo muito legal entre o leitor e eles. Inclusive, a própria Kira só ganha em carisma quando se junta a esse bando improvável.

Cuidado: spoiler!

Depois de mais de 700 páginas, “Dormir Em Um Mar de Estrelas” termina com Kira se transformando em algo mais que um humano, com as raças que agora coabitam a galáxia e em um frágil cessar-fogo, tendo que lidar com o Bucho e o recém-acordado Aspirante (uma das armas dos Antigos).

Christopher Paolini faz uma mistureba em “Dormir Em Um Mar de Estrelas” que dá muito certo. E depois de tanta coisa que aconteceu em um único livro, fico ansioso e assustado com o que ele vai trazer nos dois próximos volumes dessa obra. Ansioso por todos os ganchos que acabei de citar acima, e assustado por temer que o escritor não consiga manter o ritmo fenomenal que essa história trouxe até agora.

“Dormir Em Um Mar de Estrelas” recebeu o Goodreads Choice Awards como a melhor de ficção científica do ano de 2020. Prêmio merecido, pois o livro consegue trabalhar muito bem a ficção científica mais densa com aquela space opera pipoca que tanto amamos.

Sendo a minha melhor leitura de 2021, até o momento, é claro que vale muito a pena ler “Dormir Em Um Mar de Estrelas”!

Ficha Técnica:

Título Original: To Sleep in a Sea of Stars

Título no Brasil: Dormir Em Um Mar de Estrelas

Autor: Christopher Paolini

Tradutor: Ryta Vinagre

Capa: Comum

Número de páginas: 832

Editora: Rocco

Idioma: Português

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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