Malorie de Josh Malerman
SINOPSE: Doze anos se passaram desde que Malorie e os filhos atravessaram o rio com vendas no rosto, mas tapar os olhos ainda é uma regra que não podem deixar de seguir. Eles sabem que apenas um vislumbre das criaturas pode levar pessoas comuns a uma violência indescritível. Ainda não há explicação. Nenhuma solução. Tudo o que Malorie pode fazer é sobreviver… e transmitir aos filhos sua determinação. Não se descuidem, diz a eles. Fiquem vendados. E NÃO ABRAM OS OLHOS. Quando eles tomam conhecimento de uma notícia que parecia impossível, Malorie se permite ter esperança pela primeira vez desde o início do surto. Há sobreviventes. Pessoas que ela considerava mortas, mas que talvez estejam vivas. Junto dessa informação, porém, ela acaba descobrindo coisas aterrorizantes: em lugares não tão distantes, alguns afirmam ter capturado as criaturas e feito experimentos. Invenções monstruosas e ideias extremamente perigosas. Além disso, circulam rumores de que as próprias criaturas se transformaram em algo ainda mais assustador.
“Caixa de Pássaros” se tornou um fenômeno mundial, gerando uma legião de fãs apaixonados por Josh Malerman. Após esse sucesso foram lançados aqui no Brasil, “Piano Vermelho”, “Uma Casa no Fundo do Lago” e “Inspeção”, todos com uma boa tiragem de vendas. E em julho de 2020, em lançamento simultâneo com o resto do planeta, chegou as mão dos leitores brasileiros “Malorie”, continuação do tão aclamado livro de estreia do escritor.
A grande força-motriz da trama é a obsessão de Malorie com suas regras: fiquem vendados e não abram os olhos. Essa obsessão gera um verdadeiro conflito com seus filhos, que agora adolescentes, querem mais do que simplesmente viverem escondidos e com medo. A ideia de uma mulher transtornada, que persiste na ideia de que a única forma de proteger seus filhos é seguindo suas orientações de forma inquestionável é muito bem vendida pelo escritor, mas ela é repetida a exaustão. Se o objetivo de Josh Malerman é que ficássemos putos com Malorie, ele conseguiu, mas também teve êxito em tornar a leitura em uma atividade cansativa.
Agora se “Malorie” trabalha muito bem a obsessão da protagonista, ela peca miseravelmente em trazer o elemento que fez de “Caixa de Pássaros” um sucesso: a claustrofobia que os personagens sentiam e transmitiam de forma visceral ao leitor. Sempre me recordo do trecho da obra antecessora em que algumas pessoas, totalmente vendadas, estão vasculhando casas vizinhas e encontram uma barraca bem no meio da rua. A aflição e o medo deles nessa simples empreitada era palpável. O que quero dizer é simples: “Malorie” não tem nada, nenhum tiquinho dessa sensação claustrofóbica que experimentamos de forma tão vívida no livro anterior.
“Malorie” tem alguns pontos positivos, como a expansão do mundo criado por Josh Malerman em “Caixa do Pássaros”. As criaturas continuam sendo misteriosas tanto em sua razão de estarem entre nós como em sua aparência, porém o escritor atiça a curiosidade dos leitores, ao mencionar o “rosto-não-rosto” delas e o possível motivo de enlouquecermos ao vê-las. Aliás, é esse motivo de enlouquecermos que pode ser a solução para podermos observá-las sem perdermos a sanidade. Também gostei de uma revelação a respeito da filha de Malorie, que de certa forma é uma cura também para as gerações futuras.
Devo dizer que Josh Malerman sofre por causa do expressivo sucesso de “Caixa de Pássaros”, criando a expectativa de que suas obras subsequentes sejam tão boas ou melhores que seu livro de estreia. Mas por não trazer o sentimento claustrofóbico que vivenciamos no livro de estreia do escritor, coloco “Malorie” no mesmo patamar de Piano Vermelho” e “Uma Casa no Fundo do Lago”: produções literárias inferiores quando comparadas ao livro de estreia do escritor.
Uma “leitura surpreendente” é um adjetivo constantemente associado a escrita de Josh Malerman, e apesar de ainda precisar ler “Inspeção”, somente “Caixa de Pássaros” realmente merece esse atributo. Dito isso, termino essa resenha dizendo que não vale a pena ler “Malorie”!
