SINOPSE: Ambientada entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, O Diabo de Cada Dia acompanha diversos e bizarros personagens num canto esquecido de Ohio, nos Estados Unidos. Cada um deles foi afetado pelos efeitos da guerra de diferentes maneiras. Entre eles, um veterano de guerra perturbado, um casal de serial killers e um falso pregador.

“O Diabo de Cada Dia” é baseado no livro “The Devil All the Time”, que foi publicado aqui no Brasil pela editora Darkside com o nome “O Mal Nosso de Cada Dia”. O longa-metragem veio cercado de expectativa, muito pelo excelente trabalho de marketing da Netflix, mas também pelo elenco envolvido: Tom Holland ,Bill Skarsgård, Riley Keough, Jason Clarke, Sebastian Stan, Haley Bennett, Eliza Scanlen, Mia Wasikowska e Robert Pattinson.

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O escritor Donald Ray Pollock traz um cenário que já vimos em outras obras literárias: cidadezinhas estadunidenses decadentes onde a perspectiva (quando existe) para quem mora nelas é a pior possível. Os personagens são sórdidos, seja por viverem nesses locais, seja por criação ou a mescla desses dois fatores. Mas a forma como o autor trabalha essas duas questões é impressionante, pois por mais que vejamos clichês narrativos, parece que estamos diante de algo novo e diferente. E quando comparo as impressões de que obtive lendo o livro com o que vi no filme, foram justamente esses dois fatores: a ambientação e os personagens, que me chamaram mais a atenção.

Em “O Diabo de Cada Dia”, apesar da narração inicial, as tramas se passam em locais de certa forma asseados e claros, onde luz do sol reina. Essa fotografia do filme me incomodou bastante, pois lendo o livro, sempre tive a sensação de que as cidades tão bem descritas por Donald Ray Pollock, são decadentes e sujas, onde o cinza e os céus encobertos predominam. Na obra literária somos transportados para cidades onde as perspectivas são as piores possíveis, e essa imersão do leitor ajuda a entender por que pessoas tão sórdidas vivem em tais localidades. Traduzindo em miúdos: no filme, a ambientação, que é um dos personagens mais importantes da história, é menosprezada e trabalhada muito mal.

No livro, acontecimentos na vida dos personagens são apresentados de forma a entendermos melhor porque preferem ou acabam por viver no espectro escuro da alma humana. Nesse ponto eu entendo a decisão do diretor, dos produtores e dos roteiristas em não se aprofundar demais nessas questões, pois teríamos um longa-metragem excessivamente longo (olha o trocadilho infame, hahahahah), porém sem esses pormenores, perdemos em profundidade e complexidade dessas personalidades, e o que vemos são pessoas rasas e genéricas. Ao focar na trama principal”, O Diabo de Cada Dia” estraga bons personagens como é o caso do xerife Lee Bodecker (Sebastian Stan) e a dupla Roy Laferty (Harry Melling) e Theodore (Pokey LaFarge), que acabam sendo mostrados apenas como peças para compor a história de Arvin Russell (Tom Holland).

O único personagem realmente bem trabalhado é Willard Russell, pois sua história é contada com todos os detalhes, por mais apressados que sejam em alguns momentos, como o que vemos no livro. Além disso, Bill Skarsgård mais uma vez demonstra todo seu talento e se sobressai em relação ao restante do elenco (que possui atores muito bons, como Jason Clarke e Robert Pattinson).

Mesmo que não tivesse lido o livro, chegaria na mesma conclusão de que “O Diabo de Cada Dia” é genérico. Mas como li a obra literária, minhas convicções só ficam piores, pois a Netflix, o diretor, os produtores e os roteiristas tinham uma ótima história nas mãos e não a souberam trabalhar, ou a trabalharam de forma leviana.

No quesito publicidade e marketing, a Netflix merece os parabéns, pois conseguiu criar uma expectativa altíssima em cima desse filme. Mas por conhecer como a história é desenvolvida no livro, me senti enganado e muito decepcionado com o longa-metragem. Por isso, só posso dizer que não vale a pena ver “O Diabo de Cada Dia”!

 

Ficha Técnica:

Título Original: The Devil All the Time

Título no Brasil: O Diabo de Cada Dia

Gênero: Suspense, Drama

Duração:138 minutos

Direção: Antonio Campos

Produção: Jake Gyllenhaal, Riva Marker, Randall Poster, Max Born

Roteiro: Antonio Campos, Paulo Campos

Elenco: Tom Holland ,Bill Skarsgård, Riley Keough, Jason Clarke, Sebastian Stan, Haley Bennett, Eliza Scanlen, Mia Wasikowska, Robert Pattinson, Harry Melling, Douglas Hodge, Pokey LaFarge, Tim Blake

Companhia(s) produtora(s): Nine Stories Productions, Bronx Moving Company

Distribuição: Netflix

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Publicado por Marcelo Santos

Quase biólogo, formado em Administração. Maníaco desde criança por filmes e séries. Leitor assíduo de obras de ficção, terror, fantasia e policial.

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