Séries – Helstrom (1ª Temporada)

“Helstrom” desde seu anúncio, e posteriormente com a liberação dos materiais promocionais, passou a sensação que assistiria uma série de terror. A confirmação veio nos primeiros episódios, ao apresentar uma fotografia e ambientes escuros.

O roteiro da série é voltado completamente para o terror. A família Helstrom é amaldiçoada desde a sua formação, devido ao “Pai”, que além de torturar e matar com extrema crueldade várias pessoas, é a personificação de um dos demônios mais poderosos do Inferno.

Nem mesmo a família Helstrom escapa da malevolência do “Pai”, ao cortar o peito de Daimon com uma adaga demoníaca, levar sua filha para assistir e participar dos seus assassinatos para depois enterrá-la viva e marcar Victoria (Elizabeth Marvel), que passa a ser possuída pela “Mãe”, uma entidade infernal poderosíssima.

“Helstrom” então trabalha com duas narrativas, sendo a primeira mostrando a caça de Ana pelo “Pai”, a fim de matá-lo e de Daimon trabalhando juntamente com a Igreja para exorcizar demônios e tendo que cuidar de Victoria, que está possuída há mais de 20 anos pela “Mãe”.

A segunda narrativa mostra a prole Helstrom tendo que lidar com seus traumas causados na infância pelo “Pai”. Daimon é introvertido, Ana é selvagem, mas ambos são irascíveis e sarcásticos. Após o sumiço do “Pai” e da internação de Victoria, acabam sendo criados separados, porque juntos são extremamente perigosos, o que gera uma relação conflituosa entre eles.

Essa dinâmica entre os irmãos Helstrom e a personalidade deles é explorada durante toda a primeira temporada, o que me desanimou bastante pois é algo bastante clichê. Já o perigo que pode vir da união entre Daimon e Ana é alardeado no começo (“Ninguém quer ver um encontro da família Helstrom.”), mas acaba sendo jogado no esquecimento.

Mesmo com essa relação clichê dos irmãos Helstrom, a série segue, até o sexto episódio, uma linha narrativa bastante interessante, com a presença perturbadora da “Mãe” e a presença etérea do “Pai”.

Até o sexto episódio acompanhamos um plano que envolve o possível retorno do “Pai” que pode literalmente transformar a vida de Daimon e Ana, e de todo o planeta, em um inferno. Então, em um ótimo plot twist, descobrimos que todas as maquinações não eram para a ascensão do patriarca Helstrom, mas de outro demônio.

A partir dessa reviravolta, “Helstrom” perde completamente o fôlego e passa a apresentar uma história confusa e desinteressante. Tramas são apresentadas e encerradas de forma insípidas como a luta de Daimon e Ana contra sua natureza demoníaca ou a presença de “O Sangue”, um grupo que emprega métodos radicais na luta contra os demônios.

Falando do grupo “O Sangue”, vale destacar um dos métodos que utilizam para combater a invasão demoníaca na Terra. Uma vez que o exorcismo não mata essas entidades, mas as devolve ao inferno, somente para voltar tempos depois, “O Sangue” rapta as pessoas possuídas e as coloca em coma, trancafiando os seres infernais em corpos inertes.

“Helstrom” termina deixando ganchos claros para uma segunda temporada: o nascimento da “Mãe”, o surgimento de um novo guardião, o ingresso de Gabriella Rossett (Ariana Guerra) para “O Sangue”. Mas a revelação mais esperada em “Helstrom” acontece nos minutos finais do último episódio, quando finalmente surge o “Pai” , interpretado por Mitch Pileggi.

Porém, a segunda temporada de “Helstrom” jamais verá a luz do dia ou as chamas do Inferno, pois em setembro de 2019, a Hulu disse que não prosseguiria com o desenvolvimento de “Ghost Rider” e em dezembro de 2020, dois meses depois da estreia da primeira temporada, “Helstrom” foi cancelada.

O cancelamento de “Helstrom”, apesar das críticas negativas e baixa audiência, tem motivos que envolvem a detenção do poder dentro da Marvel Entretenimento. Em 2016, era anunciado o filme dos “Inumanos”, mas Jeph Loeb, executivo que dividia os poderes decisórios juntamente com Kevin Feige, queria que fosse feita uma série. Surgia aí o cisma dentro da Marvel, com Jeph Loeb ficando responsável pela Marvel Televisão e Kevin Feige com o MCU.

Com pretensões grandiosas, “Inumanos” foi ao ar como série, com direito a filmagem em IMAX e exibição dos episódios de estreia nos cinemas. O resultado dessa empreitada: fracasso total e a derrocada de Jeph Loeb. A partir daí, outras séries televisivas foram sendo canceladas e Kevin Feige foi assumindo mais e mais controle sobre o que iria para a televisão.

Até que no final de 2019, a Marvel Televisão passou a ser comandada por Keivin Feige, tornando-o o todo-poderoso da Marvel, mandando e desmandando sobre o que iria ou não ser produzido, seja na TV, streaming ou cinema.

“Helstrom” é uma série que vai bem até o sexto episódio, mas depois desanda, pois deixa de ser uma série de terror, para ganhar ares de uma produção no moldes do MCU: menos sombria e mais heróica. Essa mudança no tom e seu cancelamento tem relação direta com Kevin Feige assumindo o controle criativo da Marvel Televisão.

Dito tudo isso, vale a pena assistir “Helstrom”? Até o sexto episódio, vale a pena.