O Preço da Desonra de Hiroshi Hirata
SINOPSE: Em um determinado período do xogunato no Japão, as lutas travadas nos territórios em conflito começaram a ser negociadas e ganharam contornos econômicos, quando honra, tradição e glória foram substituídas pelo comércio puro e simples. Por meio de uma barganha firmada após o resultado de um combate de espadas, o derrotado podia manter a cabeça sobre o pescoço… Desde que pagasse a quantia certa para tanto.
Hiroshi Hirata é um nome que chegou a pouco tempo no Brasil, mas que é cultuado como um dos maiores, se não o maior, mangaká do Japão quando o assunto é trazer histórias sobre a vida dos samurais e do bushido. Além de seus mangás, ele também é conhecido por usar caligrafia elaborada para os diálogos (o logotipo em kanji de “Akira” de Katsuhiro Otomo, é obra sua).
Nossa concepção em relação aos samurais é de guerreiros honrados e virtuosos, combatentes ferozes e sem medo da morte. Em o “Preço da Desonra”, Hiroshi Hirata traz uma visão totalmente inusitada, mas real, em relação a eles: que até mesmo os “honoráveis” samurais, tem medo da morte e se submetiam a prática da promissória de sangue para permanecerem vivos. As promissórias de sangue eram papéis assinados com a palma da mão ensanguentada do samurai vencido no campo de batalha, onde ele se comprometia a pagar uma determinada quantia para que seu oponente não o matasse.
Além de mostrar que os samurais não eram pessoas que saíam dando tapas na cara da morte, Hiroshi Hirata também relata que a prática da promissória de sangue gerou um comércio, onde eram contratados os kubidais: samurais altamente treinados para cobrarem essas dívidas. E como se a humilhação desses guerreiros não fosse suficiente, conhecemos a extorsão muitas vezes praticadas pelos seus carrascos, que cobravam valores exorbitantes e impraticáveis para poupar a vida do oponente derrotado (afinal quando se está cortando até prego e soltando peido molhado, quero ver não dizer que vai pagar “um milhão de reais!”, hehehehehehehe).
Em “O Preço da Desonra”, acompanhamos kubidai Hanshiro, um tomador de promissórias contratado (no português claro, um cobrador). O mangá é dividido em histórias onde vemos esse tomador de promissórias envolvido em várias situações para receber essas dívidas contraídas no campo de batalha. Kubidai Hanshiro é um guerreiro altamente treinado e capaz de resolver qualquer problema para cumprir seu objetivo, até mesmo sobreviver a um tiroteio graças a seu chapéu a prova de balas.
A arte de Hiroshi Hirata é impressionante, e percebemos como o mangaká tem absoluto controle sobre o pincel e o nanquim. Algumas páginas são verdadeiras obras de arte e é válido ficar alguns minutos admirando essas laudas. Mas ao mesmo tempo que suas pinceladas são belíssimas, em alguns momentos o seu talento artístico acaba por causar uma poluição visual, o que torna a leitura confusa.
A edição da Pipoca & Nanquim é muito bem feita, com uma qualidade parecida com a que vemos em “Akira”: contra-capa, papel pólen bold 90 g/m² e páginas coladas e costuradas que evitam o esgarçamento do mangá ou a queda das laudas.
Me lembrei muito de “Tex” enquanto lia esse mangá, pois me diverti muito com as missões de Kubidai Hanshiro, igual a quando acompanhava as aventuras de Tex Willer. “O Preço da Desonra” é um excelente cartão de visitas para Hiroshi Hirata aqui no Brasil.
Vale a pena ler “O Preço da Desonra”!
Ficha Técnica:
Título Original: Malorie
Título no Brasil: Malorie
Autor: Josh Malerman
Tradutor: Alexandre Raposo
Capa: Comum
Número de páginas: 288
Editora: Intrínseca
Idioma: Português
Ficha Técnica:
Título Original: Kubidai Hikiukenin
Título no Brasil: O Preço da Desonra
Autor: Hiroshi Hirata
Desenhista: Hiroshi Hirata
Tradutora: Drika Sada
Capa: Comum
Número de páginas: 396
Editora: Pipoca e Nanquim
Idioma: Português